I DOMINGO DA QUARESMA – ANO B
Mc 1, 12-15. – “SE ÉS FILHO DE DEUS…”
– JESUS FOI TENTADO NO DESERTO DE JERICO –

A Bíblia explicada em Capítulos e versículos–

O amanhecer do Evangelho- Pe. Lucas –

Reflexões e ilustrações de Pe. Lucas de Paula Almeida, CM

A Noroeste de Jericó, há um maciço montanhoso, inculto e áspero, que tem o nome de
“Monte da Quarentena” (Djebel Garantal). Nesse lugar, segundo a tradição, é que Jesus se retirou
para quarenta dias de jejum e oração, logo depois do batismo recebido nas águas do rio Jordão. A
primeira quaresma do cristianismo! E aí, como nos contam os evangelhos, Jesus foi agredido pelo
demônio com três violentas tentações. Misteriosas tentações, na verdade, pelas quais o divino
Salvador quis ser solidário com nossa condição de frágeis criaturas humanas, sujeitas a todo o tipo de tentações. É claro que Ele jamais poderia ceder a nenhuma tentação; mas quis com seu exemplo ensinar-nos o modo de vencê-Ias. Como disse elegantemente o nosso Padre Vieira, no sermão que pregou em Roma, num.primeiro domingo da Quaresma, na igreja de Santo Antônio dos Portugueses: “Permitiu, pois, Cristo Senhor nosso ser tentado do demônio hoje, não para se honrar com a vitória (que era pequeno triunfo), mas para nos ensinar a vencer com seu exemplo”.
O evangelho de Marcos, na sua costumeira concisão, nos diz apenas que Jesus se retirou para
o deserto e aí foi tentado por Satanás, e os anjos o serviam (cfr Mc 1,12 -13). Mas tanto Mateus
como Lucas desenvolvem a narração das tentações e da vitória. Jesus tinha passado quarenta dias
em jejum, e estava sentindo fome. O demônio começou por aí: “Se és filho de Deus, manda que
estas pedras se transformem em pães” (Mt 4, 3).
A resposta de Jesus foi imediata: “Está escrito: ‘Não só de pão vive o homem, mas de toda a
palavra que sai da boca de Deus’” (v 4). O tentador o levou, então, à Cidade Santa e o colocou no
pináculo do Templo. E o desafiou: “Se és Filho de Deus, atira-te daqui para baixo, pois está escrito: ‘Ele dará ordem a seus anjos a teu respeito, e eles te tomarão pelas mãos, para não tropeçares em alguma pedra”’.
E Jesus respondeu prontamente: “Também está escrito: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’
(ibid., vv 6 e 7). É interessante notar que uma desta tentação vai reaparecer no Calvário: “Se és
Filho de Deus, desce da cruz” (Mt 27, 40). E veio, então, a terceira tentação. Por não sabermos qual sorte de fantasmagoria, o demônio transportou Jesus a um monte altíssimo, e ali daquelas alturas lhe mostrou o deslumbrante espetáculo da grandeza de todos os reinos do mundo. E lançou seu insolente desafio: “Eu te darei tudo isto, se prostrado me adorares”. E Jesus respondeu com nobre majestade: “Vai-te, Satanás, porque está escrito: ‘Ao Senhor teu Deus adorarás e só a Ele prestarás culto” (vv. 8-10). Aí, o demônio o deixou em paz e vieram os anjos do céu para servi-lo. E fácil descobrir como essas tentações correspondem às três áreas de inclinação para o mal
a que está sujeito o homem nesta terra: a área dos prazeres dos sentidos, a área da soberba e da
vaidade, e a área da cobiça dos bens e do dinheiro. Os três ídolos aos quais o homem de hoje
presta sua adoração: o prazer, o poder, o dinheiro. E Jesus nos ensina o caminho para vencer essas más inclinações. E procurar a força de Deus, a força de sua palavra, que ilumina os caminhos e nos dá coragem para caminhá-Ios.
A Quaresma está aí para nos ajudar nesse trabalho. Para nos levar à conversão, na medida
em que dela precisamos. E justamente nos traz neste primeiro domingo o exemplo de Jesus.
Convidamos a usar o remédio que Ele usou: a Palavra de Deus, a oração, o jejum.
Quaresma é tempo da Palavra de Deus. Como não lembrar as famosas pregações quaresmais de
outros tempos? Os pastores de hoje, em estilo mais modesto, sabem descobrir novos caminhos
para a catequese e a evangelização. A Campanha da Fraternidade cumpre em grande parte esse
papel. Quaresma é tempo de oração.
Rezar mais e, sobretudo, rezar melhor. E incrível a desproporção entre os poucos minutos
diários que os cristãos, na média, dedicam à oração, e as muitas horas gastas nas outras
ocupações! Quaresma é tempo de jejum e penitência. A Igreja abrandou muito a antiga disciplina do jejum, que era observado outrora realmente durante quarenta dias. Em parte ela o fez, olhando para os milhões de cristãos de hoje, que fazem um jejum forçado, pelas condições de pobreza em que se encontram. Mas não estamos dispensados do jejum. Ou melhor, não estamos dispensados de praticar a sobriedade cristã, que nos faz moderar o uso da comida e da bebida e fugir de todos os excessos, por exemplo, no hábito de fumar.
Vamos desejar e esperar que a Quaresma nos leve a um conhecimento sempre maior de Jesus
Cristo – é o que pede a “coleta” da missa deste domingo – de quem vamos celebrar no fim destes
quarenta dias a Sagrada Paixão, a Morte e a Ressurreição.
LEITURAS do 1 domingo da Quaresma – Ano B:
1º – Gn 9. 8-15.
2º -1 Pd 3.18-22.
3º – Mc 1, 12-15.

Marcos 3,7-12 – Os espíritos maus gritavam: “Tu és o Filho de Deus!”

A Bíblia explicada em Capítulos e versículos–

O amanhecer do Evangelho- Pe. Lucas –

Reflexões e ilustrações de Pe. Lucas de Paula Almeida, CM

JESUS SE DIZ FILHO DE DEUS – João 10, 31- 42 –

A Bíblia explicada em Capítulos e versículos–

O amanhecer do Evangelho- Pe. Lucas –

Reflexões e ilustrações de Pe. Lucas de Paula Almeida, CM

Marcos 3,7-12 – Os espíritos maus gritavam: “Tu és o Filho de Deus!”

A Bíblia explicada em Capítulos e versículos–

O amanhecer do Evangelho- Pe. Lucas –

Reflexões e ilustrações de Pe. Lucas de Paula Almeida, CM

1) Oração

Deus eterno e todo-poderoso, que governais o céu e a terra, escutai com bondade as preces do vosso povo e dai ao nosso tempo a vossa paz. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

2) Leitura do Evangelho  (Marcos 3,7-12)

Naquele tempo, 7Jesus se retirou para a beira do mar, junto com seus discípulos. Muita gente da Galileia o seguia. 8E também muita gente da Judeia, de Jerusalém, da Iduméia, do outro lado do Jordão, dos territórios de Tiro e Sidônia, foi até Jesus, porque tinham ouvido falar de tudo o que ele fazia. 9Então Jesus pediu aos discípulos que lhe providenciassem uma barca, por causa da multidão, para que não o comprimisse.

10Com efeito, Jesus tinha curado muitas pessoas, e todos os que sofriam de algum mal jogavam-se sobre ele para tocá-lo. 11Vendo Jesus, os espíritos maus caíam a seus pés, gritando: “Tu és o Filho de Deus!” 12Mas Jesus ordenava severamente para não dizerem quem ele era.

– Palavra da Salvação.

3) Reflexão

*  A conclusão a que se chega, no fim destes cinco conflitos (Mc 2,1 a 3,6), é que a Boa Nova de Deus tal como era anunciada por Jesus dizia exatamente o contrário do ensinamento das autoridades religiosas da época. Por isso, no fim do último conflito, se prevê que Jesus não vai ter vida fácil e será combatido. A morte aparece no horizonte. Decidiram matá-lo (Mc 3,6). Sem uma conversão sincera não é possível as pessoas chegarem a uma compreensão correta da Boa Nova.

*  Um resumo da ação evangelizadora de Jesus. Os versículos do evangelho de hoje (Mc 3,7-12) são um resumo da atividade de Jesus e acentuam um enorme contraste. Um pouco antes, em Mc 2,1 a 3,6, só se falou em conflitos, inclusive em conflito de vida e morte entre Jesus e as autoridades civis e religiosas da Galileia (Mc 3,1-6). E aqui no resumo, aparece o contrário: um movimento popular imenso, maior que o movimento de João Batista, pois veio gente não só da Galileia, mas também da Judeia, de Jerusalém, da Iduméia, da Transjordânia e até da região pagã de Tiro e Sidônia para encontrar-se com Jesus! (Mc 3,7-12). Todos querem vê-lo e tocar nele. É tanta gente, que o próprio Jesus fica preocupado. Ele corre o perigo de ser esmagado pelo povo. Por isso, pediu aos discípulos para manter um barco à disposição a fim de que o povo não o apertasse. E do barco falava à multidão. Eram sobretudo os excluídos e os marginalizados que vinham a ele com seus males: os doentes e os possessos. Estes, que não eram acolhidos na convivência social da sociedade da época, são acolhidos por Jesus. Eis o contraste: de um lado, a liderança religiosa e civil que decide matar Jesus (Mc 3,6); do outro lado, um movimento popular imenso que busca a salvação em Jesus. Quem vai ganhar?

*  Os espíritos impuros e Jesus. A insistência de Marcos na expulsão dos demônios é muito grande. O primeiro milagre de Jesus é a expulsão de um demônio (Mc 1,25). O primeiro impacto que Jesus causa no povo é por causa da expulsão dos demônios (Mc 1,27). Uma das principais causas da briga de Jesus com os escribas é a expulsão dos demônios (Mc 3,22). O primeiro poder que os apóstolos vão receber quando são enviados em missão é o poder de expulsar os demônios (Mc 6,7). O primeiro sinal que acompanha o anúncio da ressurreição é a expulsão dos demônios (Mc 16,17). O que significa expulsar os demônios no evangelho de Marcos?

*  No tempo de Marcos, o medo dos demônios estava aumentando. Algumas religiões, em vez de libertar o povo, alimentavam nele o medo e a angústia. Um dos objetivos da Boa Nova de Jesus era ajudar o povo a se libertar deste medo. A chegada do Reino de Deus significou a chegada de um poder mais forte. Jesus é “o homem mais forte” que chegou para amarrar o Satanás, o poder do mal, e roubar dele a humanidade prisioneira do medo (Mc 3,27). Por isso, Marcos insiste tanto, na vitória de Jesus sobre o poder do mal, sobre o demônio, sobre o Satanás, sobre o pecado e sobre a morte. Do começo ao fim, com palavras quase iguais, ele repete a mesma mensagem: “E Jesus expulsava os demônios!” (Mc 1,26.27.34.39; 3,11-12.15.22.30; 5,1-20; 6,7.13; 7,25-29; 9,25-27.38; 16,9.17). Parece até um refrão! Hoje, em vez de usar sempre as mesmas palavras preferimos usar palavras diferentes. Diríamos: “O poder do mal, o Satanás, que mete tanto medo no povo, Jesus o venceu, dominou, amarrou, destronou, derrotou, expulsou, eliminou, exterminou, aniquilou, abateu, destruiu e matou!” O que Marcos nos quer dizer é isto: “Ao cristão é proibido ter medo de Satanás!” Depois que Jesus ressuscitou, já é mania e falta de fé apelar, a toda hora, para Satanás, como se ele ainda tivesse algum poder sobre nós. Insistir no perigo dos demônios para chamar o povo de volta para as igrejas é desconhecer a Boa Nova do Reino. É falta de fé na ressurreição de Jesus!

4) Para um confronto pessoal

1) Como você vive a sua fé na ressurreição de Jesus? Contribui para vencer o medo?

2) Expulsão dos demônios. Como você faz para neutralizar esse poder em sua vida?

5) Oração final

Exultem e se alegrem em ti todos os que te buscam; digam sempre: “O SENHOR é grande” os que desejam a tua salvação. (Sal 39, 17)

QUEM É JESUS? O FILHO DE DEUS – VÍDEO LINDO DEMAIS – PADRE LUCAS https://www.youtube.com/watch?v=nIjmi5STDDk&t=11s

Quando Jesus tinha 30 anos de idade, certo dia saiu de casa e se pos a caminho pelas estradas da judeia e da samaria a fim de anunciar a chegada do reino de seu Pai. Imaginemos a figura de Maria junto à porta daquela casa pobre, em Nazaré, que era também oficina de carpinteiro. Quando Jesus desapareceu ao longe da estrada tortuosa, Maria se recolheu e fez a mais bela oração de mãe pelo Filho que iniciava a sua missão divina. Por onde passava, deixava uma linha divisória entre a justiça e o pecado. Amava os pobres sem odiar os ricos. Pregava a verdade e desmascarava a mentira sem cair em contradição . Tinha sempre uma resposta justa e sábia, ungida de misericórdia. Sua pessoa e sua pregação atraiam as multidões. Muitos vinham de longe para vê-lo e ouvi-lo. A estes disse Jesus: “Bem-aventurados os vossos olhos, porque vêem. Ditosos os vossos ouvidos, porque ouvem! ” (Mt 13, 16). Um dia o próprio Cristo quis saber o que diziam dele. E perguntou aos discípulos: “Quem o povo diz que eu sou?”. Depois perguntou ainda aos mesmos discípulos: “E vocês, quem vocês vocês acham que eu sou? Então Pedro deu aquela resposta certa: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo””(Mt 16,13-16)

A TENTAÇÃO A JESUS
Vídeo – JESUS FOI TENTADO NO DESERTO DE JERICO –
REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM
I DOMINGO DA QUARESMA – ANO B

 

Vídeo – AS TENTAÇÕES A JESUS NO DESERTO –

                                        PUXANDO A CONVERSA: A LENDA DO CAVALO
Vocês certamente já conhecem aquela estória do homem que se propôs a rezar um “Painosso” bem rezado para ganhar um presente. Dizem que isso aconteceu em tempos
idos. Numa roda de amigos, todos falavam que era muito difícil a gente fazer uma oração
bem feita, sem nenhuma distração. A maioria dizia que de fato ninguém consegue rezar
um “Pai-nosso” sem distrair-se, ao menos um instante. Mas no meio daquela discussão,
apareceu um homem que disse ser capaz de rezar sem distrair-se.
Foi então combinado um valioso prêmio, se ele chegasse ao fim do Pai-nosso, sem se
atrapalhar e sem desviar o seu pensamento. O pessoal fez silêncio dentro daquela sala.
Todos duvidavam da palavra do homem: “Vamos ver se ele é capaz”. O cavalo estava lá
fora, segurado firmemente por alguém. Um belo animal, bem arreado.
O homem fez o sinal da cruz, impôs respeito e começou a rezar: “Pai nosso que estais no
céu, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino… Escuta, é com arreio
também?” Uma pergunta: Que é que fez o infeliz do homem distrair-se e cair em
tentação? Duas coisas: o orgulho e a ambição. Daí tiramos uma conclusão: Para não
cairmos em tentação, devemos ser humildes e desapegados dos bens deste mundo.
O próprio Jesus um dia foi tentado pelo demônio.

A PALAVRA DE DEUS – (Mt 4,1-11)
Depois do seu batismo, Jesus, cheio do Espírito santo voltou do rio Jordão. E foi levado
ao deserto, pelo Espírito de Deus. Ali Ele foi tentado pelo demônio durante quarenta dias.
Ele não comeu nada nesse tempo todo. No fim, ele ficou com fome. Então, o demônio
disse: “Se você é o filho de Deus, mande esta pedra virar pão”. Mas Jesus respondeu:
“Está escrito o homem não vive só de pão”. Aí, o demônio levou Jesus para um lugar
mais alto.
Em um segundo, ele mostrou para Jesus todos os reinos do mundo e disse: “Eu vou dar
para você todo esse poder e toda essa riqueza. Por que tudo isso foi entregue a mim. E
eu posso dar a quem eu quiser. Olhe bem! Tudo isso vai ser de você, se você se ajoelhar
diante de mim e me adorar”. Jesus respondeu: “Está escrito: Adore o senhor seu Deus.
Preste culto só a Ele”.

Depois, o demônio levou Jesus a Jerusalém e o colocou na parte mais alta do Templo.
E disse; “Se você é o Filho de Deus, pule daqui lá em baixo. Porque está escrito:
Deus vai mandar os seus anjos para cuidar de você.
E está escrito também: eles vão carregar você nos braços, para você não machucar os
pés em alguma pedra.” Então Jesus respondeu: “Está escrito: “Não vá tentar o Senhor
seu Deus”. Quando o demônio acabou de tentar Jesus de todas as maneiras ele foi-se
embora por algum tempo. (Mt 4,1-11)

a) POR QUE JESUS PERMITIU QUE O DEMÔNIO O TENTASSE?

Jesus permitiu que o demônio o tentasse para nos dar um exemplo. É como se nos
dissesse: Cuidado! Ninguém passará sem ser provado pela tentação. E, como foi a
tentação de Cristo assim será a nossa: Insistente, com aparência de coisa boa, e até
buscando fundamento na própria Bíblia. O diabo não se apresentou como inimigo de
Cristo, mas como amigo. Queria ver Jesus comer e sentir-se satisfeito. Queira que Jesus
manifestasse a sua glória saltando do alto do templo. Queria enfim que Cristo se
tornasse dono do mundo. Mas, na verdade, o que o diabo queria é que Cristo, sendo
Deus, lhe obedecesse e o adorasse. São essas as tentações que também nós temos:

DOS PRAZERES SENSUAIS OU DOS SENTIDOS;
DA GLÓRIA OU DO TRIUNFO TERRENO;
E DA POSSE DE MUITAS RIQUEZAS.
Todas essas tentações virão como coisas boas e oportunas como se elas nos fossem
tornar mais felizes, como se elas viessem do próprio Deus. Aí não podemos nos
esquecer dos ensinamentos do Evangelho. Cristo se defendeu com a própria palavra de
Deus, mostrando imediatamente ao diabo como as propostas dele contrariava a Bíblia
b) NÃO CONFIAR EM SI MESMO
Para não cairmos em tentação devemos desconfiar de nós mesmos e confiar muito na
graça de Deus. A obra da santificação só se realiza conjuntamente: com o nosso esforço
e com a ajuda de Deus. O orgulhoso caminha sempre à beira do abismo. E o que confia
somente em si próprio cairá com o seu fardo. Cristo fez jejum, passou noites em oração,
e, mesmo sendo Senhor absoluto do céu e da terra, por ser Deus, ainda assim nunca
falou mais do que era preciso. Antes, foi humilde e disse que ele não se gloriava a si
mesmo, porque sua glória vinha do pai. Disse ele: “Dei-vos o exemplo, para que assim
como eu fiz vós façais também”. Jesus já nos avisou que somos fracos e que não
podemos ter grandes pretensões, como se tudo dependesse de nossas forças e de
nossa obediência. Quem pede é porque sente falta de alguma coisa. Por isso, o autosuficiente não rezará bem o Pai Nosso, porque acha que não precisa pedir a Deus. São
Pedro jurou a Cristo que, mesmo que todos abandonassem o Mestre ele não o
abandonaria. Quis dar uma de valente perante os colegas e Cristo. Mas que acabou
acontecendo? No fim jurou que nem sequer conhecia Jesus de tanto medo de ser
perseguido. O próprio São Pedro dizia uma coisa muito importante:
“Sede sóbrios, e vigiai porque vosso inimigo, o demônio, vos rodeia como o leão que
ruge, à procura de quem devorar. Resisti-lhe, firmes na fé, sabendo que os mesmos
sofrimentos são impostos aos vossos irmãos no mundo inteiro…(1Pd 5,5-11)
Se de fato um leão solto, rugindo pelas ruas da cidade, será que alguém, se atreveria a
passar folgadamente pela praça? Pois bem: o demônio é para nossa vida de cristãos o
que é um leão bravio diante de qualquer animal. Por isso é que devemos tomar cuidado,
ser prudentes. Andar de olhos abertos para não cairmos no perigo.
Há um provérbio que diz: “Ajuda-te que Deus te ajudará”.
Quer dizer: não basta só pedir no Pai Nosso para que Deus nos livre da tentação e do
mal. É preciso que nosso comportamento se revista de prudência, evitando as ocasiões
de pecado. Por exemplo o homem dado ao álcool, se quiser abandonar o vício, a
primeira coisa que deve fazer é fugir da pinga, e não ficar rodeando os bares.
O homem que deseja romper com o adultério, não pode ficar passeando em volta da
casa de sua amante. A graça de Deus sempre nos é dada na medida em que a sabemos
aproveitar. Quem a despreza, uma, duas e mais vezes, não tem direito de ficar pedindo.
Há outro ditado que diz : “Deus não nega a sua graça para aquele que sempre faz o que
está ao seu alcance”
c) TENTAÇÃO E PECADO
O que pedimos no Pai Nosso é isso: “Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do
mal”. Nós não pedimos para Deus nos livrar de tentações. Pois a tentação em si, não é
pecado. Ninguém se condenará pelo fato de ter sido tentado. Antes, a tentação é uma
ocasião para mostrarmos o que somos. Se buscamos a Deus, a tentação nos ajudará a
chegar mais perto dele, desde que não nos entreguemos ao mal que ela nos apresenta.

Não há santo que não foi tentado, porque a santidade é uma conquista. Uma ascensão
através da virtude. Quanto mais obstáculos nós vencermos, mais glória se acumulará
para nós na eternidade. Uma coisa é dizer que a equipe ganhou os pontos, porque o
adversário não compareceu, outra coisa é conquistar um troféu porque de fato venceu o
jogo. Ninguém, pois, deve desanimar-se diante das tentações, porque elas não tiram
nosso merecimento, mas ao contrário elas aumentarão o nosso merecimento.
E Deus nunca tenta a ninguém acima das forças que o homem tem. Cristo nos falou:
“Disse-vos estas coisas para que tenhais paz em mim. Haveis de ter aflições no mundo;
mas tende confiança: Eu venci o mundo”(Jo 16,33).
A QUARESMA E O SEU SIGNIFICADO
Estamos entrando na quaresma, esses quarenta dias de oração e penitência com que a
Igreja nos prepara para a solene celebração da Páscoa. Quarenta era o número
particularmente significativo no mundo Bíblico. O dilúvio durou quarenta dias e quarenta
noites. O povo Hebreu viveu quarenta anos de vida nômade no deserto. Moisés passou
quarenta dias junto de Deus no Sinai. Mas, sobretudo, Jesus passou quarenta dias de
jejum no deserto, o que inspirou-o estabelecer-se na Igreja desses quarenta dias de
penitência da quaresma. O deserto de que se fala aqui nesse Evangelho não é um
deserto de areia, como Saara. É uma região pedregosa, árida e inculta, onde apenas na
primavera uma escassa vegetação dá uns sinais de vida. Trata-se do deserto de Judá e,
segundo a tradição, da elevação chamada Djebel-Qarantal, não longe de Jericó. Aí se
estabeleceram monges desde o século IV. Hoje está em mãos dos cristãos ortodoxos. É
sempre muito misterioso pensar em Jesus submetido às tentações do demônio. Ele, o
santo, Ele, um impecável, Ele, que jamais poderia sucumbir à tentação! A Carta aos
Hebreus diz que “ tendo ele mesmo sofrido pela tentação é capaz de socorrer os que são
tentados”.(Hb.2,18).
Uma vez que Ele se fez tudo igual a nós, exceto no pecado. Há proveitosas reflexões de
comentadores do Evangelho e de mestres espirituais que nos mostram como Jesus
passou pelas várias espécies de tentação porque nós passamos, resumidas na gula, na
soberba e na avareza. E nos mostrou como é na força da Palavra de Deus que
encontramos o meio de resistir às tentações. O nosso Padre Vieira disse elegantemente:
“Permitiu pois Cristo Senhor Nosso ser tentado do demônio hoje, não para si honrar com
a vitória (que era pequeno triunfo) mas para nos ensinar a vencer com seu exemplo”:
(Sermão do primeiro domingo da quaresma). Mas, segundo as mais ponderadas
considerações dos estudiosos, as tentações visavam o messianismo de Jesus. O
demônio queria tirar a dúvida se ele era realmente o Messias.
E queria desencaminhá-lo da idéia de um Messias sofredor destinado à morte, com está
nas profecias de Isaías, e levá-lo para a idéia de um Messias político e triunfador.
São três desafios:
1. “Se és o Filho de Deus”.
2. Iguais ao que vai aparecer no dia da crucifixão: “Se és o Filho de Deus, desça da
Cruz”.(MT 27,40). E, como só podia ser, Jesus resistiu a tudo com divina sabedoria.
Primeiro, foi a tentação de satisfazer a fome. Jesus tinha jejuado 40 dias e 40 noites( Não
como os muçulmanos no mês de Ramadã, que jejuam de dia mas comem durante a
noite.
Teve fome. Na frente estavam as pedras daqueles lugares selvagens. O demônio se
aproximou e lançou a tentadora insinuação: “Se és o filho de deus, manda que essas
pedras se transformem em pães”. E Jesus prontamente respondeu: “Está escrito: não só
de pão vive o homem mas de toda Palavra que sai da boca de Deus”.( MT 4,4).
O demônio, então o arrebata até Jerusalém e o coloca sobre o pináculo do Templo.
E lhe diz: “Se és Filho de Deus, atira-te daqui a baixo porque está escrito: Dará ordem a
seus anjos a teu respeito a fim de que te guardem”. E também: “Hão de ti levar em suas
mãos para que não tropeces em alguma pedra”.(LC 4,3-4)
E a resposta de Jesus foi mais do que pronta: “Foi dito: não tentarás ao Senhor Teu
Deus”. (LC 4,12). Deus pode fazer milagres e os faz. Porém nunca para satisfazer à
vaidade de alguém. Ele os faz, quando assim o determina sua Santíssima vontade.
E veio a terceira tentação ( em LC está em segundo lugar). Por não se saber qual o
prodígio de fantasmagoria, o demônio levou Cristo ao Cimo de um altíssimo monte donde
se viam todos os reinos do mundo com todo o seu esplendor. E lhe disse: “Tudo isso te
darei, se prostrado me adorares”. Foi quando Jesus respondeu com vibrante energia:
“Vai-te, satanás, porque está escrito: “Ao Senhor teu Deus adorarás e só a Ele prestarás
culto”. (MT 4,8-10). Quanta gente perde a dignidade e chega até perder a fé por causa do
dinheiro! É a cobiça do dinheiro, traduzida em todas as formas de especulação, que está
desequilibrando nosso país e amargurando a vida dos mais pobres. Se todos lessem o
Evangelho ! Quanto mais falta no mundo a Palavra de Deus, quanto mais se alarga a
estrada de todas as desordens a lição de Jesus vem nos ensinar como vencer as
tentações. Elas se vencem pela força de Deus. Como fez Jesus que, a cada arremetida
de satanás, respondeu com uma Palavra da escritura.
Não fez como nossos primeiros pais que confiaram em suas próprias forças e foram
derrotados. Temos que imitar Jesus, o novo Adão, e descobrir para nós a força de cada
Palavra do Livro de Deus que ele citou: “Não só de pão vive o homem, mas de toda
palavra que sai da boca de Deus”. (DT 8,3).“Não tentarás ao Senhor teu Deus” (DT 6,16).
“Ao Senhor Teu Deus adorarás e só a Ele servirás”( DT 6,13). Gosto de imaginar a
quaresma como um alto e confiante clamor da humanidade periclitante, erguendo-se na
direção do céu, pelas vozes de toda Igreja orante. Três ataques! Três vitórias! Tudo pela
força da Palavra de Deus! O demônio então se retirou e os anjos do céu se aproximaram
de Jesus para servi-lo. (MT 4,11).
LEITURAS do 19 domingo da Quaresma – Ano B:
1º – Gn 9. 8-15.
2º -1 Pd 3.18-22.
3º – Mc 1, 12-15.
EVANGELHO DO DIA E HOMILIA
(LECTIO DIVINA)
REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM
I DOMINGO DA QUARESMA – ANO B
1ª Domingo da Quaresma
1ª LEITURA: Gn 9,8-15 Leitura do Livro do Gênesis
Disse Deus a Noé e a seus filhos: Eis que vou estabelecer minha aliança convosco e com vossa
descendência, com todos os seres vivos que estão convosco: aves, animais domésticos e
selvagens, enfim, com todos os animais da terra, que saíram convosco da arca. Estabeleço
convosco a minha aliança: nunca mais nenhuma criatura será exterminada pelas águas do dilúvio,
e não haverá mais dilúvio para devastar a terra”. E Deus disse: “Este é o sinal da aliança que
coloco entre mim e vós, e todos os seres vivos que estão convosco, por todas as gerações
futuras: ponho meu arco nas nuvens como sinal de aliança entre mim e a terra. Quando eu reunir
as nuvens sobre a terra, aparecerá meu arco nas nuvens. Então eu me lembrarei de minha aliança
convosco e com todas as espécies de seres vivos. E não tornará mais a haver dilúvio que faça
perecer nas suas águas toda criatura. Palavra do Senhor.

SALMO RESPONSORIAL – Sl 24
R – Verdade e amor, são os caminhos do Senhor.
1 – Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos e fazei-me conhecer a vossa estrada!
Vossa verdade me oriente e me conduza, porque sois o Deus da minha salvação. – R
2 – Recordai, Senhor meu Deus, vossa ternura e a vossa compaixão que são eternas!
de mim lembrai-vos, porque sois misericórdia e sois bondade sem limites, Senhor! – R
3 – O Senhor é piedade e retidão, e reconduz ao bom caminho os pecadores.
Ele dirige os humildes na justiça, e aos pobres ele ensina o seu caminho. – R
2ª LEITURA: 1Pd 3,18-22- Leitura da primeira Carta de São Pedro
Caríssimos: Cristo morreu, uma vez por todas, por causa dos pecados, o justo pelos injustos, a
fim de nos conduzir a Deus. Sofreu a morte; na sua existência humana, mas recebeu nova vida
pelo Espírito. No Espírito, ele foi também pregar aos espíritos na prisão, a saber, aos que foram
desobedientes antigamente, quando Deus usava de longanimidade nos dias em que Noé construía
a arca. Nesta arca, umas poucas pessoas — oito — foram salvas por meio da água. À arca
corresponde o batismo que hoje é a vossa salvação. pois o batismo não serve para limpar o corpo
da imundice, mas é um pedido a Deus para obter uma boa consciência, em virtude da
ressurreição de Jesus Cristo. Ele subiu ao céu e está à direita de Deus, submetendo-se a ele
anjos, dominações e potestades.

Palavra do Senhor
EVANGELHO: Mc 1,12-15
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos
Naquele tempo, O Espírito levou Jesus para o deserto. E ele ficou no deserto durante
quarenta dias, e aí foi tentado por Satanás. Vivia entre os animais selvagens, e os anjos
o serviam. Depois que João Batista foi preso, Jesus foi para a Galiléia, pregando o
evangelho de Deus e dizendo: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está
próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!”
Palavra da Salvação.
Tentação de Jesus
O Espírito o impeliu para o deserto (Mc 1,12). Deserto é lugar de provação. É o lugar onde Deus
forma o homem. Os 40 dias (Mc 1, 13) relembrando a revelação de Moisés (Ex 34,28) e o caminho
de Elias (Rs 19, 1 -8). Também Israel esteve no deserto por 40 anos, duração de uma vida. Isto
significa que a vida de Jesus foi deserto e provação. tentação e luta, do princípio ao fim. Em virtude do nosso batismo, também nós passamos do sujeição à luta contra o mal. Trata-se de tini combate que dura a vida inteira.
Só quem não optou pelo bem não é tentado pelo mal. A vida humana é tentação e prova em todos
os sentidos, isto é, ela se desenvolve no perigo da liberdade de quem, por tentativas, deve entender e querer a verdade para a qual caminha. Satanás é o inimigo do homem. Por sua inveja, o mal entrou no mundo (Sb 2,24). É o ladrão da Palavra (cf. Me 4,15). Ele, com sua mentira, está na origem de todo mal, porque o homem se torna a palavra que escuta. Se ouve a Deus, torna-se como Ele, pai da verdade e amante da vida (Sb 11,26); se escuta Satanás, torna-se como ele, pai da
mentira e homicida desde o início (Lo 8,44).
Marcos, diferentemente de Mateus de Lucas, não especifica as tentações. Ele as deixa aparecer no
decorrer do Evangelho como perigo constante de antecipar a glória do Filho evitando a cruz do
servo.
Essa tentação geral se exprime em tentações individualizadas típicas de cada homem. A primeira
delas é o protagonismo que confunde o Reino de Deus com o sucesso do próprio eu. Aparece para
Jesus logo no primeiro dia de seu ministério, quando lhe diziam: “todos te procuram” (Me 1,35).
Pôr o próprio eu como fim absoluto, no lugar de Deus, é o egoísmo que originou todo mal (cf. Gn 3).
A segunda é busca de poder mundano para realizar o Reino de Deus. O fim é justo, porém o meio e impróprio. 0 Reino não se realiza com o poder, mas com a impotência de quem oferece a própria vida a serviço dos irmãos. Essa tentação aparece logo depois da multiplicação dos pães, quando influencia os discípulos a ir embora (Mc 6,45).
A terceira tentação é a busca do poder religioso. Consiste em querer sujeitar Deus à própria
vontade, em vez de sujeitar-se à vontade dele. Jesus vai,, passar essa tentação no horto das
oliveiras (Mc 14,32). Vivamos o tempo de Quaresma fortalecendo-nos, espiritualmente com a graça
divina!
LEITURAS do 1 domingo da Quaresma – Ano B:
1º – Gn 9. 8-15.
2º -1 Pd 3.18-22.
3º – Mc 1, 12-15.
EVANGELHO DO DIA E HOMILIA
(LECTIO DIVINA)
REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM
I DOMINGO DA QUARESMA – ANO B
“SE ÉS FILHO DE DEUS…”
Mc 1, 12-15
“Durante quarenta dias, no deserto, ele foi tentado por satanás”
Os três evangelhos sinóticos contam a história das tentações de Jesus no deserto – Marcos
de uma forma resumida, Mateus e Lucas mais detalhadamente. Mas, devemos lembrar que esses
relatos procuram expressar uma experiência mística de Jesus, e então não devem ser interpretados
ao pé da letra ou de uma maneira fundamentalista!
Uma coisa logo chama a atenção – nos três Evangelhos as tentações vêm logo após o
batismo de Jesus! O batismo significava o assumir público da sua identidade e missão, como Servo
de Javé. Logo após esse compromisso, Ele tem que enfrentar as tentações. Aqui a experiência de
Jesus é como a nossa própria – nós temos compromisso com o projeto de Deus, mas, entre o nosso
compromisso e a nossa prática do seguimento de Jesus, existem muitas tentações!!
Marcos sublinha que “o Espírito impeliu Jesus para o deserto”. O Espírito não conduz Jesus à
tentação, mas é a força sustentadora d’Ele, durante as suas tentações. Como o Espírito dava força a
Jesus, Marcos quer ensinar às suas comunidades que elas também poderão contar com este apoio
do Espírito Santo nos momentos difíceis da vivência da sua fé!
O relato mais desenvolvido de Lucas (Lc 4, 1-14) pode nos ajudar a aprofundar o sentido das
tentações de Jesus. Nelas podemos reconhecer as mesmas tentações que nós, individualmente e
comunitariamente, enfrentamos na nossa caminhada da fé hoje! Primeiro, Jesus é tentado a mandar
que uma pedra se torne pão.
Podemos ver aqui a tentação do “prazer” – logo que enfrenta um sacrifício por causa da sua opção,
Jesus é tentado a escapar dele! Uma tentação das mais comuns hoje, em um mundo que prega a
satisfação imediata dos nossos desejos, criando necessidades falsas através de sofisticadas
campanhas de propaganda. Pois, vivemos em uma sociedade que prega o individualismo, onde a
regra é “se quer, faça!”, e onde sacrifício, doação e solidariedade são considerados como ladainha
dos perdedores! É só olhar o número de casamentos que fracassam diante da primeira crise, ou a
quantia de seminaristas, religiosos/as e padres que desistem, às vezes pouquíssimo tempo depois
de professar os seus votos ou de se ordenar, diante de uma sentida falta de “auto-realização
imediata”.
A resposta de Jesus é contundente: “Não só de pão vive o homem”. O homem vive de pão
certamente, mas não só! Jesus não é sádico, contra o necessário para viver dignamente. Mas
salienta muito bem que não é somente a posse de bens que traz a felicidade, mas a busca de
valores mais profundos, como a justiça, a partilha, a doação, a solidariedade com os sofredores. Não
faz nenhum contraste falso entre bens materiais e espirituais – ambos são necessários para que se
tenha a vida plena! Nessa frase, Jesus desautoriza tanto os que buscam a sua felicidade na simples
posse de bens, como os que dispensam a luta pelo pão de cada dia para todos!
A segunda tentação pode ser vista como a do “ter”. De novo algo muito atual! Nós vivemos na
sociedade pós-moderna da globalização do mercado, do neoliberalismo, do consumismo, do
“evangelho” do mercado livre. Diariamente, a televisão traz para dentro das nossas casas a
mensagem de que é necessário “ter mais”, e que não importa “ser mais”! Como sempre, a tentação
vem em forma atraente – até a Igreja pode cair na tentação de achar que a simples posse de bens,
que podem ser usados em favor da missão, garantirá uma pregação mais evangélica. Isso sem falar
das pregações midiáticas que glorificam um Deus que supostamente faz da posse de bens materiais
sinal da sua bênção! Somos tentados a não acreditar na força dos pobres, de não seguir o caminho
do carpinteiro de Nazaré. Jesus também teve que enfrentar esta tentação – Ele que veio para ser
pobre com os pobres, para mostrar o Deus que opta preferencialmente pelos sofredores, é tentado a
confiar nas riquezas! Para o diabo – e para o nosso mundo que idolatra o bem-estar material e o
lucro, mesmo sacrificando a justiça social – Jesus afirma: “Você adorará o Senhor seu Deus, e
somente a ele servirá” (v. 8).
A terceira tentação pode ser entendida como a do “poder”. Uma tentação permanente na
história da Igreja e dos cristãos. Quantas vezes a Igreja confiava mais no poder secular do que na
fragilidade da cruz, para “evangelizar”. Quanta aliança entre a cruz e a espada – a América Latina
que diga! Ainda hoje todos nós enfrentamos esta tentação – não de ter poder para servir, mas de
confiar no poder aparente deste mundo, mais do que na fraqueza aparente de Deus. Jesus, que veio
para servir e não para ser servido, que veio como o Servo de Javé e não como dominador, teve que
clarificar a sua vocação e despachar o diabo com a frase: “Não tentarás o Senhor seu Deus” (v. 12).
Realmente, podemos nos encontrar nas tentações de Jesus! São as tentações do mundo
moderno – o ter, o poder e o prazer! Coisas boas em si, quando bem utilizadas conforme a vontade
de Deus, mas altamente destrutivas quando tomam o lugar de Deus em nossas vidas! Jesus teve
que enfrentar o que nós enfrentamos – o “diabo” que está dentro de nós, o tentador que procura nos
desviar da nossa vocação de discípulos. O relato de Lucas nos coloca diante da orientação básica
para quem quer vencer: “Você adorará o Senhor seu Deus, e somente a ele servirá” (Lc 4, 8).
LEITURAS do 19 domingo da Quaresma – Ano B:
1º – Gn 9. 8-15.
2º -1 Pd 3.18-22.
3º – Mc 1, 12-15.
EVANGELHO DO DIA E HOMILIA
(LECTIO DIVINA)
REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM
I DOMINGO DA QUARESMA – ANO B
Vídeo – JESUS FOI TENTADO NO DESERTO DE JERICO –

Vídeo – AS TENTAÇÕES A JESUS NO DESERTO –

No Deserto
Estamos no início da QUARESMA. Quaresma é o grande retiro espiritual dos cristãos em
preparação da festa da Páscoa. É o coração do ano litúrgico e o cume da fé cristã.
Na Igreja Primitiva, na Quaresma fazia-se a preparação próxima do Batismo.
As Leituras nos introduzem no caminho da renovação do Batismo e nos chamam à conversão.
A 1
a Leitura evoca o Dilúvio, o 1° BATISMO pelo qual todo o Universo teve de passar para que surgisse uma
nova criação. (Gn 9,8-15)
Começamos a ler a Historia da salvação a partir do episódio do Dilúvio, quando Deus salvou o justo Noé e sua
família e fez a primeira Aliança com a humanidade. Através do dilúvio, Deus purificou a humanidade
corrompida. O Dilúvio foi o grande batismo de todo o Universo, que renasceu das águas para estabelecer uma
nova Aliança. E o arco-íris deixado por Deus no céu foi o sinal dessa Aliança, desse abraço entre o céu e a
terra, entre Deus e os homens.
A 2
a
Leitura, nos lembra que as águas purificadoras do Dilúvio são imagem das águas purificadoras do
Batismo. (1Pd 3,18-22)
* Pedro interpreta a figura de Noé e do Dilúvio em chave batismal. É uma antiga catequese Batismal da Igreja
primitiva.
O Evangelho resume as palavras inaugurais do ministério de Jesus, proclamando a graça do reino e chamando
os homens à conversão. (Mc 1,12-15)
O episódio das TENTAÇÕES de Jesus no DESERTO, mais do que uma narrativa histórica, trata-se de uma
Catequese.
– “O deserto”, para os judeus, é o lugar privilegiado do encontro com Deus. Foi no deserto que o Povo
experimentou o amor e a solicitude de Deus e foi no deserto que Deus propôs a Israel uma Aliança.
Foi também no deserto, que Israel tentou Deus: Valia a pena o êxodo: Não seria melhor permanecer no Egito ao
redor das panelas de carne e cebolas.
– Para Jesus o “deserto” é o “lugar” do encontro com Deus e do discernimento dos seus projetos. E é o “lugar”
da prova, da tentação de abandonar Deus e de seguir outros caminhos.
– “Quarenta dias” é um número simbólico, que lembra o tempo da caminhada do Povo no deserto e a
experiência de Moisés e de Elias.
– “Satanás” representa os que se opõem ao estabelecimento do seu Reino.
– “As tentações”: Marcos não especifica as tentações, mas elas simbolizam as provações que Jesus enfrentou
ao longo de toda a sua vida para se manter fiel à missão confiada por Deus.
Elas resumem também as tentações de todos nós…
A vida de Jesus será uma luta constante de superação até a vitória definitiva na cruz, através da Ressurreição.
Da sua opção, vai surgir um mundo de paz e de harmonia.
Jesus aparece como o novo Adão, que vence o tentador. Vencendo a tentação, Jesus inaugura a Aliança
definitiva, mais importante que a de Noé. Após ser Batizado e ter superado as Tentações no DESERTO,
Jesus inicia o seu trabalho apostólico, proclamando:
“O Reino já chegou… Convertei-vos e crede no evangelho”.
As mesmas palavras, que ouvimos quarta feira passada ao receber as cinzas e que são um resumo do espírito da
Quaresma, que estamos iniciando.
* QUARESMA é DILÚVIO e DESERTO.
– É Dilúvio que arranca o pecado e leva a construir a área de Salvação e é Sinal de que Deus está em Paz
conosco.
– É Deserto pela espiritualidade do despojamento, que nos propõe.
* QUARESMA é CONVERTER-SE e CRER:
– “Converter-se” é muito mais que fazer penitências ou realizar privações momentâneas. É fazer com Deus seja
o centro de nossa existência e ocupe sempre o primeiro lugar.
– “Crer” não é apenas aceitar um conjunto de verdades intelectuais. É aderir à pessoa de Cristo, escutar a sua
proposta, acolhê-la no coração e fazer dela o guia de nossa vida.
A nossa Quaresma:
A Liturgia de hoje nos conscientiza da fidelidade de Deus e da necessidade de morrer ao homem velho
para ressuscitar com Cristo a uma vida nova.
Sinal eficaz desse passo é o Batismo; o caminho é a conversão até a Páscoa.
Gesto concreto:
O que pretendo fazer nesse tempo sagrado da Quaresma?
Planejei gestos concretos:
– Quais são os momentos especiais de Oração… de Deserto?
– Qual a minha Penitência quaresmal, proveitosa para mim e agradável a Deus?
– Quais os atos de Caridade que pretendo realizar?
– O que poderia fazer para promover a minha saúde e de todos os irmãos,
para que “a saúde se difunda sobre a terra”.
Esse é o caminho para que a Páscoa aconteça dentro de cada um de nós…