EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

O AMANHECER DO EVANGELHO

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

SÁBADO DA XVIII SEMANA DO TEMPO COMUM – ANO C

A TRANSFIGURAÇÃO E DESFIGURAÇÃO NA FAMÍLIA

FATO DA VIDA: TRANSFIGURAÇÃO E DESFIGURAÇÃO

Leonardo Da Vince, que pintou o quadro da Santa Ceia no convento das Graças, em Milão, saiu à procura de um modelo para o rosto de Cristo. Encontrou um jovem que revelava no rosto sua paz interior. Correspondia exatamente ao sonho do artista. Passaram-se anos. Faltava encontrar alguém para modelo de Judas, o apóstolo traidor. Era necessário um rosto que retratasse a vilania e a perversidade. Finalmente, apareceu alguém de acordo com os requisitos do pintor. Era um homem preso pela polícia em um ambiente sórdido. Foi levado ao atelier. Ao ver a obra inacabada, a fisionomia feroz do criminoso se descontraiu. Rompeu em prantos. Anos atrás serviria ele mesmo de modelo para a figura de cristo e agora se prestava a retratar a baixeza de Judas Iscariotes.

A PALAVRA DE DEUS:

“Jesus subiu a uma montanha para rezar, levando com ele Pedro Tiago e João. E quando ele estava rezando, o rosto Dele ficou todo mudado. E a roupa ficou toda branca e brilhante. Nisso, dois homens apareceram e começaram a conversar com Ele. Eram Moisés e Elias cercados da glória celestial. A conversa era sobre a morte que Jesus ia ter, em Jerusalém. Pedro e os seus companheiros estavam caindo de sono. Quando acordaram, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com ele. Quando esses já iam sumindo, Pedro disse a Jesus:” Mestre, como é bom a gente ficar aqui!  Vamos fazer 3 barracas: uma para o Senhor, outra para Moisés e outra para Elias, (ele nem sabia o que estava dizendo). Pedro ainda estava falando quando veio uma nuvem que cobriu todos eles. Como entraram na nuvem os discípulos ficaram com muito medo. Então ouviram uma voz que vinha da nuvem: “Este é o meu filho, o meu escolhido. Escutem o que ele diz”. Quando a voz terminou, Jesus estava sozinho. Os discípulos guardaram segredo daquilo naqueles dias e não contaram para ninguém o que tinham visto.( LC 9,28b-36)”.

EXPLICAÇÃO:

a)A CENA DA TRANSFIGURAÇÃO:

A cena evangélica da Transfiguração de Jesus no alto da montanha do Tabor, é celebrada duas vezes na liturgia: uma, no segundo domingo da quaresma e outra na festa de 6 de agosto. E é assim que nos encontramos de novo com essa luminosa página, em que Jesus oferece aos três discípulos prediletos – Pedro, Tiago e João uma espécie de amostra da glória futura. O cenário sugere o céu. A nuvem branca que envolve tudo é símbolo Bíblico da presença de Deus. A transformação que opera em Jesus dá um sinal da glória do corpo da ressurreição. Faz lembrar a visão do Filho do Homem do Apocalipse: vestido com uma túnica longa e cingido à altura do peito com um cinto de ouro. E os cabelos de Sua cabeça eram brancos, como lã branca, como neve; e seus olhos pareciam chamas de fogo (Ap 1,13ss). A voz do Pai Celeste se faz ouvir para proclamar o Filho, o eleito a quem deviam escutar ( Lc 9,35). E apareceram Moisés e Elias, como se fora a lei e os profetas a fazer guarda de honra do Evangelho. Conhecemos o texto que está nos três sinópticos, e sempre o lemos com novo prazer.

  1. b) MOISÉS É A LEI E  ELIAS A SANTIDADE:

São Lucas é que menciona o fato de Moisés e Elias conversarem com Jesus a respeito de Sua Pátria que se ia consumar em Jerusalém. De Seu êxodo, como é a palavra que Ele usa, insinuando que Jesus repete a história de seu povo (Ele é o Moisés) e vai passar, podemos dizer, pelo deserto do sofrimento da Paixão, ao encontro da glorificação final. O fato é que a transfiguração está unida à Paixão em mais de um sentido.

Estão unidas à paixão como uma espécie de revigoramento da fé dos discípulos, para que eles não se desencorajassem diante da humilhação da Paixão, mas acreditassem na promessa da Ressurreição. Por isso mesmo, Jesus, ao descer do monte, refere-se à ressurreição, ordenando-lhes: “Não conteis a ninguém esta visão, até que o Filho do Homem ressuscite dos mortos (17,9). E ainda noutro sentido a Transfiguração se relaciona com a Paixão no sentido que aquele momento de fulgurante alegria não devia desviar Jesus de sua missão de servo sofredor que Ele iria cumprir no Calvário. Nada de se fixarem ali no alto da montanha onde tudo estava tão agradável. A glória só viria depois da cruz. Lição também para nós. Deus nos dá de vez em quando momentos de céu nos quais gostaríamos de permanecer para sempre. Mas estamos ainda na terra.

 

  1. ESPERANÇA É UM EMPRÉSTIMO DA FELICIDADE:

Temos que cumprir nossa peregrinação, marcada pelo sofrimento. Devemos, no entanto, deixar que a esperança nos transfigure. A esperança é, como alguém já disse, um empréstimo de felicidade.  Da felicidade do céu. Como a luz da aurora anuncia o sol que vai nascer e tinge o céu de suave claridade, a alegria da esperança dá tons de aurora à nossa vida envolta ainda como está entre as sombras noturnas dos problemas e angústias da terra. Por isso mesmo, o verdadeiro cristão nunca se pode entregar à tristeza. Alegres na esperança é um dos pontos que São Paulo dá como receita para uma vida cristã vivida na fidelidade. (RM 12,12)  E convida os Tessalonicenses  a que não se deixem acabrunhar pelo pensamento da morte, como acontece com aqueles que não têm esperança (TS 4,13).

 

E ainda ouvimos o Evangelho em que Jesus diz a seus discípulos: “Alegrai-vos porque os vossos nomes estão inscritos no céu”. Notemos que essa esperança não se refere apenas ao ponto final de nossa chegada à casa da eternidade. Ela deve ir alimentando cada momento de nossa vida. Porque sabemos que Deus cuida de nós e nos vai assistindo com a graça da coragem e da sabedoria em todos os nossos passos. Passaremos por momentos de dor e de provação, mas o Pai do céu não nos abandona. Os santos são para nós sinais e modelos de esperança. A tristeza é má conselheira. Cultivar a alegria, essa que vem do mais profundo do ser em paz com Deus é fonte de coragem e de energia espiritual. Nosso lema poderia ser esse: “Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito: Alegrai-vos!” ( 15 ).

ANTES DA TRANFIGURAÇÃO

Certa vez, pouco antes da sua transfiguração, Jesus reuniu os discípulos e lhes perguntou: “Quem dizem os homens que eu Sou?”(Mc 8,27; Mt 16,13; Lc 9,18). A partir desse momento, muda o rumo dos acontecimentos, e notam-se diferenças profundas na atividade de Jesus. Diminuem os milagres: Na primeira fase de sua atividade entre o povo, Jesus fazia muitos milagres. Na segunda fase, os milagres são quase uma exceção. Marcos só refere dois, contra as dezenas de milagres na fase anterior. Mateus, igualmente, conhece os mesmos dois milagres mais um (Mt 17,14-21;20,29-34;17,24-27).

Lucas só conhece cinco milagres, isto é, os dois conhecidos por Marcos e Mateus e três outros só. Por que tantos milagres na primeira fase e tão poucos na segunda? Começa a alusão constante à Paixão: Na primeira fase só uma ou outra vez se fala da paixão como uma possibilidade futura. Agora, na segunda fase, a paixão é uma certeza, e dela se fala respectivamente. Jesus chega mesmo a fazer profecias da paixão (Mc 8,31-32;9,30-32;10,32-34). Muda a atitude para com o povo.

Antes, a grande preocupação de Jesus era o povo. Agora, na segunda fase a grande preocupação dele são os discípulos e a sua instrução. Muitas vezes, está a sós com eles e os vai instruindo. Faz até uma viagem ao exterior, na terra de Tiro e Sidão, para estar a sós com os discípulos. Fala pela primeira vez em Igreja (Mt 16,18).

Começa a falar da necessidade da cruz para os discípulos: Não só fala da sua própria paixão, mas igualmente da necessidade de a gente sofrer com ele. Insiste nas exigências duras para alguém poder ser o seu discípulo (Mt 16,24-28; Mc 8,34-38; Lc 9,23-27;14,27;17,33;12,9; Mc 10,28-31).

Antes, na primeira fase, não havia insistência na necessidade de se sofrer com ele. A perspectiva das parábolas é diferente: Na primeira parte, Jesus usa muitas parábolas, para com elas ilustrar o mistério do reino, enquanto deve realizar-se no futuro, através da Paixão e da Morte. A oposição dos fariseus se torna clara. Na primeira fase, existia uma certa oposição velada contra Jesus por parte dos líderes do povo.

Agora, na segunda parte, esta oposição se torna clara, aberta e irreversível. Essas são as diferenças que uma leitura atenta dos Evangelhos descobre entre a primeira e a segunda fase da atividade de Jesus.

 EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

(LECTIO DIVINA)

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

SÁBADO DA XVIII SEMANA DO TEMPO COMUM – ANO C

A TRANSFIGURAÇÃO E DESFIGURAÇÃO NA FAMÍLIA

O Evangelho nos mostrou Jesus subindo a uma montanha para rezar. Ele gostava de rezar sozinho, no alto das montanhas. Às vezes passava lá a noite inteira rezando. Desta vez, Ele levou 3 apóstolos com ele. Isto já nos ensina alguma coisa sobre a família. Jesus está ensinando que a gente precisa rezar sozinho, de quarto fechado. Mas precisa também rezar junto com a nossa família. Quando Jesus estava rezando, o rosto dele ficou todo mudado. Ficou desfigurado. E a roupa dele ficou brilhando de branca. Quando a gente está rezando junto com a família, Jesus faz a família toda ficar transfigurada. Muita coisa muda dentro de nossa casa. A gente tem mais amor, mais coragem, mais alegria, mais paz. Vamos ver aqui algumas coisas que mudam e se transfiguram na família que reza unida:

AS CONVERSAS:

Nem sempre as conversas que saem dentro de nossa casa, são conversas boas. Muitas vezes, a gente fala mal dos outros ou fica rindo dos defeitos alheios. Quantos boatos são espalhados nessas conversinhas: O Evangelho falou que a conversa de Jesus, Moisés e Elias era sobre a morte de Jesus. Será que em nossas casas a gente costuma conversar sobre Jesus? Contar para as crianças as histórias da Bíblia Sagrada e da vida dos santos? Bons exemplos que a gente vê na comunidade. Há tanta coisa boa para conversar. É preciso começar em nossa casa a viver a fraternidade em nossas conversas.

 

A CARIDADE:

Vamos começar em casa a viver mais a caridade com os irmãos necessitados. Foi o que fez São Pedro. São Pedro, em vez de pensar em si, pensou só nos outros. Ele queria fazer 3 barracas para os outros. Assim também, a família caridosa não se descuida de praticar a caridade com os necessitados. E isto transfigura a família toda aos olhos de Deus.

O SOFRIMENTO:

Toda família passa momentos de sofrimentos e aflições. A oração faz a gente não ficar com medo, quando chegar essa nuvem de dificuldades. Assim como a nuvem, isso passa. E o céu vai ficar mais bonito, mais azul, depois da chuva da aflição.

OS PROBLEMAS:

Há problemas na família, que deixam os membros sem saber o que fazer. Por exemplo, formação dos filhos, crises da adolescência e juventude. A família que reza, sempre sabe escutar a voz do Espírito de Deus, indicando os caminhos que ele deve seguir. Jesus é o Filho de Deus, o nosso Mestre. Vamos escutar a voz Dele!

 

 

O AMBIENTE:

Quando a família está reunida, conversando, cantando, rindo, brincando, a gente vive momentos felizes na nossa vida. A oração atrai a bênção de Deus para dentro de nossa casa afastando as desavenças, as brigas e os xingos.

Tudo em nossa casa é paz e alegria. A gente, então, sente o mesmo que São Pedro sentiu no Tabor. E a gente exclama: Senhor, como é bom ficar aqui em casa! Comecemos então em nossa casa a rezar em família. E teremos a satisfação de sentir que toda a nossa família está mudada, transfigurada.

 

Leituras do II Domingo da Quaresma – Ano C:

1a) Gên 15,5-12.17-18

2a) Fl 3,17-4,1

3a) Lc 9,28b-36