O AMANHECER DO EVANGELHO

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

II DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C

TERCEIRA PARTE : Tempo Comum

O coração do sábio manifesta-se pela sua sabedoria, e o ouvido bem disposto ouve a sabedoria com grande avidez. (do Eclesiástico)

Eis que estou à porta e bato, diz o Senhor. Se alguém ouvir a minha voz e abrir, eu entrarei e cearemos juntos. (do Apocalipse)

II DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO AO VINHO NOVO DO EVANGELHO

Quem visita a Palestina, não deixa de visitar a pequena cidade de Caná, surgida no lugar da antiga, onde Jesus realizou seu primeiro milagre, mudando a água em vinho. No interior da pequena igreja, erguida presumivelmente no lugar da casa onde se deu o milagre, pode-se ver a um canto uma grande ânfora, recurso turístico para lembrar uma daquelas enormes talhas de pedra, que Jesus mandou encher de água para transformá-Ia em vinho.A água lembrava o Antigo Testamento com a Lei e os Profetas, Moisés, os Juizes, os Reis, Davi, Salomão, o Templo. Todos eles estavam esperando o vinho novo do Evangelho, esse vinho novo, que – precisamente por ser novo – não pode ser posto em odres velhos. Ele precisa de odres novos, que são os corações novos, a mentalidade nova, o espírito novo que Jesus iria trazer com sua pregação, o exemplo de sua vida, a força da graça de sua Redenção.A página evangélica que a Igreja nos faz ler neste domingo – o segundo do “Tempo Comum” – é riquíssima de ensinamentos. E todos a conhecemos, na narração viva e concisa de São João. Uma festa de casamento. Em Caná da Galiléia. Talvez de algum parente da Virgem Maria. Por isso Ela estava lá. E estava também Jesus. E, com Ele, os apóstolos. A certa altura da festa, acabou-se o vinho. Um grande vexame para o noivo!Maria, que estava mais próxima do pessoal de serviço, disse-o a Jesus: “Eles não têm mais vinho” (Jo 2, 3). Uma informação que era ao mesmo tempo uma súplica. E que nos faz adivinhar o profundo relacionamento da Mãe com o Filho, alimentado no longo convívio de Nazaré. A resposta de Jesus não deve chocar-nos: “Que temos com isso, mulher? Minha hora ainda não chegou” (v. 4).Jesus usou uma expressão idiomática, que significa apenas que o problema não devia ser resolvido por ele só. E chamou-a “mulher”, não no sentido de uma expressão de frieza, mas para indicar sua grandeza de “nova Eva”, a Mãe universal que vinha amparar os filhos que a primeira Eva desamparara.A mesma expressão vai aparecer ao pé da cruz quando Ela é entregue por mãe a João: “Mulher, eis aí teu filho” (Jo 19, 26). Essa “hora” a que Jesus se refere e que aparece muitas vezes, nos seus lábios, é a hora da sua glorificação pela Morte-Ressurreição. Fazer milagre e tornar público seu poder divino seria apressar essa hora, desencadeando todo o processo da Paixão. E a súplica de Maria foi atendida. Como no Getsêmani a vontade do Pai foi atendida, apesar da relutância da natureza humana de Jesus que pedia que o cálice se afastasse dele.Maria, por esse relacionamento íntimo entre o coração da Mãe e o do Filho, a que já nos referimos, entendeu tudo. E disse aos servos: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5). É a última palavra de Maria registrada pelo Evangelho. Dir-se-ia que é a definitiva lei de nossa Rainha. E Jesus mandou que eles enchessem d’água as grandes talhas usadas para as abluções rituais dos judeus. E eles as encheram até à borda.Quando Jesus mandou tirar, estava tudo mudado em excelente vinho. A abundância e a superioridade dos bens messiânicos! O vinho era tão bom, que o mestre-sala reclamou com o noivo que fizera essa “surpresa”. Normalmente se servia o vinho melhor no princípio. O vinho inferior se deixava para o fim, quando os convivas estavam já meio alterados e não distinguiam bem as coisas.Nessa maravilhosa mudança da água em vinho, muitos comentadores nos ajudam a descobrir uma referência ao sacramento da Eucaristia. Agora é a água que se transforma em vinho. Amanhã será o vinho que se transubstanciará no sangue de Cristo.E há ainda a nobilitação do casamento. A presença de Jesus nas bodas de Caná é um prelúdio da elevação do casamento, instituição humana, à dignidade de sacramento. Quanta grandeza ! Cristo no casamento e Cristo na família! Só podemos desejar que sempre seja assim.LEITURAS do II Domingo do Tempo Comum -Ano C:

1a) Is 62, 1-5

2a) 1Cor 12, 4-11

3a) Jo 2,1-11