Bíblia Explicada em Capítulos e Versículos-

– O Amanhecer do Evangelho –

Reflexões e Ilustrações – Pe. Lucas de Paula Almeida, CM

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

01. Oração do dia

Ó Deus, criador de todas as coisas, volvei para nós o vosso olhar e, para sentirmos em nós a ação do vosso amor, fazei que vos sirvamos de todo o coração. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

02. Evangelho (Marcos 8,27-35)Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos.
Naquele tempo, 8 27 Jesus saiu com os seus discípulos para as aldeias de Cesaréia de Filipe, e pelo caminho perguntou-lhes: “Quem dizem os homens que eu sou?”
28 Responderam-lhe os discípulos: “João Batista; outros, Elias; outros, um dos profetas”.
29 Então perguntou-lhes Jesus: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Respondeu Pedro: “Tu és o Cristo”.
30 E ordenou-lhes severamente que a ninguém dissessem nada a respeito dele.
31 E começou a ensinar-lhes que era necessário que o Filho do homem padecesse muito, fosse rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos escribas, e fosse morto, mas ressuscitasse depois de três dias.
32 E falava-lhes abertamente dessas coisas. Pedro, tomando-o à parte, começou a repreendê-lo.
33 Mas, voltando-se ele, olhou para os seus discípulos e repreendeu a Pedro: “Afasta-te de mim, Satanás, porque teus sentimentos não são os de Deus, mas os dos homens”.
34 Em seguida, convocando a multidão juntamente com os seus discípulos, disse-lhes: “Se alguém me quer seguir, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.
35 Porque o que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas o que perder a sua vida por amor de mim e do Evangelho, salvá-la-á”.
Palavra da Salvação.
Momento de reflexão – Bíblia Explicada em Capítulos e Versículos- Mc 8, 27 -35 – Pelo Caminho da Cruz-

PELO CAMINHO DA CRUZ

XXIV DOMINGO DO TEMPO COMUM -ANO B

PELO CAMINHO DA CRUZ

O evangelho que a Liturgia nos oferece na Mesa da Palavra deste vigésimo quarto domingo do Tempo Comum se compõe de dois quadros que se contrapõem vivamente um ao outro; e termina com uma solene proclamação de Jesus a respeito das condições para segui-lo.No primeiro quadro, São Pedro faz uma fervorosa declaração de que Jesus é o Messias. O Mestre havia perguntado aos discípulos qual era a opinião do povo a respeito dele. E apareceram as várias respostas: uns achavam que Ele era João Batista redivivo; outros achavam que era Elias, o qual, segundo uma tradição popular, não tinha morrido, e devia voltar no fim dos tempos para ungir o Messias; outros achavam que era Jeremias, um dos grandes protetores do povo israelita e que teria reaparecido; outros, enfim, achavam que Ele era algum outro dos antigos profetas. “Mas vós – perguntou Jesus – quem dizeis que eu sou?” Foi quando Pedro, como que fazendo-se porta-voz de todos, proclamou: “Tu és o Messias” (Mc 8, 29). Esta resposta está nos três sinópticos, sendo mais completa em Mateus: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo” (Mt 16, 16). É tão feliz esta confissão de Pedro, que Jesus lhe disse que ela não vinha de revelação da carne e do sangue – não vinha simplesmente da sabedoria humana – mas era revelação do Pai que está nos céus (ibid., v 17).Mas agora vem o segundo quadro. A fim de impedir que seu messianismo fosse entendido no sentido político, de um Messias que iria assumir o trono de Davi e debelar os inimigos da nação e libertá-Ia do jugo dos romanos, Jesus apontou-lhes o que estava predito em Isaías, onde se lê – no capítulo 53 – um verdadeiro proto-evangelho da Paixão: “Era preciso que o Filho do homem padecesse muito e fosse rechaçado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas, morresse e ressuscitasse depois de três dias” (Mc 8, 31 ).E o evangelista sublinha que Jesus falou disso claramente. Foi quando Pedro, mudando completamente a atitude anterior, tomando-o à parte, começou a repreendê-Io de maneira veemente: “Deus não permita que isso aconteça! ” (Mt 16, 22). Mas Jesus, olhando para todos os discípulos, repreendeu a Pedro, dizendo: “Retira-te de mim, satanás, pois não entendes das coisas de Deus, mas das coisas dos homens” (Mc 8, 33).Pedro, que, inspirado por Deus, proclamara que Jesus era o Messias, deixa-se levar agora por uma visão muito humana, e se transforma em “satanás”, isto é, no tentador que quer afastar Cristo de sua legítima missão. Daí a severidade da repreensão de Jesus.E tudo se conclui com a solene proclamação de Jesus sobre uma condição básica que deve ser abraçada por quem quiser segui- lo: “Quem quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (ibid., v 34). Ele ia morrer crucificado, e a cruz iria ficar sendo o símbolo de todo o sofrimento que o cristão deve estar disposto a abraçar.Entra aqui toda a sublime filosofia do sofrimento na vida humana. Cristo não veio tirar as cruzes do nosso caminho. Nem prometeu livrar-nos dos sofrimentos inerentes à nossa caminhada.

Mas, ao morrer na cruz, veio dar-Ihes um sentido muito alto e muito nobre. Pela cruz Ele remiu o mundo. Pela cruz nós colaboramos na redenção do mundo, como nos ensina São Paulo, lá onde diz que se alegra nos seus sofrimentos, porque assim completa na sua carne o que falta das tribulações de Cristo. Não que a Paixão de Cristo fosse insuficiente para a remissão do mundo, mas porque é disposição de Deus que nós nos associemos ao seu sofrimento (cfr CI 1, 24).

E Jesus termina dizendo: “Quem quiser salvar sua vida, perdê-la-á; mas quem perder sua vida por causa de mim e do Evangelho, salvá-la-á” (Mc 8, 35).Cristo e o Evangelho merecem o nosso sacrifício. Quem estiver disposto a sacrificar tudo por amor de Cristo, ganhará tudo. Ao passo que o egoísmo é estéril. Quem se fechar dentro dele, perderá tudo. A renúncia é o caminho da vida eterna: “Per crucem ad lucem”, isto é, pela cruz se alcança a luz.

LEITURAS do XXIV Domingo do Tempo Comum -Ano B:

1ª – Is 50, 5-9a.

2ª – Tg 2, 14-18.

3ª – Mc 8, 27 -35.

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

(LECTIO DIVINA)

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CMXXIV DOMINGO DO TEMPO COMUM -ANO B

Mc 8, 27-35

Se alguém quer me seguir, tome a sua cruz, renuncie a si mesmo e me siga”Como evangelho de hoje, temos a história do caminho de Cesaréia de Felipe. Embora de grande importância também em Mateus e Lucas, o relato mais original está no evangelho de Marcos, Cap. 8, o qual se torna o pivô de todo o Evangelho.A pedagogia do relato é interessante. Primeiro, Jesus faz uma pergunta bastante inócua: “quem dizem os homens que eu sou?” Assim, chovem respostas, pois esta pergunta não compromete – é o “diz que…” Mas a segunda pergunta traz a “facada”: “E vocês, quem dizem que eu sou?” Agora não vêm muitas respostas, pois quem responde em nome pessoal, e não dos outros, se compromete! Somente Pedro se arrisca e proclama a verdade sobre Jesus: Tu és o Messias. Aparentemente, Pedro acertou, e realmente, na versão mateana, Jesus confirma a verdade do que proclamou! Afirmou que foi através de uma revelação do Pai que Pedro fez a sua profissão de fé. Mas, para que entendamos bem o trecho, é importante que continuemos a leitura pelo menos até o v. 35, porque o assunto é mais complicado do que possa parecer.Jesus logo explica o que quer dizer ser o Messias. Não era ser glorioso, triunfante e poderoso, conforme os critérios deste mundo. Muito pelo contrário, era ser fiel à sua vocação como Servo de Javé, era ser preso, torturado e assassinado, era dar a vida em favor de muitos.Usando o título messiânico Filho de Deus” – que vem de Daniel 7, 13ss – Jesus confirmou que era o Messias, mas não o Messias que Pedro quis. Este, conforme as expectativas do povo do seu tempo, quis um Messias forte e dominador, não um que pudesse ir, e levar os seus seguidores, até a Cruz. Por isso, Pedro contesta Jesus, pedindo que nada disso acontecesse. E como recompensa ganha uma das frases mais duras da Bíblia: Afasta-se de mim, satanás! Você não pensa as coisas de Deus, mas as coisas dos homens” (v. 33). Pedro, cuja proclamação de fé parecia ser tão acertada, é agora chamado de Satanás – o Tentador por excelência! Pedro tinha os títulos certos, mas a prática errada! Usando os nossos termos de hoje, de uma forma um tanto anacrônica, podemos dizer que ele tinha ortodoxia mas não ortopraxis!E assim, Jesus usa o equívoco de Pedro para explicar o que significa ser seguidor d’Ele: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me” (v. 34). Ter fé em Jesus não é em primeiro lugar um exercício intelectual ou teológico, mas uma prática, o seguimento d’Ele na construção do seu projeto, até às últimas consequências.Hoje, dois mil anos depois, a pergunta de Jesus ressoa forte – a segunda pergunta. Para nós, quem é Jesus? Não para o catecismo, não para o Papa ou o Bispo, mas para cada um de nós pessoalmente? No fundo a resposta se dá, não com palavras, mas pela maneira em que vivemos e nos comprometemos com o projeto de Jesus – Ele que veio para que todos tivessem a vida e a vida plenamente (Jo 10, 10). Cuidemos para que não caiamos na tentação do equívoco de Pedro, a de termos a doutrina e a teoria certas, mas a prática errada!LEITURAS do XXV Domingo do Tempo Comum – Ano B :

1a – Sb2, 17-20.

2ª – Tg 3, 16-4, 3.

3a- Mc 9, 29-36.

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

O AMANHECER DO EVANGELHO

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE

PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

Como seguir Jesus (Mc 8

Como seguir Jesus (Mc 8,27-35) -O evangelho de Marcos traz três anúncios da paixão e morte de Jesus:

Evangelho (Mc 8,27-33): Jesus e seus discípulos partiram para os povoados de Cesareia de Filipe. No caminho, ele perguntou aos discípulos: «Quem dizem as pessoas que eu sou?». Eles responderam: «Uns dizem João Batista; outros, Elias; outros ainda, um dos profetas». Jesus, então, perguntou: «E vós, quem dizeis que eu sou? ». Pedro respondeu: «Tu és o Cristo».  E Jesus os advertiu para que não contassem isso a ninguém. E começou a ensinar-lhes que era necessário o Filho do Homem sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, sumos sacerdotes e escribas, ser morto e, depois de três dias, ressuscitar. Falava isso abertamente. Então, Pedro, chamando-o de lado, começou a censurá-lo. Jesus, porém, voltou-se e, vendo os seus discípulos, repreendeu Pedro, dizendo: «Vai para trás de mim, satanás! Pois não tens em mente as coisas de Deus, e sim, as dos homens!».

* O Evangelho de hoje fala da cegueira de Pedro que não entende a proposta de Jesus quando este fala do sofrimento e da cruz. Pedro aceita Jesus como messias, mas não como messias sofredor. Ele está influenciado pelo “fermento de Herodes e dos fariseus”, isto é, pela propaganda do governo da época que só falava do messias como rei glorioso. Pedro parecia cego. Não enxergava nada e ainda queria que Jesus fosse como ele, Pedro, o queria. Para entender bem todo o alcance desta cegueira de Pedro é importante coloca-la no seu contexto literário.

* Contexto literário: O evangelho de Marcos traz três anúncios da paixão e morte de Jesus: o primeiro em Marcos 8,27-38; o segundo em Mc 9,30-37 e o terceiro em Mc 10,32-45. Este conjunto, que vai de Mc 8,27 até Mc 10,45, é uma longa instrução de Jesus aos discípulos para ajuda-los a superar a crise provocada pela Cruz. A instrução é introduzida pela cura de um cego (Mc 8,22-26) e, no fim, é encerrada pela cura de outro cego (Mc 10,46-52). Os dois cegos representam a cegueira dos discípulos. A cura do primeiro cego foi difícil. Jesus teve que realizá-la em duas etapas. Igualmente difícil era a cura da cegueira dos discípulos. Jesus teve que fazer uma longa explicação a respeito do significado da Cruz para ajudá-los a enxergar, pois era a cruz que estava provocando neles a cegueira. Vejamos de perto a primeira cura do cego:

* Marcos 8,22-26: A primeira cura do cego.

Trouxeram um cego, pedindo que Jesus o curasse. Jesus o curou, mas de um jeito diferente. Primeiro, ele o levou para fora do povoado. Em seguida, cuspiu nos olhos dele, impôs as mãos e perguntou: Você está vendo alguma coisa? O homem responde: Vejo pessoas; parecem árvores que andam! Enxergava só uma parte. Trocava árvore por gente, ou gente por árvore! Foi só na segunda tentativa que Jesus o curou. Esta descrição da cura do cego introduz a instrução aos discípulos. Na realidade, o cego era Pedro. Ele aceitava Jesus como messias, mas só como messias glorioso. Enxergava só uma parte! Não queria o compromisso da Cruz! Será também em várias tentativas que Jesus vai curar a cegueira dos discípulos.

* Marcos 8,27-30. Levantamento da realidade: Quem diz o povo que eu sou?

Jesus perguntou: “Quem diz o povo que eu sou?”. Eles responderam relatando as várias opiniões: -“João Batista”. -“Elias ou um dos profetas”. Depois de ouvir as opiniões dos outros, Jesus perguntou: “E vocês, quem dizem que eu sou?”. Pedro respondeu: “O senhor é o Cristo, o Messias!” Isto é, o Senhor é aquele que o povo está esperando! Jesus concordou com Pedro, mas proibiu de falar sobre isto ao povo. Por que Jesus proibiu? É que naquele tempo, todos esperavam a vinda do messias, mas cada um do seu jeito: uns como rei, outros como sacerdote, doutor, guerreiro, juiz, profeta! Ninguém parecia estar esperando o messias servidor e sofredor, anunciado por Isaías (Is 42,1-9).

* Marcos 8,31-33. Primeiro anúncio da paixão.

Em seguida, Jesus começa a ensinar que ele é o Messias Servidor e afirma que, como o Messias Servidor anunciado por Isaías, será preso e morto no exercício da sua missão de justiça (Is 49,4-9; 53,1-12). Pedro leva susto, chama Jesus de lado para desaconselhá-lo. E Jesus responde a Pedro: “Vá embora Satanás! Você não pensa as coisas de Deus, mas as dos homens!” Pedro pensava ter dado a resposta certa. De fato, ele disse a palavra certa: “Tu és o Cristo!” Mas não lhe deu o sentido certo. Pedro não entendeu Jesus. Era como o cego. Trocava gente por árvore! A resposta de Jesus foi duríssima: “Vá embora, Satanás!” Satanás é uma palavra hebraica que significa acusador, aquele que afasta os outros do caminho de Deus. Jesus não permite que alguém o afaste da sua missão. Literalmente, o texto diz: “Atrás de mim, Satanás!” Pedro deve seguir Jesus. Não deve inverter os papeis e pretender que Jesus siga a Pedro.

Para um confronto pessoal

1) Acreditamos todos em Jesus. Mas um entende Jesus de um jeito, outro o entende de outro jeito. Qual é, hoje, a imagem mais comum que o povo tem de Jesus? Qual a resposta que o povo daria hoje à pergunta de Jesus? E eu que resposta dou?

2) O que nos impede hoje de reconhecer Jesus como o Messias?

 

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

O AMANHECER DO EVANGELHO

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE

PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

                        Como seguir Jesus (Mc 8

Como seguir Jesus (Mc 8,27-35)

Evangelho (Mc 8,27-33): Jesus e seus discípulos partiram para os povoados de Cesareia de Filipe. No caminho, ele perguntou aos discípulos: «Quem dizem as pessoas que eu sou?». Eles responderam: «Uns dizem João Batista; outros, Elias; outros ainda, um dos profetas». Jesus, então, perguntou: «E vós, quem dizeis que eu sou? ». Pedro respondeu: «Tu és o Cristo».  E Jesus os advertiu para que não contassem isso a ninguém. E começou a ensinar-lhes que era necessário o Filho do Homem sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, sumos sacerdotes e escribas, ser morto e, depois de três dias, ressuscitar. Falava isso abertamente. Então, Pedro, chamando-o de lado, começou a censurá-lo. Jesus, porém, voltou-se e, vendo os seus discípulos, repreendeu Pedro, dizendo: «Vai para trás de mim, satanás! Pois não tens em mente as coisas de Deus, e sim, as dos homens!».

Esta reflexão descreve a cegueira de Pedro que não entende a proposta de Jesus quando este fala do sofrimento e da cruz. Pedro aceita Jesus como messias, mas não como messias sofredor. Ele está influenciado pela propaganda do governo da época que só falava do messias como rei glorioso. Pedro parecia cego. Não enxergava nada e ainda queria que Jesus fosse como ele, Pedro, o queria. Vamos conversar sobre isto!

SITUANDO

No início deste quarto bloco estão a cura de um cego – Mc 8,22-26 -, o anúncio da cruz e a explicação do seu significado para a vida dos discípulos – Mc 8, 27 a 9,1. A cura do cego foi difícil. Jesus teve que realizá-la em duas etapas. Igualmente difícil foi a cura da cegueira dos discípulos. Jesus teve que fazer uma longa explicação a respeito do significado da cruz para ajudá-los a enxergar, pois era a cruz que estava provocando neles a cegueira.

Nos anos 70, quando Marcos escreveu, a situação das comunidades não era fácil. Havia muito sofrimento, muitas cruzes. Seis anos antes, em 64, o imperador Nero tinha decretado a primeira grande perseguição, matando muitos cristãos. Em 70, na Palestina, Jerusalém estava sendo destruída pelos romanos. Nos outros países, estava começando uma tensão forte entre judeus convertidos e judeus não-convertidos. A dificuldade maior era a cruz de Jesus. Os judeus achavam que um crucificado não podia ser o messias tão esperado pelo povo, pois a lei afirmava que todo crucificado devia ser considerado como um maldito de Deus (Dt 21,22-23).

COMENTANDO

Marcos 8, 27-30: VER – levantamento da realidade

Jesus perguntou: ”Quem diz o povo que eu sou?” Eles responderam relatando as várias opiniões do povo: ”João Batista”, ”Elias ou um dos profetas”. Depois de ouvir as opiniões dos outros, Jesus perguntou: ”E vocês, quem dizem que eu sou?” Pedro respondeu: ”Tu és o Cristo, o Messias”. Isto é, és aquele que o povo está esperando. Jesus concordou com Pedro, mas proibiu de falar sobre isso ao povo. Por que Jesus proibiu? É que naquele tempo, todos esperavam a vinda do messias, mas cada um do seu jeito: uns como rei, outros como sacerdote, doutor, guerreiro, juiz ou profeta. Ninguém parecia estar esperando o messias servidor, anunciado por Isaías (Is 42,1-9).

Marcos 8,31-33: JULGAR – esclarecendo a situação – primeiro anúncio da paixão

Jesus começa a ensinar que ele é o Messias Servidor e afirma que, como o Messias Servidor anunciado por Isaías, será preso e morto no exercício da sua missão de justiça. Pedro leva um susto, chama Jesus de lado para desconcertá-lo. E Jesus responde a Pedro: ”Vá embora, Satanás”. Você não pensa as coisas de Deus, mas as dos homens”. Pedro pensava ter dado a resposta certa. De fato, ele disse a palavra certa ”Tu és o Cristo”. Mas não lhe deu o sentido certo. Pedro não entendeu Jesus. Era como o cego de Betsaida. Trocava gente por árvore. A resposta de Jesus foi duríssima ”Vá embora, Satanás”. Satanás é uma palavra hebraica que significa acusador, aquele que afasta os outros do caminho de Deus. Jesus não permite que alguém o afaste da sua missão.

Marcos 8, 34-47 – AGIR – condições para seguir

Jesus tira as conclusões que valem até hoje – Quem quiser vir após mim tome sua cruz e siga-me. Naquele tempo, a cruz era a pena de morte que o Império Romano impunha aos marginais. Tomar a cruz e carregá-la atrás de Jesus era o mesmo que aceitar ser marginalizado pelo sistema injusto que legitimava a injustiça. A cruz não é fatalismo, nem é exigência do Pai. A cruz é a consequência do compromisso livremente assumido por Jesus de revelar a Boa Nova de que Deus é Pai e que, portanto, todos e todas devem ser aceitos e tratados como irmãos e irmãs. Por causa deste anúncio revolucionário, ele foi perseguido e não teve medo de dar a sua vida. Prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão.

Para um confronto pessoal

1) Acreditamos todos em Jesus. Mas um entende Jesus de um jeito, outro o entende de outro jeito. Qual é, hoje, a imagem mais comum que o povo tem de Jesus? Qual a resposta que o povo daria hoje à pergunta de Jesus? E eu que resposta dou?

2) O que nos impede hoje de reconhecer Jesus como o Messias?