EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

O AMANHECER DO EVANGELHO

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

XXIII- DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C

TER CORAGEM DE RENUNCIAR

TER CORAGEM DE RENUNCIAR – XXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C –

Qualquer leitor menos avisado não pode deixar de assustar-se, quando lê no evangelho de São Lucas estas palavras: “Se alguém vem a mim e não odeia sua mulher, seus filhos, seus irmãos, suas irmãs e até sua própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,26).

Será que Cristo pede de nós uma coisa tão desumana como odiar a própria família? É preciso entender! O verbo “odiar” está no lugar de “amar menos”, “ser desapegado” . São Lucas. Que escreve em excelente língua grega, serviu-se, no entanto, de várias fontes, e paga às vezes o tributo à língua das fontes que usou.

E neste caso está usando a linguagem hebraica está usando a tributo à língua das fontes que usou. E neste caso está usando a linguagem hebraica, na qual não há certos matizes de nossas línguas ocidentais. “Odiar” é, portanto, aqui um semitismo. O que Jesus quer dizer é que ninguém pode amar seu pai, sua mãe, sua família, ou mesmo sua própria vida, não podemos titubear. Cristo está acima de tudo.

O Evangelho é sublimemente exigente. Por ele somos instalados a renunciar a tudo o que nos pudesse afastar-se de Cristo. Pelo Senhor Jesus temos que estar dispostos a carregar nossa cruz, acompanhando-o na subida do calvário como Simão Cirineu: “Todo aquele que não carrega a sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo ” (ibid. v 27).

Não há cristianismo sem cruz e sem renúncia. Não uma renuncia fria como era a da filosofia dos estóicos. Não uma renuncia cheia de amargura, como a daqueles que não tem esperança. Mas uma renuncia acolhida com amor, para uma finalidade mais alta do que aquilo a que se renuncia. Ninguém mais alto que Cristo, ninguém merece maior amor do que Ele. E, seguindo a Ele, temos certeza de estar a caminho da felicidade definitiva, diante da qual tudo o mais perde seu valor. O que fez São Paulo dizer: “Os sofrimentos do tempo presente não tem proporção com a gloria que deveria revelar-se em nós” (Rom 8,18).

O interessante do cristianismo é que , sendo tão exigente e como que radical, não é opressor. Traz um sentido de liberdade e de alegria. É que os cristãos são iluminados pela luz da esperança. Uma luz que vem lá do futuro, e que clareia o tempo presente.

Vou dando meus passos entre as renúncias e as cruzes que a fidelidade a Cristo exige de mim, mas tenho a certeza que Ele não me decepcionará. Ele prometeu o cêntuplo na outra vida para aqueles que tiverem deixado generosamente todos os bens desta terra. É o que experimentaram os apóstolos e todos os que seguiram deforma radical o convite do Evangelho. E promete a doce presença da Providência Divina para todos aqueles que tiverem sabido usar com parcimônia os bens terrenos, mesmo sem uma renúncia radical como a que acontece na vida consagrada. Somando as várias lições do Evangelho, vamos aprendendo que o importante é juntar tesouros para o céu, onde a ferrugem não gasta, nem a traça consome, nem os ladrões roubam.

Neste mundo de consumismo em que estamos vivendo, torna-se muito atual a pregação da renúncia. Não podemos nos deixar dominar pelo dinheiro e pela tentação do bem-estar a qualquer custo, como parece estar no ideal de muita gente.

Tem que haver permanentemente em nós a capacidade da renúncia, colocando a sobriedade como norma cristã de nosso procedimento, e o desprendimento do dinheiro como fonte de tranqüilidade espiritual e condição para podermos ajudar os irmãos necessitados.

Um mundo sem ganância é o ideal do Evangelho. Entre as mais amáveis páginas do evangelho de São Mateus está aquela em que Jesus nos convida a olhar para as aves do céu, que não semeiam, nem colhem, nem acumulam grãos em celeiros, e, no entanto o Pai do céu não lhes deixa faltar alimento.

E nos manda olhar para os lírios do campo, que não fiam nem tecem, mas o Pai do Céu lhes dá veste mais esplêndidas do que as que usava Salomão no esplendor de sua corte. É lição permanente para nós, a fim de trocarmos a ambição dos bens da terra pela sobriedade dos filhos de Deus. Sobriedade premiada pela confiança e pela alegria.

LEITURAS do XXIII Domingo do Tempo Comum -Ano C:
1a) Sb 9,13-19
2a) FI 9b-10. 12-17
3a) Lc 14, 25-33

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

O AMANHECER DO EVANGELHO

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

DOMINGO DA XXVIII SEMANA DO TEMPO COMUM

1) Oração

Ó Deus de poder e misericórdia, que concedeis a vossos filhos e filhas a graça de vos servir como devem, fazei que corramos livremente ao encontro das vossas promessas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

2) Leitura do Evangelho (Lucas 14, 25-33)

 Naquele tempo, 25Muito povo acompanhava Jesus. Voltando-se, disse-lhes: 26Se alguém vem a mim e não odeia seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos, suas irmãs e até a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. 27E quem não carrega a sua cruz e me segue, não pode ser meu discípulo. 28Quem de vós, querendo fazer uma construção, antes não se senta para calcular os gastos que são necessários, a fim de ver se tem com que acabá-la? 29Para que, depois que tiver lançado os alicerces e não puder acabá-la, todos os que o virem não comecem a zombar dele, 30dizendo: Este homem principiou a edificar, mas não pode terminar. 31Ou qual é o rei que, estando para guerrear com outro rei, não se senta primeiro para considerar se com dez mil homens poderá enfrentar o que vem contra ele com vinte mil? 32De outra maneira, quando o outro ainda está longe, envia-lhe embaixadores para tratar da paz. 33Assim, pois, qualquer um de vós que não renuncia a tudo o que possui não pode ser meu discípulo. – Palavra da salvação.

3) Reflexão   Lucas 14,25-33  (Mt 10,37-38)

*  O evangelho de hoje fala sobre o discipulado e apresenta as condições para alguém poder ser discípulo ou discípula de Jesus. Jesus está a caminho de Jerusalém, onde vai ser preso e morto na Cruz. Este é o contexto em que Lucas coloca as palavras de Jesus sobre o discipulado.

*  Lucas 14,25: Exemplo de catequese

O evangelho de hoje é um exemplo bonito de como  Lucas transforma as palavras de Jesus em catequese para o povo das comunidades. Ele diz: “Grandes multidões acompanhavam Jesus. Voltando-se, ele disse”. Jesus fala para as grandes multidões, isto é, fala para todos, inclusive para o povo das comunidades do tempo de Lucas e inclusive para nós hoje. No ensinamento que segue, ele coloca as condições para alguém poder ser discípulo de Jesus.

*  Lucas 14,25-26: Primeira condição: odiar pai e mãe

Alguns diminuem a força da palavra odiar e traduzem  “dar preferência a Jesus acima dos pais”. O texto original usa a expressão “odiar os pais”. Em outro lugar Jesus manda amar e honrar os pais (Lc 18,20).

Como explicar esta contradição? Será que é uma contradição? No tempo de Jesus a situação social e econômica levava as famílias a se fechar sobre si mesmas e as impedia de cumprir a lei do resgate (goel), isto é, de socorrer os irmãos e as irmãos da comunidade (clã) que estavam ameaçados de perder sua terra ou de cair na escravidão (cf. Dt 15,1-18; Lev 25,23-43).

Fechadas sobre si mesmas, as famílias enfraqueciam a vida em comunidade. Jesus quer refazer a vida em comunidade. Por isso pede que se rompa a visão estreita da pequena família que se fecha sobre si mesma e pede para que as famílias se abram e se unam entre si na grande família, na comunidade.

Este é o sentido de odiar pai e mãe, mulher filhos, irmãos e irmãs. Jesus mesmo, quando os parentes da sua pequena família queiram leva-lo da volta para Nazaré, não atendeu ao pedido deles. Ignorou ou odiou o pedido deles e alargou a família, dizendo: “Meu irmão, minha irmã, minha mãe é todos aquele que faz a vontade do Pai” (Mc 3,20-21.31-35). Os vínculos familiares não podem impedir a formação da Comunidade. Esta é a primeira condição.

Lucas 14,27: Segunda condição: carregar a cruz

“Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo”. Para entender bem o alcance desta segunda exigência devemos olhar o contexto em que Lucas coloca esta palavra de Jesus. Jesus está indo para Jerusalém onde será crucificado e morto.

Seguir Jesus e carregar a cruz atrás dele significa ir com ele até Jerusalém para ser crucificado com ele. Isto evoca a atitude das mulheres que “haviam seguido a Jesus e servido a ele, desde quando ele estava na Galiléia. Muitas outras mulheres estavam aí, pois tinham subido com Jesus a Jerusalém” (Mc 15,41). Evoca também a frase de Paulo na carta aos Gálatas: “Quanto a mim, que eu não me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio do qual o mundo foi crucificado para mim, e eu para o mundo. Crucificado para o mundo” (Gl 6,14)

Lucas 14,28-32: Duas parábolas

As duas têm o mesmo objetivo: levar as pessoas a pensar bem antes de tomar uma decisão. Na primeira parábola ele diz: “Se alguém de vocês quer construir uma torre, será que não vai primeiro sentar-se e calcular os gastos, para ver se tem o suficiente para terminar? Caso contrário, lançará o alicerce e não será capaz de acabar. E todos os que virem isso, começarão a caçoar, dizendo: Esse homem começou a construir e não foi capaz de acabar!” Esta parábola não precisa de explicação.

Ela fala por si: que cada um reflita bem sobre a sua maneira de seguir Jesus e se pergunte se calculou bem as condições antes de tomar a decisão de ser discípulo de Jesus.

A segunda parábola: “Se um rei pretende sair para guerrear contra outro, será que não vai sentar-se primeiro e examinar bem, se com dez mil homens poderá enfrentar o outro que marcha contra ele com vinte mil? 

Se ele vê que não pode, envia mensageiros para negociar as condições de paz, enquanto o outro rei ainda está longe”. Esta parábola tem o mesmo objetivo que a precedente. Alguns perguntam: “Como é que Jesus foi usar um exemplo de guerra?” A pergunta é pertinente para nós que conhecemos as guerras de hoje. Só a segunda guerra mundial (1939 a 1945) causou a morte de 54 milhões de pessoas! Naquele tempo, porém, as guerras eram como a concorrência comercial entre as empresas de hoje que lutam entre si para ter mais lucro.

Lucas 14,33: Conclusão para o discipulado

A conclusão é uma só: ser cristão, seguir Jesus, é coisa séria. Hoje, para muita gente, ser cristão não é opção pessoal nem decisão de vida, mas um simples fenômeno cultural. Não lhes passa pela cabeça de fazer uma opção. Quem nasce brasileiro é brasileiro. Quem nasce japonês é japonês. Não precisa optar. Já nasce assim e vai morrer assim. Muita gente é cristão porque nasceu assim e morre assim, sem nunca ter tido a idéia de optar e de assumir o que já é por nascimento.

4) Para um confronto pessoal

1) Ser cristão é coisa séria. Devo calcular bem minha maneira de seguir Jesus. Como isto acontece na minha vida?

2) “Odiar os pais”; Comunidade ou família! Como você combina as duas coisas? Consegue unir as duas em harmonia?

5) Oração final

O Senhor é minha luz e minha salvação; de quem terei medo? O Senhor é quem defende a minha vida; a quem temerei? (Sl 26, 1)