– EVANGELHO E HOMILIA DO DIA –

O AMANHECER DO EVANGELHO

                                               – REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

No evangelho de hoje iniciamos a reflexão sobre o Discurso do Pão da Vida (Jo 6,22-71)  conjunto de sete pequenos diálogos que explicam o significado da multiplicação dos pães como símbolo do novo Êxodo e da Ceia Eucarística1) Oração

Ó Deus, vós que mostrais aos que erram a luz da verdade para que possam voltar ao bom caminho, concedei a todos os que se gloriam da vocação cristã rejeitem o que se opõe a este nome e abracem quanto possa honrá-lo. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.2) Leitura do Evangelho (João 6, 22-29)

Naquele tempo, 22No dia seguinte, a multidão que tinha ficado do outro lado do mar notou que antes havia aí um só barco e que Jesus não tinha entrado nele com os discípulos, os quais tinham partido sozinhos. 23Entretanto, outros barcos chegaram de Tiberíades, perto do lugar onde tinham comido o pão depois de o Senhor ter dado graças. 24Quando a multidão percebeu que Jesus não estava aí, nem os seus discípulos, entraram nos barcos e foram procurar Jesus em Cafarnaum. 25Encontrando- o do outro lado do mar, perguntaram-lhe: “Rabi, quando chegaste aqui?” 26Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade, vos digo: estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes saciados. 27Trabalhai não pelo alimento que perece, mas pelo alimento que permanece até à vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará. Pois a este, Deus Pai o assinalou com seu selo. 28Perguntaram então: “Que devemos fazer para praticar as obras de Deus?” 29Jesus respondeu: “A obra de Deus é que acrediteis naquele que ele enviou”.3) Reflexão

No evangelho de hoje iniciamos a reflexão sobre o Discurso do Pão da Vida (Jo 6,22-71), que se prolongará durante os próximos seis dias, até o fim desta semana. Depois da multiplicação dos pães, o povo foi atrás de Jesus. Tinha visto o milagre, comeu com fartura e queria mais! Não se preocupou em procurar o sinal ou o apelo de Deus que havia em tudo isso. Quando o povo encontrou Jesus na sinagoga de Cafarnaum, teve com ele uma longa conversa, chamada Discurso do Pão da Vida. Não é propriamente um discurso, mas trata-se de um conjunto de sete pequenos diálogos que explicam o significado da multiplicação dos pães como símbolo do novo Êxodo e da Ceia Eucarística.*  É bom ter presente a divisão do capítulo para poder perceber melhor o seu sentido:6,1-15: o grande da multiplicação dos pães

6,16-21: a travessia do lago, e Jesus caminhando sobre as águas

6,22-71: o diálogo de Jesus com o povo, com os judeus e com os discípulos

1º diálogo:  6,22-27  com o povo:            o povo procura Jesus e o encontra em Cafarnaum

2º diálogo: 6,28-34  com o povo:            a fé como obra de Deus e o maná no deserto

3º diálogo: 6,35-40  com o povo:            o pão verdadeiro é fazer a vontade de Deus

4º diálogo: 6,41-51    com os judeus:       murmurações dos judeus

5º diálogo: 6,52-58  com os judeus:       Jesus e os judeus

6º diálogo: 6,59-66  com os discípulos:   reação dos discípulos

7º diálogo: 6,67-71   com os discípulos:  confissão de PedroA conversa de Jesus com o povo, com os judeus e com os discípulos é um diálogo bonito, mas exigente. Jesus procura abrir os olhos do povo para que aprenda a ler os acontecimentos e descubra neles o rumo que deve tomar na vida. Pois não basta ir atrás de sinais milagrosos que multiplicam o pão para o corpo. Não só de pão vive o homem. A luta pela vida sem uma mística não alcança a raiz. Enquanto vai conversando com Jesus, o povo fica cada vez mais contrariado com as palavras dele. Mas Jesus não cede, nem muda as exigências. O discurso parece um funil. Na medida em que a conversa avança, é cada vez menos gente que sobra para ficar com Jesus. No fim só sobram os doze, e nem assim Jesus pode confiar em todos eles! Hoje acontece a mesma coisa. Quando o evangelho começa a exigir compromisso, muita gente se afasta.João 6,22-27O povo procura Jesus porque quer mais pão.  O povo foi atrás de Jesus. Viu que ele não tinha entrado no barco com os discípulos e, por isso, não entendeu como ele tinha feito para chegar em Cafarnaum. Também não entendeu o milagre da multiplicação dos pães. O povo viu o que aconteceu, mas não chegou a entende-lo como um sinal de algo mais alto ou mais profundo. Parou na superfície: na fartura de comida. Buscou pão e vida, mas só para o corpo. No entender do povo, Jesus fez o que Moisés tinha feito no passado: deu alimento farto para todos no deserto. Indo atrás de Jesus, eles queriam que o passado se repetisse. Mas Jesus pede que o povo dê um passo adiante. Além do trabalho pelo pão que perece, deve trabalhar pelo alimento não perecível. Este novo alimento será dado pelo Filho do Homem, indicado pelo próprio Deus. Ele traz a vida que dura para sempre. Ele abre para nós um novo horizonte sobre o sentido da vida e sobre Deus.João 6,28-29Qual é a obra de Deus?  O povo pergunta: O que devemos fazer para realizar este trabalho (obra) de Deus? Jesus responde que a grande obra que Deus pede de nós “é crer naquele que Deus enviou” . Ou seja, crer em Jesus!4) Para um confronto pessoal

1) O povo estava com fome, comeu do pão e procurava mais pão. Procurou o milagroso e não buscou o sinal de Deus que nele se escondia. O que eu mais procuro na minha vida: milagre ou sinal?

2) Pare um momento, faça silêncio dentro de você e pergunte a si mesmo: “Crer em Jesus: o que significa isto para mim bem concretamente no dia a dia da minha vida?”

5) Oração final

Eu te expus meus caminhos e me respondeste; ensina-me teus estatutos. Faze-me conhecer o caminho dos teus preceitos e meditarei nos teus prodígios. (Sl 118, 26-27)

ORAÇÃO COMPOSTA POR SANTO AFONSO DE LIGÓRIO

Ó Maria, filha predileta do Altíssimo, pudesse eu oferecer-vos e consagrar-vos os meus primeiros anos, como vós vos oferecestes e consagrastes ao Senhor no templo! Mas é já passado esse período de minha vida! Todavia, antes começar tarde a vos servir do que ser sempre rebelde. Venho, pois, hoje, oferecer-me a Deus. Sustentai minha fraqueza, e por vossa intercessão alcançai-me de Jesus a graça de lhe ser fiel e a vós até a morte, a fim de que, depois de vos haver servido de todo o coração na vida, participe da glória e da felicidade eterna dos eleitos. Amém.

LADAINHA DE NOSSA SENHORA

Senhor, tende piedade de nós.

Jesus Cristo, tende piedade de nós.

Senhor, tende piedade de nós.

Jesus Cristo ouvi-nos.

Jesus Cristo atendei-nos.

Deus Pai dos Céus tende piedade de nós.

Deus Filho, Redentor do mundo,

Deus Espírito Santo,

Santíssima Trindade, que sois um só Deus,

Santa Maria rogai por nós.

Santa Mãe de Deus,

Santa Virgem das virgens,

Mãe de Jesus Cristo,

Mãe da divina graça,

Mãe puríssima,

Mãe castíssima,

Mãe imaculada,

Mãe intacta,

Mãe amável,

Mãe admirável,

Mãe do bom conselho,

Mãe do Criador,

Mãe do Salvador,

Mãe da Igreja,

Virgem prudentíssima,

Virgem venerável,

Virgem louvável,

Virgem poderosa,

Virgem benigna,

Virgem fiel,

Espelho de justiça,

Sede da sabedoria,

Causa da nossa alegria,

Vaso espiritual,

Vaso honorífico,

Vaso insigne de devoção,

Rosa mística,

Torre de Davi,

Torre de marfim,

Casa de ouro,

Arca da aliança,

Porta do Céu,

Estrela da manhã,

Saúde dos enfermos,

Refúgio dos pecadores,

Consoladora dos aflitos,

Auxílio dos cristãos,

Esperança dos carmelitas,

Rainha dos anjos,

Rainha dos patriarcas,

Rainha dos profetas,

Rainha dos apóstolos,

Rainha dos mártires,

Rainha dos confessores,

Rainha das virgens,

Rainha de todos os santos,

Rainha concebida sem pecado original,

Rainha assunta ao céu,

Rainha do sacratíssimo Rosário,

Rainha das famílias,

Rainha da paz,

Rainha e esplendor do Carmelo,

Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, perdoai-nos, Senhor.

Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, ouvi-nos, Senhor.

Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende misericórdia de nós.

  1. – Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.
  2. – Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

OREMOS – Infundi, Senhor, como vos pedimos, vossa graça em nossas almas, para que nós que pela anunciação do Anjo viemos ao conhecimento da encarnação de Jesus Cristo, vosso Filho, pela sua paixão e morte de cruz, sejamos conduzidos à glória da ressurreição. Pelo mesmo Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém.

O “LEMBRAI-VOS” DE SÃO BERNARDO

Lembrai-vos, ó piedosíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que a vós têm recorrido, implorado vossa assistência e invocado o vosso socorro, tenha sido por vós abandonado. Animado de uma tal confiança, eu corro e venho a vós e, gemendo debaixo do peso dos meus pecados, me prostro a vossos pés, ó Virgem das virgens; não desprezeis as minhas súplicas, ó Mãe do Verbo encarnado, mas ouvi-as favoravelmente e dignai-vos atender-me. Amém.

– EVANGELHO E HOMILIA DO DIA –

O AMANHECER DO EVANGELHO

                                               – REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

No evangelho de hoje iniciamos a reflexão sobre o Discurso do Pão da Vida (Jo 6,22-71)  conjunto de sete pequenos diálogos que explicam o significado da multiplicação dos pães como símbolo do novo Êxodo e da Ceia Eucarística1) Oração

Ó Deus, vós que mostrais aos que erram a luz da verdade para que possam voltar ao bom caminho, concedei a todos os que se gloriam da vocação cristã rejeitem o que se opõe a este nome e abracem quanto possa honrá-lo. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.2) Leitura do Evangelho (João 6, 22-29)

Naquele tempo, 22No dia seguinte, a multidão que tinha ficado do outro lado do mar notou que antes havia aí um só barco e que Jesus não tinha entrado nele com os discípulos, os quais tinham partido sozinhos. 23Entretanto, outros barcos chegaram de Tiberíades, perto do lugar onde tinham comido o pão depois de o Senhor ter dado graças. 24Quando a multidão percebeu que Jesus não estava aí, nem os seus discípulos, entraram nos barcos e foram procurar Jesus em Cafarnaum. 25Encontrando- o do outro lado do mar, perguntaram-lhe: “Rabi, quando chegaste aqui?” 26Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade, vos digo: estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes saciados. 27Trabalhai não pelo alimento que perece, mas pelo alimento que permanece até à vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará. Pois a este, Deus Pai o assinalou com seu selo. 28Perguntaram então: “Que devemos fazer para praticar as obras de Deus?” 29Jesus respondeu: “A obra de Deus é que acrediteis naquele que ele enviou”.

João 6,22-40: Quem vem a mim nunca mais terá fome! –

I. Situando
1. Neste discurso do Pão da Vida (Jo 6,22-71), por meio de um conjunto de sete diálogos, o evangelista explica para os leitores e as leitoras o significado profundo da multiplicação dos pães como símbolo da Ceia Eucarística. É um diálogo bonito, mas exigente. O povo fica chocado com as palavras de Jesus. Mas Jesus não cede nem muda as exigências. O discurso parece um funil. Na medida em que avança, é cada vez menos gente que sobra para ficar com Jesus. No fim, só sobram os doze, e nem assim pode confiar em todos eles.
2. Quem lê o Quarto Evangelho superficialmente pode ficar com a impressão de que João repete sempre a mesma coisa. Lendo com mais atenção, perceberá que não se trata de repetição. O Quarto Evangelho tem um jeito próprio de repetir o mesmo assunto, mas é num nível cada vez mais alto ou mais profundo. Parece uma escada em caracol. Girando você volta ao mesmo lugar, mas num nível mais alto. Assim é o discurso sobre o Pão da Vida. É um texto que exige toda uma vida para meditá-lo e aprofundá-lo. Por isso, não se preocupe se não entender logo tudo. Um texto assim devemos ler, meditar, ler de novo, repetir, ruminar, como se faz com uma bala gostosa. Vai virando e virando na boca, até se gastar.
II. Comentando
1. João 6,22-27: 1º Diálogo: O povo procura Jesus porque quer mais pão 
O povo viu o milagre, mas não o entendeu como um sinal de algo mais alto ou mais profundo. Parou na superfície: na fartura de comida. Buscou pão e vida, mas só para o corpo. Para o povo, Jesus fez o que Moisés tinha feito no passado: deu alimento farto para todos. Indo atrás de Jesus, queria que o passado se repetisse. Mas Jesus pediu que o povo desse um passo. Além do trabalho pelo pão perecível, deveria trabalhar também pelo alimento não perecível. Este novo alimento é que traz a vida que dura para sempre.
2. João 6,28-33: 2º Diálogo: Jesus pede para o povo trabalhar pelo pão verdadeiro 
O povo pergunta: “O que fazer para realizar este trabalho (obra) de Deus?” Jesus responde: “Acreditar naquele que Deus enviou!”, isto é, crer em Jesus. O povo reage: “Então, dê-nos um sinal para a gente saber que você é o enviado de Deus! Nossos pais comeram o maná que foi dado por Moisés!” Para eles, Moisés é o grande líder do passado, no qual acreditam. Se Jesus quer que o povo acredite nele, deve fazer um sinal maior que o de Moisés. Jesus responde que o pão dado por Moisés não era o pão verdadeiro, pois não garantiu a vida para ninguém. Todos morreram. O pão verdadeiro de Deus é aquele que vence a morte e traz vida. Jesus tenta ajudar o povo a se libertar dos esquemas do passado. Para ele, fidelidade ao passado não significa fechar-se nas coisas de antigamente e recusar a renovação. Fidelidade ao passado é aceitar o novo que chega como fruto da semente plantada no passado.
3. João 6,34-40: 3º Diálogo: O pão verdadeiro é fazer a vontade de Deus 
O povo pede: “Senhor, dá-nos sempre desse pão!” Pensavam que Jesus estivesse falando de um pão especial. Então Jesus responde claramente: “Eu sou o pão da vida!” Comer o pão do céu é o mesmo que crer em Jesus e aceitar o caminho que ele ensinou, a saber: “O meu alimento é fazer a vontade do Pai que está no céu!” (Jo 4,34). Este é o alimento verdadeiro que sustenta a pessoa, dá rumo e traz vida nova.
4. João 6,41-51: 4º Diálogo: Quem se abre para Deus aceita Jesus e a sua proposta
A conversa se torna mais exigente. Agora são os judeus, os líderes do povo, que murmuram: “Esse não é Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe conhecemos? Como é que ele pode dizer que desceu do céu?” Eles pensam conhecer as coisas de Deus. Na realidade, não é nada disso. Se fossem realmente abertos e fiéis a Deus, sentiriam dentro de si o impulso de Deus atraindo-os para Jesus e reconheceriam que Jesus vem de Deus (Jo 6,45). Na celebração da Páscoa, os judeus lembravam o pão do deserto. Jesus os ajuda a dar um passo. Quem celebra a Páscoa, lembrando só o pão que os pais comeram no passado, vai acabar morrendo como todos eles. O verdadeiro sentido da Páscoa não é lembrar o maná que caiu do céu, mas sim aceitar Jesus como o Pão da Vida e seguir pelo caminho que ele ensinou. Não é comer a carne do cordeiro pascal, mas sim comer a carne de Jesus, que desceu do céu para a vida do mundo!
5. João 6,52-58: 5º Diálogo: Carne e sangue: expressão da vida e da doação total 
Os judeus reagem: “Como esse homem pode dar-nos a sua carne para comer?” Eles não entenderam as palavras de Jesus, porque tomaram tudo ao pé da letra. Era perto da Páscoa. Dentro de poucos dias, todos iam comer o cordeiro pascal na celebração da noite da páscoa. Comer a carne de Jesus significava aceitar Jesus como o novo Cordeiro Pascal, cujo sangue os libertaria da escravidão. Por respeito à vida, o AT proibia comer sangue (Dt 12,16.23; At 15,29). Sangue era o sinal da vida. Beber o sangue de Jesus significava assimilar a mesma maneira de viver que marcou a vida de Jesus. O que traz vida não é celebrar o maná do passado, mas sim comer este novo pão que é Jesus, a sua carne e o seu sangue. Participando da Ceia Eucarística, assimilamos a sua vida, a sua doação e entrega.
6. João 6,59-66: 6º Diálogo: Sem a luz do Espírito não se entendem estas palavras 
Aqui termina o discurso de Jesus na sinagoga de Cafarnaum. Muitos discípulos achavam que Jesus estava indo longe demais, que acabava com a celebração da Páscoa, que se colocava no lugar mais central de nossa religião. Por isso, muita gente se desligou da comunidade e não ia mais com Jesus. Jesus reagiu dizendo: “É o espírito que dá vida, a carne para nada serve. As palavras que vos disse são espírito e vida.” Não devem tomar ao pé da letra as coisas que ele diz. Só mesmo com a ajuda da luz do Espírito Santo é possível entender o sentido pleno de tudo que Jesus falou (Jo 14,25-26; 16,12-13).
7. João 6,67-71: 7º Diálogo: Confissão de Pedro 
No fim sobram só os doze. Jesus diz a eles: “Se quiserem, podem ir embora!” Jesus não fazia questão de ter muita gente. Nem mudava o discurso quando a mensagem não agradava. Jesus falava para revelar o Pai e não para agradar a quem quer que fosse. Preferia permanecer só do que estar acompanhado por pessoas que não se comprometiam com o projeto do Pai. A resposta de Pedro foi bonita: “A quem iremos? Você tem palavras de vida eterna!” Mesmo sem entender tudo, Pedro aceitou Jesus e creu nele. Apesar de todos os seus limites, Pedro não era como Nicodemos que queria ver tudo bem claro de acordo com as suas próprias ideias. E, mesmo assim, entre os doze havia gente que não aceitava a proposta de Jesus.
III. Alargando
O Sinal do Novo Êxodo
O sinal da multiplicação dos pães aconteceu próximo da Páscoa (Jo 6,4). A Festa da Páscoa era a memória perigosa do Êxodo, a libertação do povo das garras do faraó. Assim, todo o episódio narrado neste capítulo tem um paralelo com os episódios relacionados com a Festa da Páscoa, tanto com a libertação do Egito quanto com a caminhada do povo no deserto em busca da terra prometida. Apresentaremos este paralelo nos pequenos blocos que formam o capítulo 6 do Evangelho de João:
1. A multiplicação dos pães (Jo 6,1-15)
Jesus tem diante de si a multidão faminta e o desafio de garantir o alimento para todos. Da mesma maneira, Moisés enfrentou este desafio durante a caminhada do povo pelo deserto (Ex 16,1-35; Nm 11,18-23). Depois de comer, a multidão saciada reconhece Jesus como o “Profeta que devia vir ao mundo” (Jo 6,14) dentro do que pede a Lei da Aliança (Dt 18,15-22).
2. Jesus caminha sobre o mar (Jo 6,16-21)
Para o povo da Bíblia, o mar era o símbolo do abismo, do caos, do mal (Ap 13,1). No Êxodo, o povo faz a travessia para a liberdade enfrentando e vencendo o mar. Deus divide o mar com seu sopro, e o povo atravessa com pé enxuto (Ex 14,22). Em outras passagens, a Bíblia mostra Deus vencendo o mar (Gn 1,6-10; Sl 104,6-9; Pr 8,27). Vencer o mar significa impor-lhe os seus limites e impedir que ele engula toda a terra com suas ondas. Nesta passagem, Jesus revela sua divindade, dominando e vencendo o mar, impedindo que a barca de seus discípulos seja tragada pelas ondas.
3. O discurso sobre o Pão da Vida (Jo 6,22-58)
Este longo discurso feito na sinagoga de Cafarnaum está relacionado com o capítulo 16 do livro do Êxodo. Vale a pena ler todo este capítulo de Êxodo, percebendo as dificuldades que o povo teve que enfrentar na sua caminhada, para podermos compreender os ensinamentos de Jesus aqui no capítulo 6 do Evangelho de João. Quando Jesus fala de “um alimento que perece” (Jo 6,27), ele está lembrando
Ex 16,20. Da mesma forma, quando os judeus “murmuram” (Jo 6,41), fazem a mesma coisa que os israelitas no deserto, quando duvidaram da presença de Deus junto com eles durante a travessia (Ex 16,2; 17,3; Nm 11,1). A falta de alimentos fazia com que o povo duvidasse que Deus estivesse com eles, de que Deus fosse Javé, resmungando e murmurando contra Deus e contra Moisés. Aqui também os judeus duvidam da presença de Deus em Jesus de Nazaré (Jo 6,42).