Mc 10, 35-45 (ou: 10, 42-45) – NÃO DOMINAR, MAS SERVIR: OS FILHOS DE ZEBEDEU
A Bíblia explicada em Capítulos e versículos-
O Amanhecer do Evangelho-
Reflexões, ilustrações e vídeo de Pe. Lucas de Paula Almeida, CM
XXIX Domingo do Tempo Comum -ANO BNÃO DOMINAR, MAS SERVIR: OS FILHOS DE ZEBEDEU

Reaparece hoje um assunto com o qual já nos encontramos nas páginas do Evangelho. E a ambição dos apóstolos de ocuparem os melhores lugares no reino do Messias. Eram ainda tão imperfeitos! Não descera ainda sobre eles o Espírito Santo.E desta vez Tiago e João vem apresentar explicitamente a Jesus sua pretensão. Vêm acompanhados de sua mãe, Salomé, esposa de Zebedeu. E, na redação de Mateus, é ela própria quem faz o pedido:“Dize que estes meus dois filhos se sentem um à tua direita e outro à tua esquerda no teu reino” (Mt 20, 21 ). É quase comovedor ver essa humilde mulher do povo pedir para os seus filhos o que lhe parecia ser o melhor para eles. Não estava pensando em responsabilidades de governo.Estava deslumbrada com a idéia de ver seus filhos sentados nos lugares de mais alta distinção no esplendor da corte. Já os antigos padres sab1am desculpar a audácia dessa mulher, que seguia os impulsos de seu coração materno.A resposta de Jesus é da mais alta sabedoria: “Não sabeis o que estais pedindo!Podeis beber o cálice que eu vou beber? Podeis ser batizados no batismo em que eu vou ser mergulhado?” (Mc 10, 38).Eles, na ânsia de ver atendido o que haviam pedido a Jesus, respondem que sim, sem nem bem compreender o alcance das palavras do Mestre. O cálice que Ele ia beber era o cálice dos sofrimentos da Paixão.Embora a palavra “cálice” se encontre usada muitas vezes como imagem para indicar a alegria – aliás, nós mesmos falamos em “taça dos prazeres” – o uso dos profetas consagrou a palavra para dizer de preferência o sofrimento, como quando se referem à taça da ira de Deus (Is 51, 17).Na agonia do Getsêmani, Jesus vai pedir ao Pai que – se possível – afaste dele o amargo cálice da Paixão, colocando, porém, acima de tudo, a vontade do Pai. E Jesus vai beber esse cálice até o fim. Da mesma forma o “batismo” em que Ele vai ser batizado é a imagem do mar de sofrimentos em que vai ser mergulhado.Tiago e João eram corajosos. Jesus Ihes havia dado até o curioso apelido de “Boanerges” que quer dizer “filhos do trovão” (Mc 3, 17); mas certamente nessa hora não sabiam o que estavam aceitando. Jesus aceitou sua oferta.Tiago morreu decapitado no ano de 44, por ordem de Agripa I.E João, embora tenha vivido mais que todos os apóstolos e tenha morrido no exílio da ilha de Patmos em idade muito avançada, passou também pelos tormentos do martírio.Há em Roma uma igreja dedicada a São João “ante Portam Latinam” – porque fica justamente em frente à porta Latina – onde ele foi mergulhado numa caldeira de óleo fervendo, sobrevivendo só por milagre de Deus. Encontra-se testemunho disso em São Jerônimo e em Tertuliano.É fácil calcular quanto as pretensões de Tiago e João tenham sido mal recebidas pelos outros apóstolos. Eles se irritaram grandemente contra os dois filhos de Zebedeu.Foi preciso que Jesus os chamasse a todos e fizesse cair sobre eles as palavras de uma alta lição:”Sabeis como procedem os chefes das nações. Tratam-nas como senhores, e seus grandes exercem poder sobre elas. Convosco não há de ser assim. Aquele que quiser ser grande, seja o vosso servo, e quem quiser ser o primeiro, obedeça a todos os outros”. E coroou com esta sublime declaração: “Porque o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10, 42-45).

A Igreja guarda essa lição de Jesus com o maior carinho. E todo cristão sincero sabe que não está no mundo para dominar e subjugar os outros. Sabe, inclusive, que, quando ocupa um alto cargo na comunidade, não é para se prevalecer de seu poder, mas para estar a serviço de todos.Como que para comemorar a bela lição de Jesus, há uma praxe singular na Igreja: Em certos documentos da maior importância, o Papa se intitula “Servo dos servos de Deus”. A bula da convocação do Concílio Vaticano, por exemplo, do Papa João XXIII, começa assim: “João, Bispo, Servo dos Servos de Deus, para perpétua memória do acontecimento”. Somos todos servos de Deus. E o Papa quer estar a serviço de todos nós. Autoridade serviço. Isso é cristianismo!LEITURAS do XXIX Domingo do Tempo Comum- Ano B:

1ª – ls 53, 10–11.

2ª – Hb 4, 14-16.

3ª – Mc 10, 35-45 (ou: 10, 42-45).

(Marcos 10, 32-45) – O Terceiro anúncio da paixão e mostra a incoerência dos discípulos

https://youtu.be/snYVfPzxaBI
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O Amanhecer do Evangelho-
Reflexões, ilustrações e vídeo de Pe. Lucas de Paula Almeida, CM

1) Oração

Fazei, ó Deus, que os acontecimentos deste mundo decorram na paz que desejais, e a vossa Igreja vos possa servir, alegre e tranquila. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

1ª Leitura  Eclo 36,1-2.5-6.13-19

Eclo 36, 1 Tende piedade de nós, ó Deus de todas as coisas, olhai para nós, e fazei-nos ver a luz de vossa misericórdia! 2 Espargi o vosso terror sobre as nações que não vos procuram, para que saibam que não há outro Deus senão vós, e publiquem as vossas maravilhas!

Eclo 36, 5 para que reconheçam, como também nós reconhecemos, que não há outro Deus fora de vós, Senhor! 6 Renovai vossos prodígios, fazei milagres inéditos,                           Eclo 36, 13 Reuni todas as tribos de Jacó, para que saibam que não há outro Deus senão vós, e publiquem vossas maravilhas! Tomai-as como herança, assim como eram no começo. 14 Tende piedade de vosso povo, que é chamado pelo vosso nome, e de Israel, que tratastes como vosso filho primogênito. 15 Tende piedade da cidade que santificastes, de Jerusalém, cidade do vosso repouso. 16 Enchei Sião com vossas palavras inefáveis, e o vosso povo com a vossa glória. 17 Dai testemunho em favor daqueles que são vossas criaturas desde a origem. Tornai verdadeiros os oráculos que proferiam os antigos profetas em vosso nome. 18 Recompensai aqueles que vos esperam pacientemente, a fim de que vossos profetas sejam achados fiéis. Ouvi as orações de vossos servos. 19 Segundo as bênçãos dadas a vosso povo por Aarão, conduzi-nos pelo caminho da justiça, para que todos os habitantes da terra saibam que vós sois o Deus que contempla os séculos.

2) Leitura do Evangelho (Marcos 10, 32-45)                       32Estavam a caminho de Jerusalém e Jesus ia adiante deles. Estavam perturbados e o seguiam com medo. E tomando novamente a si os Doze, começou a predizer-lhes as coisas que lhe haviam de acontecer: 33“Eis que subimos a Jerusalém e o Filho do homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas; condená-lo-ão à morte e entregá-lo-ão aos gentios. 34Escarnecerão dele, cuspirão nele, açoitá-lo-ão, e hão de matá-lo; mas ao terceiro dia ele ressurgirá.

                           35Aproximaram-se de Jesus Tiago e João, filhos de Zebedeu, e disseram-lhe: “Mestre, queremos que nos concedas tudo o que te pedirmos.” 36“Que quereis que vos faça?” 37“Concede-nos que nos sentemos na tua glória, um à tua direita e outro à tua esquerda.” 38“Não sabeis o que pedis, retorquiu Jesus. Podeis vós beber o cálice que eu vou beber, ou ser batizados no batismo em que eu vou ser batizado?”39“Podemos”, asseguraram eles. Jesus prosseguiu: “Vós bebereis o cálice que eu devo beber e sereis batizados no batismo em que eu devo ser batizado. 40Mas, quanto ao assentardes à minha direita ou à minha esquerda, isto não depende de mim: o lugar compete àqueles a quem está destinado.”
                                      41Ouvindo isto, os outros dez começaram a indignar-se contra Tiago e João. 42Jesus chamou-os e deu-lhes esta lição: “Sabeis que os que são considerados chefes das nações dominam sobre elas e os seus intendentes exercem poder sobre elas. 43Entre vós, porém, não será assim: todo o que quiser tornar-se grande entre vós, seja o vosso servo; 44e todo o que entre vós quiser ser o primeiro, seja escravo de todos. 45Porque o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em redenção por muitos.”
                                            3) Reflexão Mc 10,32-45

* O evangelho de hoje traz o terceiro anúncio da paixão e, novamente, como nas vezes anteriores, mostra a incoerência dos discípulos (cf. Mc 8,31-33 e Mc 9,30-37). Enquanto Jesus insistia no serviço e na doação entregando sua vida, eles continuavam discutindo os primeiros lugares no Reino, um à direita e outro à esquerda do trono. Ao que tudo indica, os discípulos continuavam cegos! Sinal de que a ideologia dominante da época tinha penetrado profundamente na mentalidade deles. Apesar da convivência de vários anos com Jesus, eles ainda não tinham renovado sua maneira de ver as coisas. Olhavam para Jesus com o olhar antigo. Queriam uma retribuição pelo fato de seguir a Jesus.

Marcos 10,32-34O terceiro anúncio da paixão

Eles estão a caminho de Jerusalém. Jesus vai na frente. Ele tem pressa. Sabe que vão matá-lo. O profeta Isaías já o tinha anunciado (Is 50,4-6; 53,1-10). Sua morte não é fruto de um destino cego ou de um plano já preestabelecido, mas é conseqüência do compromisso assumido com a missão que recebeu do Pai junto aos excluídos do seu tempo. Por isso, Jesus alerta os discípulos sobre a tortura e a morte que ele vai enfrentar lá em Jerusalém. Pois o discípulo deve seguir o mestre, mesmo que for para sofrer com ele. Os discípulos estavam espantados, e aqueles que iam atrás estavam com medo. Não entendem o que está acontecendo. O sofrimento não combinava com a idéia que eles tinham do messias.

Marcos 10,35-37pedido pelo primeiro lugar

Os discípulos não só não entendem, mas continuam com suas ambições pessoais. Tiago e João pedem um lugar na glória do Reino, um à direita e outro à esquerda de Jesus. Querem passar na frente de Pedro! Não entenderam a proposta de Jesus. Estavam preocupados só com os próprios interesses. Isto reflete a briga e as tensões que existiam nas comunidades, no tempo de Marcos, e que existem até hoje nas nossas comunidades. No evangelho de Mateus é a mãe de Tiago e João que faz o pedido pelos filhos (Mt 20,20). Provavelmente, diante da situação difícil de pobreza e desemprego crescente daquela época, a mãe intercede pelos filhos e tenta garantir um emprego para eles na vinda do Reino de que Jesus falava tanto.

Marcos 10,38-40A resposta de Jesus

Jesus reage com firmeza: “Vocês não sabem o que estão pedindo!” E pergunta se eles são capazes de beber o cálice que ele, Jesus, vai beber, e se estão dispostos a receber o batismo que ele vai receber. É o cálice do sofrimento, o batismo de sangue! Jesus quer saber se eles, em vez do lugar de honra, aceitam entregar a vida até à morte. Os dois respondem: “Podemos!” Parece uma resposta da boca para fora, pois, poucos dias depois, abandonaram Jesus e o deixaram sozinho na hora do sofrimento (Mc 14,50). Eles não têm muita consciência crítica, nem percebem sua realidade pessoal. Quanto ao lugar de honra no Reino ao lado de Jesus, quem o dá é o Pai. O que ele, Jesus, tem para oferecer é o cálice e o batismo, o sofrimento e a cruz.

Marcos 10,41-44Entre vocês não seja assim 

 Neste final da sua instrução sobre a Cruz, Jesus fala, novamente, sobre o exercício do poder (Mc 9,33-35). Naquele tempo, os que detinham o poder no império romano não prestavam conta ao povo. Agiam conforme bem entendiam (Mc 6,17-29).

O império romano controlava o mundo e o mantinha submisso pela força das armas e, assim, através de tributos, taxas e impostos, conseguia concentrar a riqueza dos povos na mão de poucos lá em Roma. A sociedade era caracterizada pelo exercício repressivo e abusivo do poder. Jesus tem outra proposta. Ele diz: “Entre vocês não deve ser assim! Quem quiser ser o maior, seja o servidor de todos!” Ele traz ensinamentos contra os privilégios e contra a rivalidade. Inverte o sistema e insiste no serviço como remédio contra a ambição pessoal. A comunidade deve apresentar uma alternativa para a convivência humana.

Marcos 10,45O resumo da vida de Jesus 

Jesus define a sua missão e a sua vida: “O Filho do Homem não veio para ser servido mas para servir e dar sua vida como resgate em favor de muitos”. Jesus é o Messias Servidor, anunciado pelo profeta Isaías (cf. Is 42,1-9; 49,1-6; 50,4-9; 52,13-53,12).

Aprendeu de sua mãe que disse ao anjo: “Eis aqui aserva do Senhor!” (Lc 1,38). Proposta totalmente nova para a sociedade daquele tempo.

Nesta frase em que ele define sua vida, transparecem os três títulos mais antigos, usados pelos primeiros cristãos para expressar e comunicar aos outros o que Jesus significava para eles: Filho do Homem, Servo de Javé, Resgatador dos excluídos (libertador, salvador). Humanizar a vida, Servir aos irmãos e irmãs, Acolher os excluídos.

4) Para um confronto pessoal

  1. Tiago e João pediram o primeiro lugar no Reino. Hoje, muita gente reza a Deus pedindo dinheiro, promoção, cura, êxito. E eu, o que busco na minha relação com Deus e o que peço a Ele na oração?

  2. Humanizar a vida, Servir aos irmãos e irmãs, Acolher os excluídos. É o programa de Jesus, é o nosso programa. Como estou realizando?

5) Oração final

O Senhor manifestou sua salvação, aos olhos dos povos revelou sua justiça. Lembrou-se do seu amor e da sua fidelidade à casa de Israel (Sl 97, 2-3)