EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

O AMANHECER DO EVANGELHO

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

II DOMINGO DA PÁSCOA -ANO C

” A PAZ ESTEJA CONVOSCO”

Um olhar, ainda que rápido, para as belas leituras da Liturgia da Palavra deste II domingo da Páscoa – o antigo domingo “in albis”, em que os recém-batizados da Vigília Pascal depunham as vestes alvas que tinham usado durante a semana – pode mostrar-nos facilmente três ricos elementos: a fé, o perdão dos pecados, a perfeita vida cristã da comunidade nascente de Jerusalém. Afinal, tudo irradia do grande mistério pascal, da glória de Cristo Ressuscitado.

Em primeiro lugar, a fé que brotou alegre no coração dos discípulos, ao verem o Senhor ressuscitado e ao contemplarem no seu corpo glorioso os sinais dos cravos que lhe tinham atravessado as mãos e os pés, e o sinal da lança que lhe tinha traspassado o lado. Aliás, esses sinais são agora eternos, a lembrar que foi pela morte que Ele alcançou a glória. No Apocalipse, São João vai contemplá-lo na glória da eternidade. Ele é “o Cordeiro imolado”. Está de pé, mas traz os sinais da imolação (cfr Ap 5, 6). Mas, por isso mesmo, “é digno de receber o poder, a riqueza, a sabedoria, a força, a honra, a glória e o louvor” (ibid., 12).

A fé pascal é o núcleo mais íntimo de nossa fé cristã. Ela iluminou a vida dos apóstolos e dos primeiros discípulos, e ilumina toda a vida da Igreja. Costumam os comentaristas notar que a própria incredulidade inicial de Tomé acabou provocando uma confirmação da verdade da Ressurreição. E foi, em todo o caso, uma prova de que os apóstolos não eram homens crédulos, que aceitassem puras aparências. Todos eles tinham tido seu momento de dúvida, quando chegaram as primeiras notícias do sepulcro vazio e da aparição a Madalena. Mas o esplendor do Ressuscitado os convenceu.

O perdão dos pecados é a segunda nota que brilha na página do Evangelho, no episódio da primeira aparição. Jesus, depois de saudá-Ios com a saudação habitual” A paz esteja convosco”, – mas evidentemente com um desejo de paz muito mais eficaz do que uma simples saudação de cortesia – declarou: ” Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio. Soprou em seguida sobre eles – um prelúdio de Pentecostes! -e disse: Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, serão perdoados. A quem os retiverdes, serão retidos” (Jo 20, 21 -23). É o grande presente pascal do perdão. Dele precisa tanto a Igreja, que é feita de homens sujeitos ao pecado, e que precisam ser perdoados, não apenas sete vezes, mas setenta vezes sete vezes. Por isso Jesus deixa na Igreja o sacramento do perdão. É o dom da redenção, que se vai distribuindo ao longo dos séculos, na medida da nossa necessidade. O próprio contexto pascal em que Jesus nos outorga esse sacramento está a nos dizer que ele é um sacramento portador de paz, de festa e de alegria. Não é de tristeza e de humilhação. Triste e humilhante é o pecado. O perdão, que traz a paz de Deus, só pode ser causa de alegria. De festa. Como aquela que alegrou a casa do filho pródigo, no dia em que ele voltou para junto do Pai.

E temos que olhar para o terceiro quadro. É uma pintura em rápidas pinceladas do estilo de vida, exemplarmente evangélica, em que vivia a primeira comunidade cristã de Jerusalém. Unidos. Na oração e na escuta atenta do testemunho dos apóstolos a respeito da Ressurreição de Jesus. Desapegados de seus bens, de sorte que o que era de um era de todos. Formando uma comunidade tão harmoniosa, que toda aquela multidão era como um só coração e uma só alma. Como conseqüência – como consta de outra passagem dos Atos (2, 47) – eram estimados por todos, e o número dos fiéis ia crescendo dia a dia (cfr At 4, 32-35).

Não estavam pondo em prática nenhum plano sofisticado de economia política. Estavam simplesmente vivendo o Evangelho. Vivendo o “Sermão da Montanha”. Seguindo os passos de Cristo. Como os seguiu São Francisco. E muita gente com ele. Aí está o segredo da felicidade. Da paz, da harmonia, do bem-estar. Até da coragem, da paciência e da esperança, para suportar os sofrimentos, companheiros inseparáveis de nossa peregrinação. A famosa “Ilha da Utopia”, imaginada por Tomás More, pode no cristianismo tornar-se de algum modo realidade. Não caricatural, mas sincera.

LEITURAS do II Domingo de Páscoa -Ano B:

1ª – At 4,32-35.

2ª – 1Jo 5,1-6.

3ª – Jo 20,19-31.