O AMANHECER DO EVANGELHO

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE

PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CMXXXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM -ANO B

MINHAS PALAVRAS NÃO PASSARÃO

 É fácil observar que em nossa liturgia romana há certa correspondência entre as celebrações litúrgicas e o que se passa no clima e nas estações do hemisfério norte.O Natal se celebra no coração do inverno, lembrando a noite fria de Belém e a noite dos tempos dentro da qual brilhou a luz de Cristo.A Páscoa celebra-se na primavera, quando a vida brota em toda parte nos campos e nas florestas. Pentecostes e o tempo que se lhe segue já caminham paralelos ao verão e ao calor que amadurece os frutos, como amadurecem os frutos da vida cristã ao fogo do Espírito Santo. E quando o outono vai despindo as árvores de suas folhas e fazendo rarear as flores nos prados e nos jardins, celebra-se o dia de Finados e aparece a leitura do evangelho do fim do mundo. Há uma sensação de fim, convidando à meditação.Fim do mundo é um tema muito fascinante. Surgiu, até, nos séculos imediatamente anteriores e posteriores à vinda de Cristo, a literatura chamada apocalíptica. Ela anunciava a intervenção de Deus no fim da História e indicava os sinais que a precederiam: terremotos, eclipses e toda classe de sinais no céu e na terra.Criava-se assim uma expectativa cheia de curiosidade e de susto. Como comparou um moderno comentador do Evangelho (Johan Konings), é como quem está aguardando o ônibus. Fica olhando para a estrada, e, cada veículo que desponta na última curva, pensa que é o seu ônibus. Quanta coisa se escreveu, sobretudo na Idade Média, sobre o fim do mundo! Quanto medo já se incutiu, sobretudo em espíritos supersticiosos!Jesus – que não desdenhou servir-se da literatura apocaIíptica – disse uma palavra muito peremptória: ” Acerca daquele dia e daquela hora, ninguém sabe nada, nem os anjos do céu, nem o Filho, exceto o Pai” (Mc 13, 32).Mas disse também antes disso: “Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão” ( Ib., v 30). O mundo é provisório. Deve terminar. Mas a palavra de Jesus é eterna. E é ela que deve orientar nossa vida e nossas preocupações. Ela nos ensina que não somos provisórios. Somos destinados à vida eterna.Por isso mesmo, a Igreja é eminentemente escatológica, como nos ensina o Vaticano II ( L G, 48) : somos destinados a uma vida futura.Não teria sentido a pregação do Evangelho, não teria sentido a Igreja, não teriam sentido os sacramentos, o culto, a oração, se não fosse essa vida futura para a qual caminhamos.Dentro de nós está plantada a semente do futuro. Ou, mais propriamente falando, já estamos no futuro. Incorporados à Ressurreição de Cristo pelo batismo, já pertencemos ao mundo que há de vir .Cabe-nos viver sabiamente nossa condição de peregrinos neste planeta provisório. Aproveitar bem o tempo -“redimentes tempus” – como está escrito magistralmente na carta ao efésios (Ef 5, 16). Cabe-nos humanizar a terra, fazendo que o Evangelho penetre em todas as estruturas, desde os governos e as organizações políticas, até às artes, à cultura, à técnica, à exploração racional dos recursos da natureza, visando o bem integral do homem: do homem todo e de todos os homens. Sempre me pareceu que, dentre as virtudes teologais, a esperança é uma virtude particularmente luminosa. Ela projeta no meio das sombras da vida presente – onde não faltam as dúvidas, as incertezas e as angústias – um reflexo da certeza da luz eterna.Esperança foi definida como “um empréstimo antecipado de felicidade”. E é assim mesmo. Por isso é que nos diz São Paulo que aqui na terra devemos viver “alegres na esperança” ( Rm 12, 12).Essa esperança é que nos impedirá, inclusive, de nos desalentarmos pelo desconforto do provisório, ou de nos apegarmos ao provisório dos prazeres terrenos.LEITURAS do XXXIII Domingo do Tempo Comum – Ano B:

1ª – Dn 12, 1-3.

2ª – Hb 10,11-14,18.

3ª – Mc 13, 24-32.