EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

O AMANHECER DO EVANGELHO

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

XXXI Domingo do Tempo Comum -ANO C

SERÃO COMO OS ANJOS DO CÉU

A límpida doutrina de Jesus teve que ser proclamada no seio da confusa comunidade religiosa de Jerusalém, onde havia o núcleo comum do culto a Javé e da observância da Lei de Moisés, mas havia vários grupos marcados por diversidade de doutrinas e de comportamento. Assim é que havia os fariseus, os escribas, a classe sacerdotal, os herodianos, os saduceus. Todos eles timbravam em apresentar objeções ao que Jesus ensinava. E no fim se juntaram todos contra Ele, para levá-Io aos tribunais que o condenaram.

Hoje encontramos Jesus às voltas com os saduceus. Esta seita- cujo nome parece proceder de Sadoc, sumo sacerdote do tempo de Salomão – eram apegados exclusivamente à fidelidade ao Pentateuco.

Não admitiam a ressurreição, nem acreditavam na existência dos anjos. Por isso mesmo, apresentaram a Jesus uma objeção grosseira contra a ressurreição. Apoiados na lei do “levirato” – que mandava que, quando um homem morresse sem deixar filhos, a viúva devia casar-se com o cunhado, a fim de garantir a conservação do patrimônio e a descendência, do falecido – propuseram-lhe a hipótese de uma mulher que tivesse sido casada sucessivamente com sete irmãos, que tivessem todos morrido sem deixar filhos.

No fim ela também morreria. De quem -” perguntaram eles – seria ela mulher na outra vida? A pergunta parece até um gracejo de mau gosto. Mas Jesus responde nobremente, deixando para nós uma importante lição sobre o sentido da ressurreição: Aqui nesta vida há o casamento. Os homens se casam e as mulheres são dadas em casamento. Mas os que forem admitidos à outra vida e à ressurreição dos mortos não se casam, porque não podem mais morrer. São como os anjos de Deus. São filhos da ressurreição (semitismo, que significa “ressuscitados”) ( cfr.  Lc 20, 34-36).

Vale a pena refletir detidamente sobre a resposta de Jesus . Os ressuscitados não vivem mais a existência própria aqui da terra. Não devemos pensar em sepulcros se abrindo, e ossos se juntando, e carne recobrindo os ossos, para refazer o mesmo corpo de antes. Talvez fosse essa a concepção menos esclarecida de outros tempos. A ressurreição não é uma continuação da vida terrena.

Quem ressuscitou não vai repetir a vida aqui da terra, sujeita às condições biológicas, ao cansaço, ao desgaste e à necessidade de alimentos. Serão como os anjos de Deus. O corpo ressuscitado é um corpo espiritual, como ensina claramente São Paulo, na primeira carta aos coríntios (cfr 1 Cor 15, 35-53). Aí se diz explicitamente que “a carne e o sangue não podem herdar o Reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorruptibilidade” (v 50).

Vou lembrar uma colocação interessante. O teólogo Joseph Ratzinger – Cardeal Ratzinger  e depois Papa Bento – aproxima esse versículo de São Paulo sobre o corpo da ressurreição ao versículo 63 do capítulo VI de São João, onde se fala da presença de Jesus no sacramento da Eucaristia: “O espírito é que vivifica, a carne para nada serve”.

Ele acabara de afirmar com veemente insistência a presença real do corpo e do sangue de Jesus na Eucaristia. A presença é real mesmo. Porém não se trata de um realismo quase físico – explica ele -, puramente imanente ao mundo. É um realismo que vai além da física, como realismo do Espírito santo (cfr. RATZINGER, Introdução ao Cristianismo, III parte, cap. II). É uma presença transfisica, poderíamos dizer. É a presença do corpo ressuscitado.

Mas Jesus acrescenta ainda um bonito argumento à sua resposta aos saduceus. Quando Deus se apresentou a Moisés no meio da sarça ardente, apresentou-se como “o Deus de Abraão, o Deus de Isac, o Deus de Jacó”. Ora, Deus não é Deus de mortos, mas Deus de vivos. Portanto os patriarcas estão vivos, vivem a vida da ressurreição (cfr. Lc 20, 37-38). Como tudo isso é bonito e grandioso, para iluminara nossa esperança! Deus é por excelência o Deus vivo, e nós viveremos para sempre com Ele, participando de sua vida, ressuscitados como Cristo ressuscitou. Nós cremos na vida eterna!

 

LEITURAS do XXXII Domingo do Tempo Comum – Ano C:

1a) 2Mac 7, 1-2.9-14

2a) 2Ts 2, 16-3, 5

3a) Lc 20, 27-38

 

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

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REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

DOMINGO DA XXXII SEMANA DO TEMPO COMUM

1) Oração

Senhor nosso Deus, fazei que a nossa alegria consista em vos servir de todo o coração, pois só teremos felicidade completa, servindo a vós, o criador de todas as coisas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

2) Leitura do Evangelho   (Lucas 20, 27-40)

 Naquele tempo, 27Alguns saduceus – que negam a ressurreição – aproximaram-se de Jesus e perguntaram-lhe: 28Mestre, Moisés prescreveu-nos: Se alguém morrer e deixar mulher, mas não deixar filhos, case-se com ela o irmão dele, e dê descendência a seu irmão. 29Ora, havia sete irmãos, o primeiro dos quais tomou uma mulher, mas morreu sem filhos. 30Casou-se com ela o segundo, mas também ele morreu sem filhos. 31Casou-se depois com ela o terceiro. E assim sucessivamente todos os sete, que morreram sem deixar filhos. 32Por fim, morreu também a mulher. 33Na ressurreição, de qual deles será a mulher? Porque os sete a tiveram por mulher. 34Jesus respondeu: Os filhos deste mundo casam-se e dão-se em casamento, 35mas os que serão julgados dignos do século futuro e da ressurreição dos mortos não terão mulher nem marido.

36Eles jamais poderão morrer, porque são iguais aos anjos e são filhos de Deus, porque são ressuscitados. 37Por outra parte, que os mortos hão de ressuscitar é o que Moisés revelou na passagem da sarça ardente (Ex 3,6), chamando ao Senhor: Deus de Abraão, Deus de Isaac, Deus de Jacó . 38Ora, Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos; porque todos vivem para ele. 39Alguns dos escribas disseram, então: Mestre, falaste bem. 40E já não se atreviam a fazer-lhe pergunta alguma. – Palavra da salvação.

3) Reflexão

*  O evangelho de hoje traz a discussão dos Saduceus com Jesus sobre a fé na ressurreição.

Lucas 20,27: A ideologia dos Saduceus

O evangelho de hoje começa com esta afirmação:“Os saduceus afirmam que não existe ressurreição”. Os saduceus eram uma elite aristocrata de latifundiários e comerciantes. Eram conservadores. Não aceitavam a fé na ressurreição. Naquele tempo, esta fé começava a ser valorizada pelos fariseus e pela piedade popular. Ela animava a resistência do povo contra a dominação tanto dos romanos como dos sacerdotes, dos anciãos e dos próprios saduceus.

Para os saduceus, o reino messiânico já estava presente na situação de bem-estar que eles estavam vivendo. Eles seguiam a assim chamada “Teologia da Retribuição” que distorcia a realidade. Segundo esta teologia, Deus retribui com riqueza e bem-estar os que observam a lei de Deus, e castiga com sofrimento e pobreza os que praticam o mal.

Assim, se entende por que os saduceus não queriam mudanças. Queriam que a religião permanecesse tal como era, imutável como o próprio Deus. Por isso, para criticar e ridicularizar a fé na ressurreição, contavam casos fictícios para mostrar que a fé na ressurreição levaria a pessoa ao absurdo.

Lucas 20,28-33: O caso fictício da mulher que casou sete vezes         Conforme a lei da época, se o marido morre sem filhos, o irmão dele deve casar com a viúva do falecido. Era para evitar que, caso alguém morresse sem descendência, a propriedade dele passasse para outra família (Dt 25,5-6).

Os saduceus inventaram a história de uma mulher que enterrou sete maridos, irmãos um do outro, e ela mesma acabou morrendo sem filho. E eles perguntam a Jesus: “E agora, na ressurreição, de quem a mulher vai ser esposa? Todos os sete se casaram com ela!” Caso inventado para mostrar que a fé na ressurreição cria situações absurdas.

Lucas 20,34-38: A resposta de Jesus que não deixa dúvida

Na resposta de Jesus transparece a irritação de quem não agüenta fingimento. Jesus não agüenta a hipocrisia da elite que manipula e ridiculariza a fé em Deus para legitimar e defender seus próprios interesses.

A sua resposta tem duas partes: 1) vocês não entendem nada de ressurreição: “Nesta vida, os homens e as mulheres se casam, mas os que Deus julgar dignos da ressurreição dos mortos e de participar da vida futura, não se casarão mais, porque não podem mais morrer, pois serão como os anjos. E serão filhos de Deus, porque ressuscitaram” (vv. 34-36). Jesus explica que a condição das pessoas depois da morte será totalmente diferente da condição atual. Depois da morte já não haverá mais casamento, mas todas serão como os anjos no céu.

Os saduceus imaginavam a vida no céu igual à vida aqui na terra. 2) vocês não entendem nada de Deus: “E que os mortos ressuscitam, já Moisés indica na passagem da sarça, quando chama o Senhor de ‘o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’. Deus não é Deus de mortos, mas de vivos, pois todos vivem para ele.” No fim, Jesus conclui: “Nosso Deus não é um Deus de mortos, mas sim de vivos! Vocês estão muito errados!” Os discípulos e as discípulas, que estejam de sobreaviso e aprendam! Quem estiver do lado destes saduceus estará do lado oposto de Deus!

Lucas 20,39-40: A reação dos outros frente à resposta de Jesus

“Alguns doutores da Lei disseram a Jesus: “Foi uma boa resposta, Mestre.” E ninguém mais tinha coragem de perguntar coisa nenhuma a Jesus”.  Muito provavelmente, estes doutores da lei eram dos fariseus, pois os fariseus acreditavam na ressurreição (cf Atos 23,6).

4) Para um confronto pessoal

  1. Como hoje os grupos de poder imitam os saduceus e armam ciladas para impedir mudanças no mundo e na igreja?
  2. Você acredita na ressurreição? Dizendo que crê na ressurreição, você pensa em algo do passado, do presente ou do futuro? Já aconteceu alguma vez uma experiência de ressurreição em sua vida?

5) Oração final

Tenho certeza que vou contemplar a bondade do Senhor na terra dos vivos. Espera no Senhor, sê forte, firme-se teu coração e espera no Senhor. (Sl 26, 13-14)