Lc 2,22-40 – Festa da Sagrada Familia –
A Bíblia explicada em capítulos e versículos-
Reflexões e ilustrações de Pe. Lucas de Paula Almeida,CM
FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA
A FAMíLIA DE NAZARÉ
São Lucas, que se pode chamar “o evangelista do coração”, tem páginas que tocam profundamente o coração da gente. É ele que conta a parábola do filho pródigo, a conversão do publicano Zaqueu, da pecadora Madalena e do ladrão crucificado ao lado de Jesus. Narra também vários fatos da infância de Jesus e coroa a história dessa infância, narrando o episódio da peregrinação a Jerusalém, quando o Menino se afastou da comitiva e só foi encontrado três dias depois, no Templo, encantando aos doutores com suas perguntas e suas respostas. As mães são aquelas que mais vivamente percebem a dolorosa beleza dessa página. Principalmente se é alguma mãe que teve a triste experiência de um filho afastado de casa, sem ela saber o paradeiro. Um seqüestro talvez! Curiosamente isso acontece às vezes em romarias, como aconteceu com Maria e José nessa peregrinação ao Templo.
A Liturgia nos faz ler este episódio na missa deste domingo depois do Natal, que é dedicado a celebrar a Sagrada Família. E muito sabiamente! Muito pedagogicamente! Porque nesse episódio aparecem de maneira muito viva os valores da família: a dedicação e a responsabilidade dos pais, o tesouro que é um filho, a religião na família, o deixar-se guiar pela vontade de Deus, manifestado de maneira tão sublime nas palavras do Menino Jesus: “Não sabíeis que eu me devo ocupar nas coisas de meu Pai?” (Lc 2,49). São Lucas registra que Maria ia guardando a lembrança de todas essas coisas no seu coração (Ibid., v 51).
Ficou muito bem ter a Igreja colocado dentro das comemorações do mistério do Natal esse olhar para a Sagrada Família. Jesus quis passar por essa experiência. Não apareceu de repente já adulto, pregando ao povo. Como assinalou elegantemente o Papa Leão XIII, o divino Sol da justiça, antes de iluminar o mundo com a plenitude do seu esplendor, quis brilhar suavemente entre as paredes de um lar: a humilde casa de Nazaré.
Aí nós encontramos o amor, a fé, a harmonia, o trabalho, a humildade. E podemos adivinhar a edificação e a presença serviçal que dessa casa se irradiavam para a vizinhança. Era como se uma estrela tivesse baixado à terra para iluminar de perto a pequena aldeia da Galiléia. A família – realidade tão sagrada! – tem sido muito agredida pela mentalidade materialista e hedonista dos tempos que estamos vivendo. A Igreja vê tudo isso com apreensão.
E sabe que grande parte dos males da sociedade tem sua raiz na falta da família ou na família desajustada. Falta a preparação para o casamento, falta a seriedade do compromisso conjugal, falta o empenho para fazer de cada lar um ambiente de amor e de harmonia. Há muita família desajustada pela falta de recursos, por essa pobreza extrema que leva tanta gente ao desespero. Mas há também muita família desajustada, na qual não faltou o dinheiro, mas faltou o amor, faltou a coragem, faltou a fé. É mais do que sabido que com o dinheiro se constrói uma casa, até grande e luxuosa; mas com nenhum dinheiro deste mundo se constrói um lar.
O lar é feito de valores mais altos, esses valores exatamente que o materialismo vai destruindo. Há muitos jovens por aí que tomaram caminhos desviados, não porque Ihes tivesse faltado em casa dinheiro e conforto; mas porque Ihes faltou a sensação de que eram realmente amados. Eles também – é claro! – podem ter contribuído para isso, influenciados, talvez, por maus exemplos. O problema é freqüentíssimo em casais divorciados! E a escola do divórcio está aí abrindo suas portas escancaradamente, sobretudo através das luzes e das cores das telenovelas. Quanta responsabilidade!
O Concílio Vaticano II, na sua maravilhosa constituição sobre “A Igreja no mundo de hoje” -“Gaudium et Spes” – se estende ricamente sobre o problema da família. É preciso que os casais estudem esse documento. E aí aprenderão as melhores lições sobre o amor conjugal – gloriosamente ordenado à procriação de filhos -, sobre a educação da prole, sobre o lar como Igreja doméstica e escola de fé, sobre a família como primeira escola das virtudes sociais e como célula vital da sociedade, da qual, portanto, depende a saúde do corpo social.
Que a humilde casa de Nazaré ilumine com as luzes de seus sublimes exemplos cada família deste nosso planeta enlouquecido!
Leituras da Festa da Sagrada Família – Ano C:
1a) Sir 3,2-6,12-14
2a) CoI 3,12-21
3a) Lc 2,41-52
(LECTIO DIVINA)
REFLEXOES E ILUSTRAÇÕES DE
PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM
https://www.youtube.com/watch?v=0z6Ocn4SNDM
FESTA DA SAGRADA FAMILIA
Todos os anos, os pais de Jesus iam a Jerusalém para a festa da Páscoa. Quando Jesus já estava com 12 anos, eles foram a Jerusalém para a Festa como era costume. Depois da Festa da Páscoa Maria e José voltaram de Nazaré, mas o menino permaneceu em Jerusalém, sem que seus pais percebessem. Eles julgavam que Jesus estivesse num dos grupos da caravana, por isso seguiram um dia inteiro de caminho.Só então começaram a procurar o menino entre os parentes e conhecidos. Mas, como não o encontrassem, voltaram a Jerusalém à sua procura. Três dias depois o encontraram. Jesus estava no templo, sentado entre os explicadores ou professores da Lei, ouvindo-os, interrogando-os. Todos os que ouviam a Jesus ficaram maravilhados com suas respostas e com sua sabedoria. Quando seus pais o encontraram, ficaram admirados e sua mãe lhe perguntou: “Meu filho, por que você agiu dessa maneira? Seu pai e eu estávamos aflitos, procurando por você”. Mas, Jesus lhes respondeu: “Por que me procuravam? Não se lembraram que a minha missão é dedicar-me às coisas de meu Pai?” Eles, porém, não compreenderam o significado daquelas palavras. Jesus voltou com José e Maria, para Nazaré e lhes obedecia em tudo. Sua mãe guardava todas as suas palavras em seu coração. E Jesus crescia em idade, em sabedoria e em graça diante de Deus e diante dos homens. (LC 2,41-52)
UNIÃO DA FAMÍLIA: O SEGREDO DE UM MUNDO MELHOR
A Palavra de Deus, que acabamos de refletir, faz a gente pensar na dificuldade que a Sagrada Família passou e ao mesmo tempo nos ajudam a tirar alguns ensinamentos para as nossas famílias e ver em que podemos imitá-los:
Foram todos eles para a festa da Páscoa.
A Sagrada Família nos dá exemplo de vida religiosa. “Foram todos eles para a festa da Páscoa”.
Há muitos pais, hoje, que apenas mandam os filhos irem à igreja. Isso não resolve nada. Há um ditado que diz assim “as palavras comovem mas os exemplos arrastam”. O importante é dar o exemplo. Não é mandar ir, mas ir com eles. Assim os nossos filhos vão aprender a viver num ambiente cristão e depois vão ensinar o mesmo para os filhos deles.
- Voltaram a Jerusalém, procurando por ele.
A cena evangélica nos mostra o menino Deus perdido e depois encontrado por sua mãe, após 3 dias de angústias mortais na cidade de Jerusalém. Segundo autores sacros, esta foi a maior de todas as dores da Santíssima Virgem. Em todas as demais ocorrências dolorosas, Maria sofrerá debaixo dos olhares divinos de seu filho, e sua dor achará consolo na presença d’Aquele mesmo que a permite. Mas aqui, está sozinha, perdeu Jesus e Dele não terá consolo possível. Conta o evangelista que Maria procurou Jesus entre os grupos que vinham de Jerusalém para Nazaré, mas não o encontrou. Era costume entre os judeus, irem em duas caravanas: uma de mulheres e outra de homens. O menino poderia ficar tanto na caravana dos homens como na das mulheres. A menina ficava apenas na caravana das mulheres. Depois de cumprir o preceito em Jerusalém, Maria pensava que Jesus estava na caravana de José e José pensava que Jesus estava na caravana de Maria. Daí a confusão. 3 dias de caminhada até Nazaré.
Não encontrando o menino entre as caravanas, Maria procura-O entre os parentes e amigos. Nova decepção. Aí, tão pouco não fora visto. E voltam a Jerusalém novamente. Através dessa cena nós podemos ver o exemplo de união na família de Jesus. Quando José e Maria perceberam que Jesus tinha sumido, a primeira providência que tomaram foi saírem imediatamente à procura do filho.Eles não procuraram saber de quem é que era a culpa do menino ter sumido. Mas, juntos, eles procuraram logo uma solução para o problema. Isso demonstra a harmonia que existia entre eles. Um poeta diz que “amar, não é um olhar para o outro, mas é olharem os dois na mesma direção”. Como seria bom se os casais se acostumassem a olharem os dois sempre na mesma direção! A procurarem, sempre unidos, a solução para os muitos problemas que todos nós temos!
- Jesus voltou com seus pais para Nazaré
Depois que voltaram a Jerusalém, Maria e José encontraram o menino Jesus a conversar com os doutores da lei no Templo. E Jesus voltou com eles para Nazaré. Aqui, nós já vimos o exemplo do filho. Jesus sabia que ele era Deus. Mas ele queria nos dar exemplo de bom filho. “Ele voltou com eles para Nazaré, e era obediente”. É o exemplo da submissão dos filhos aos pais. É claro que os pais tem mais experiência, e que os filhos devem viver de acordo com eles. Assim, haverá harmonia na família. Mas os pais também tem que procurar oferecer o que há de melhor para os filhos: bons exemplos, antes de tudo.
- Sua mãe ia guardando tudo no coração
Nossa Senhora nos dá exemplo aqui, de confiança no plano de Deus. Ela ia guardando todos aqueles acontecimentos no seu pensamento e no seu coração. Ela sabia enxergar o dedo de Deus em todos os momentos, em todos os atos. A gente terá muito mais paz se procurar descobrir, em tudo, a vontade de Deus. Procurar saber o que Deus quer de nós, com cada provação que ele nos envia, com cada alegria que ele nos proporciona.
E Jesus ia crescendo em sabedoria
Por duas vezes, Lucas fala em crescimento na sabedoria e na graça. No evangelho de hoje, ao retornar do templo, e aos 12 anos, também ao voltar do templo. O templo era o lugar, a coisa mais sagrada que um hebreu tinha ou podia imaginar. Era o lugar da presença de Deus. Mas Jesus será o novo lugar da presença de Deus, o “novo templo”, erigido pelo Senhor e não pelas mãos dos homens (Hb 8,2). Nele e com ele, estava a sabedoria, isto é, a compreensão e o gosto pelas coisas de Deus. Nele e com ele, estava a graça de Deus e “de sua plenitude todos nós recebemos graça sobre graça”(Jo 1,16 ). Sua grandeza, porém, agora, está oculta numa vida de dia-a-dia no seio de uma família hebréia. Mais do que nunca, aplica-se, aqui, o verso do poeta francês: “O essencial é invisível”. Podemos ver aqui nesta passagem do Evangelho, o exemplo de uma perfeita assistência ao filho: “Jesus ia crescendo em sabedoria, em idade e em graça diante de Deus e diante dos homens”.
É necessário que a gente acompanhe os nossos filhos, orientando-os na vida. A família não deve apenas por os filhos no mundo. Mas dar-lhe uma educação para a vida. Criar, para eles, um ambiente de abertura, um ambiente de paz e alegria. Há muitos pais que nem se preocupam com a formação de seus filhos. São inúmeros os que não conhecem a escola onde eles estudam, nem conhecem seus professores. E os pais são os primeiros responsáveis na formação dos filhos. Os professores, apenas ajudam. É dever dos pais acompanhar em tudo a seus filhos, dialogar com eles, abrir-lhes os horizontes para um mundo melhor.

