O AMANHECER DO EVANGELHO

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM NOSSA SENHORA DAS DORES

1) Oração

Venha em nossa ajuda, Senhor, a poderosa intercessão da bem-aventurada Virgem Maria, Mãe e Rainha do Carmelo, para que, protegidos pelo seu auxílio, cheguemos ao verdadeiro monte da salvação, Jesus Cristo Nosso Senhor. Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.2) Leitura do Evangelho  (Jo 19,25-27)

Naquele tempo, 25Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena.26Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe: Mulher, eis aí teu filho. 27Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E dessa hora em diante o discípulo a levou para a sua casa.3) Reflexão   João 19,25-27
Jesus tem em suas mão seu destino

Estamos na metade do capítulo 19 do Evangelho de João, que começa com a flagelação, a coroação com a coroa de espinhos, a apresentação de Jesus por Pilatos para o povo: “Eis o homem” (Jo 19, 5), condenado à morte na cruz, a via sacra e a crucificação. Na narrativa da Paixão segundo João, Jesus tem em suas mãos o controle de sua própria vida e de tudo o que está acontecendo ao seu redor. Por esta razão, encontramos frases como: “Jesus veio para fora, trazendo a coroa de espinhos e o manto de púrpura” (v. 5) ou as palavras a Pilatos: “Não terias nenhum poder sobre mim, se eu tivesse dado do alto “(v. 11) além disso, o texto apresentado pela liturgia de hoje mostra que Jesus não só tem o controle de tudo o que está acontecendo, mas também o que está acontecendo ao redor. É muito importante o que descreve o evangelista:“Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse ….” (v. 26). As palavras de Jesus em sua simplicidade são as palavras da revelação, palavras com o que quer expressar a sua vontade: “Eis aí o teu filho” (v. 26), “Eis aí a tua mãe” (v.  27). Estas palavras de Jesus trazer à mente as palavras de Pilatos com as quais apresentou a pessoa de Jesus para o povo: “Eis o homem” (v. 5). Jesus desde seu trono, a cruz, com suas palavras, não só pronuncia a sua vontade, como também o que está verdadeiramente em seu amor por nós e qual é o fruto desse amor. É o Cordeiro de Deus, o pastor que dá a sua vida para reunir a todos em um só rebanho, a Igreja.Junto à cruz

Nessa passagem encontramos também uma palavra muito importante que se repete duas vezes, quando o evangelista fala da mãe de Jesus e do discípulo amado. O evangelista diz que a mãe de Jesus estava “junto à cruz” (v. 25) e o discípulo amado estava “perto dela” (v. 26). Este importante detalhe tem um significado bíblico muito profundo. Apenas o quarto evangelista diz que a mãe de Jesus estava junto à cruz. Os outros evangelistas não especificam.Lucas diz-nos que “Todos os conhecidos de Jesus, bem como as mulheres que o acompanhavam desde a Galiléia, se mantinham a distância, olhando essas coisas.” (Lc 23,49).Mateus escreve: “Grande número de mulheres estava ali, observando de longe. Elas haviam acompanhado Jesus desde a Galiléia, prestando-lhe serviços. Entre elas estavam Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu.” (Mt 27,55-56).Marcos diz que “Estavam ali também algumas mulheres olhando de longe; entre elas Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago Menor e de Joset, e Salomé. Quando ele estava na Galiléia, estas o seguiam e lhe prestavam serviços. Estavam ali também muitas outras mulheres que com ele tinham subido a Jerusalém.” (Mc 15,40-41).Assim, apenas João enfatiza que a mãe de Jesus estava lá, não seguindo-o de longe, mas sim junto à cruz, na companhia de outras mulheres. De pé, como uma mulher forte que continua a crendo, esperando e tendo confiança em Deus, mesmo neste momento tão difícil. A mãe de Jesus está naquele momento importante no qual “tudo está consumado” (v. 30) na missão de Jesus. Além disso, o evangelista ressalta a presença da mãe de Jesus, no início de sua missão, nas bodas de Cana, onde João usa quase a mesma expressão: “Eu estava ali a mãe de Jesus” (Jo 2,1)A mulher e o discípulo

Nas bodas de Caná e na cruz, Jesus mostra a sua glória e sua mãe está presente de uma forma ativa. Nas bodas de Caná é evidente, de uma forma simbólica, o que aconteceu na cruz. Durante a festa de casamento em Caná, Jesus transformou a água contida em seis potes (Jo 2,6). O número seis simboliza a imperfeição. O número perfeito é o sete. Por esta razão, Jesus responde à sua mãe: “Minha hora ainda não chegou” (Jo 2,04).A hora em que Jesus renovou tudo, foi a hora da cruz. Os discípulos lhe perguntaram: “Senhor, é este o momento de reconstruir o reino de Israel?” (Atos 1,6). Na cruz, com água e sangue, Jesus faz  nascer a Igreja e, ao mesmo tempo, ela torna-se sua esposa. É o início de um novo tempo. Tanto nas bodas de Caná como na cruz, Jesus não chama sua mãe pelo próprio nome, mas dá-lhe o belo título de “Mulher” (Jo 2,4 e 19,26). Na cruz, Jesus não está falando com sua mãe movido apenas por um sentimento natural, de filho com sua mãe. O título de “Mulher” deixa claro que no momento em que Jesus estava abrindo o coração de sua mãe para a maternidade espiritual de seus discípulos, representados na pessoa do discípulo amado, que está sempre perto de Jesus, o discípulo que na última jantar reclinou a cabeça sobre o peito de Jesus (Jo 13,23-26).O discípulo que compreendeu o mistério de Jesus e manteve-se fiel ao seu mestre até a crucificação, e, posteriormente, deveria ser o primeiro discípulo a acreditar que Cristo tinha ressuscitado ao ver o túmulo vazio e os panos no chão (João 20,4-8) enquanto Maria de Magdala garante que haviam tirado o corpo de Jesus (Jo 20,2). Portanto, o discípulo é aquele que acredita e mantém-se fiel ao seu Senhor em todas as provações da vida.O discípulo a quem Jesus amava, não tem nome, porque ele representa a você e a mim, e a todos os que são verdadeiros discípulos. A mulher torna-se mãe do discípulo. A mulher, que nunca é chamada pelo evangelista com o nome próprio, não apenas a mãe de Jesus, mas também a Igreja. O evangelista João gosta de chamar a Igreja de “mulher” ou “senhora”. Este título está na segunda Carta de João (2 Jo 1,5) e no livro do Apocalipse: “Então apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida com o sol, tendo a lua debaixo dos pés e, sobre a cabeça, uma coroa de doze estrelas. Estava grávida e gritava em dores de parto, atormentada para dar à luz. “(Ap 12,1-2) A mulher, então, é a imagem da Igreja Mãe que está com dores de parto para gerar a Deus novos filhos. A mãe de Jesus é a imagem perfeita da Igreja esposa de Cristo em trabalho de parto para gerar novos filhos ao esposo.O discípulo recebe em casa a mulher

Se Jesus deixou nas mãos da Mulher (sua Mãe e a Igreja) os seus discípulos representados na pessoa do discípulo amado, também deixou nas mãos dos discípulos a Mulher (sua mãe e da Igreja). O evangelista diz que quando Jesus viu o discípulo a quem ele amava com sua mãe lhe disse: “Eis a tua mãe” (V. 27)O evangelista continua: “E dessa hora em diante o discípulo a levou para a sua casa” (v. 27). Isto significa que o discípulo recebeu a mulher como uma valiosa e querida pessoa. Isso novamente nos recorda quando João diz em suas cartas, quando ele chama a si mesmo o presbítero que ama a Senhora eleita (2 João 1), que reza por ela (2 Jo 5) para que a cuide e a defenda contra anticristo, isto é, aqueles que não reconhecem a Cristo e tentam perturbar os filhos da Igreja, os discípulos de Jesus (2 Jo 7,10).As palavras do versículo 27: “E dessa hora em diante o discípulo a levou para a sua casa“, nos lembra que também aquilo que encontramos no início do Evangelho de Mateus. O evangelista abre sua narrativa com a visão do anjo no sonho de José, o esposo de Maria. Nesta visão, o anjo diz a José: “José, filho de David, não temas receber Maria, tua mulher, porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo” (Mt 1,20). Mateus abre o seu Evangelho com o Senhor, confiando Maria e Jesus a José, enquanto João conclui seu relato com Jesus confiando sua Mãe e a Igreja nas mãos do discípulo amado.

4) Para um confronto pessoal

  • O que é que você mais atenção nesta passagem e na reflexão?
  • Na cruz, Jesus nos deu tudo: sua vida e sua Mãe. E você, você está preparado para dar algo para o Senhor? Você é capaz de renunciar a suas coisas, a seus gostos, etc. para servir a Deus e ajudar o próximo?
  • E dessa hora em diante o discípulo a levou para a sua casa“. Você acha que as famílias de hoje seguem o exemplo do discípulo amado de Jesus? O que essas palavras significam para sua vida cristã?

5) Oração final

Cântico evangélico (MAGNIFICAT) Lc 1,46-55

Ant. Maria ouvia, meditava e guardava 
a palavra de Deus no seu coração.

A alegria da alma no Senhor

– 46 A minha alma engrandece ao Senhor * 47 e exulta meu espírito em Deus, meu Salvador;

– 48 porque olhou para humildade de sua serva, * 
doravante as gerações hão de chamar-me de bendita.

– 49 O Poderoso fez em mim maravilhas * 
e Santo é o seu nome!

– 50 Seu amor para sempre se estende * 
sobre aqueles que o temem;

– 51 manifestou o poder de seu braço, * 
dispersou os soberbos;

– 52 derrubou os poderosos de seus tronos * 
e elevou os humildes;

– 53 saciou de bens os famintos, * 
despediu os ricos sem nada.

– 54 Acolheu Israel, seu servidor, * 
fiel ao seu amor,

– 55 como havia prometido a nossos pais, * 
em favor de Abraão e de seus filhos, para sempre.

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. * 
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.Ant. Maria ouvia, meditava e guardava 
a palavra de Deus no seu coração.

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

O AMANHECER DO EVANGELHO

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CMSÁBADO DA 23ª SEMANA DO TEMPO COMUM: NOSSA SENHORA DAS DORES

Ao pé da cruz- O silêncio de Maria, que fala mais alto que as palavras (João 19,25-27 e At 1,14)

Vamos ouvir dois textos bem em que Nossa Senhora aparece, mas não fala. Ela conserva o silêncio. Durante a leitura vamos prestar atenção no seguinte: O que Maria nos diz através do seu silêncio?Leitura do Evangelho de João 19,25-27

“A mãe de Jesus, a irmã de sua mãe, Maria Cléofas, e Maria Madalena estavam junto à cruz. Jesus, vendo sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à sua mãe: “Mulher, eis aí o teu filho! Depois disse ao discípulo: “Eis aí tua mãe!” E dessa hora em diante, o discípulo a recebeu em sua casa”Leitura dos Atos dos Apóstolos 1,12-14

“Depois que Jesus subiu ao céu, os apóstolos voltaram para Jerusalém, pois se encontravam no chamado Monte das Oliveiras, não muito longe de Jerusalém: uma caminhada de sábado. Entraram na cidade e subiram para a sala de cima, onde costumavam hos­pedar-se. Aí estavam Pedro e João, Tiago e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão Zelota e Judas filho de Tiago. Todos eles tinham os mesmos sentimentos e eram assíduos na oração, junto com algumas mulheres, entre as quais Maria, a mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus.”

Uma ajuda para a reflexão

Há muitas formas de silêncio: o silêncio que se pede num hospital; o silêncio da natureza, da noite ou da madrugada; o silêncio da morte; o silêncio que precede à tempestade; o silêncio do medo; o silêncio do censurado e do povo silenciado; o silêncio do aluno que não sabe a resposta; o silêncio do fulano frustrado, do jovem abafado e do lutador derrubado;  o silêncio do namorado na presença da namorada; o silêncio da quebra interior: tudo que a pessoa tinha imaginado e planejado até àquele momento cai no vazio e se desintegra. Parece que não valeu nada. O silêncio do místico. O silêncio de Deus.Tantos silêncios!

A prática do silêncio é condição necessária para o encontro com Deus; é importante também para o relacionamento correto com o próximo. Silêncio é muito mais do que ausência de barulho. Sem silêncio não há conversa, nem com o irmão e a irmã, nem com Deus. Pois a condição para a conversa verdadeira é saber escutar o outro. Palavras verdadeiras nascem é do silêncio. Silêncio é saber escutar e fazer à outra pessoa sentir que, no momento da conversa, ela, e só ela, é o absoluto diante do qual todo o resto é relativo. Isto exige uma ascese muito grande. Sobretudo, saber escutar as pessoas que sempre foram silenciadas, os pobres, tanto na sociedade como na igreja.

Maria, a Virgem do silêncio. De Maria se fala pouco na Bíblia, e ela mesma fala menos ainda. Os textos da Bíblia sobre Maria são todos dos evangelhos de Mateus, Lucas e João, menos quatro: Mc 3,31; Gl 4,4; At 1,13; Ap 12,1-17. Nos textos do evangelho de Mateus, em que Maria é menciona­da, tudo é centrado em torno da pessoa de José. Maria aparece como a esposa de José. Ela mesma não fala. No evangelho de Lucas, Maria aparece mais. Mesmo assim, ela fala pouco: com o anjo Gabriel, com Isabel e com Jesus no Templo de Jerusalém. Lucas, quando fala de Maria, pensa nas Comunidades. Ele apresenta Maria como modelo para as comunidades saberem como relacionar-se com a Palavra de Deus: acolhê-la, encarná-la, vivê-la, aprofundá-la, ruminá-la, fazê-la nascer e crescer, deixar-se moldar por ela, mesmo quando não a entendemos ou quando ela nos faz sofrer. Maria nos orienta na escuta e no uso da Palavra de Deus.A Mãe de Jesus aparece duas vezes no evangelho de João: no começo, nas bodas de Caná (Jo 2,1-5), e no fim, ao pé da Cruz (Jo 19,25-27). Nos dois casos ela representa o Antigo Testamento que aguarda a chegada do Novo e, nos dois casos, contribui para que o Novo chegue. Maria é o elo entre o que havia antes e o que virá depois. Em Caná, é ela, a mãe de Jesus, símbolo do Antigo Testamento, que percebe os limites do Antigo e dá os passos para que o Novo possa chegar. Na hora da morte, é novamente Maria, a Mãe de Jesus, que acolhe o “Discípulo Amado”. O Discípulo Amado é a comuni­dade que cresceu ao redor de Jesus, é o filho que nasceu do AT. A pedido de Jesus, o filho, o NT, recebe a Mãe, o AT, em sua casa. Os dois devem caminhar juntos. Pois o Novo não se entende sem o Antigo. Seria um prédio sem fundamento. E o Antigo sem o Novo ficaria incompleto. Seria uma árvore sem fruto.Nos Atos dos Apóstolos, Maria aparece rezando no meio dos discípulos e discípulas, aguardando a descida do Espírito Santo. Quando Lucas, no ano 85, escrevia os Atos dos Apóstolos, havia muitas tensões nas comunidades. Havia várias tendências e rumos. Havia os que eram da linha de Pedro, outros da linha de Tiago, outros da linha de Paulo. Lucas escreve, para seja preservada a unidade. Ao redor de Maria, a mãe de Jesus, todos estão congregados numa unidade que ultrapassa as diferenças e as acolhe, sem destruí-las. Maria com a sua oração faz com que todos se abram para a ação do Espírito Santo e consigam ter os mesmos sentimentos. Ao redor do silêncio orante de Maria, todos se unem e preservam a unidade.

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O AMANHECER DO EVANGELHO

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

SÁBADO DA 23ª SEMANA DO TEMPO COMUM: NOSSA SENHORA DAS DORES

Jo 19,25-27, Perto da cruz de Jesus estavam a sua mãe, e a irmã dela, e Maria, a esposa de Clopas, e também Maria Madalena. Quando Jesus viu a sua mãe e perto dela o discípulo que ele amava, disse a ela: – Este é o seu filho. Em seguida disse a ele: – Esta é a sua mãe. E esse discípulo levou a mãe de Jesus para morar dali em diante na casa dele.

                                                           Reflexão João 19,25-27

* Hoje, festa de Nossa Senhora das Dores, o evangelho do dia traz a passagem em que Maria, a mãe de Jesus, e o discípulo amado se encontram no calvário diante da Cruz. A Mãe de Jesus aparece duas vezes no evangelho de João: no começo, nas bodas de Caná (Jo 2,1-5), e no fim, ao pé da Cruz (Jo 19,25-27). Estes pois episódios, exclusivos do evangelho de João, têm um valor simbólico muito profundo. O evangelho de João, comparado com os outros três evangelhos é como quem tira raio-X onde os outros três só tiram fotografia. O raio-X da fé ajuda a descobrir dimensões nos acontecimentos que os olhos comuns não chegam a perceber. O evangelho de João, além de descrever os fatos, revela a dimensão simbólica que neles existe. Assim, nos dois casos, em Caná e na Cruz, a Mãe de Jesus representa simbolicamente o Antigo Testamento que aguarda a chegada do Novo Testamento e, nos dois casos, ela contribui para que o Novo chegue. Maria aparece como o elo entre o que havia antes e o que virá depois. Em Caná, ela simboliza o AT, percebe os limites do Antigo e toma a iniciativa para que o Novo possa chegar. Ela vai falar ao Filho: “Eles não tem mais vinho!” (Jo 2,3). E no Calvário? Vejamos:

* João 19, 25: As mulheres e o Discípulo Amado junto à Cruz

Assim diz o Evangelho: “A mãe de Jesus, a irmã da mãe dele, Maria de Cléofas, e Maria Madalena estavam junto à cruz”. A “fotografia” mostra a mãe junto do filho, em pé. Mulher forte, que não se deixa abater. “Stabat Mater Dolorosa!” Ela é uma presença silenciosa que apóia o filho na sua entrega até à morte, e morte de cruz (Flp 2,8). Além disso, o “raio-X” da fé mostra como se realiza a passagem do AT para o NT. Como em Caná, a Mãe de Jesus representa o AT. O Discípulo Amado representa o NT, a comunidade que cresceu ao redor de Jesus. É o filho que nasceu do AT, a nova humanidade que se forma a partir da vivência do Evangelho do Reino. No fim do primeiro século, alguns cristãos achavam que o AT já não era necessário. De fato, no começo do segundo século, Márcion recusou todo o AT e ficou só com uma parte do NT. Por isso, muitos queriam saber qual a vontade de Jesus a este respeito.

* João 19,26-28 : O Testamento ou a Vontade de Jesus

As palavras de Jesus são significativas. Vendo sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à mãe: “Mulher, eis aí o seu filho.” Depois disse ao discípulo: “Eis aí a sua mãe.” Os Antigo e o Novo Testamento devem caminhar juntos. A pedido de Jesus, o discípulo amado, o filho, o NT, recebe a Mãe, o AT, em sua casa. É na casa do Discípulo Amado, na comunidade cristã, que se descobre o sentido pleno do AT. O Novo não se entende sem o Antigo, nem o Antigo é completa sem o Novo. Santo Agostinho dizia: “Novum in vetere latet, Vetus in Novo patet”. (O Novo está escondido no Antigo. O Antigo desabrocha no Novo). O Novo sem o Antigo seria um prédio sem fundamento. E o Antigo sem o Novo seria uma árvore frutífera que não chegou a dar fruto. Maria no Novo Testamento

De Maria se fala pouco no NT, e ela mesma fala menos ainda. Maria é a Mãe do silêncio. A Bíblia conservou apenas sete palavras de Maria. Cada uma destas sete palavras é como uma janela que permite olhar para dentro da casa de Maria e descobrir como ela se relacionava com Deus. A chave para entender tudo isso é dada por Lucas nesta frase: “Felizes são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática.” (Lc 11,27-28)

1ª Palavra: “Como pode ser isso se eu não conheço homem algum!” (Lc 1,34)

2ª Palavra: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra!” (Lc 1,38)

3ª Palavra: “Minha alma louva o Senhor, exulta meu espírito em Deus meu Salvador!” (Lc 1,46-55)

 4ª Palavra: “Meu filho porque nos fez isso? Teu pai e eu, aflitos, te procurávamos” (Lc 2,48)

5º Palavra: “Eles não tem mais vinho!” (Jo 2,3)

6ª Palavra: “Fazei tudo o que ele vos disser!” (Jo 2,5)7ª Palavra: O silêncio ao pé da Cruz, mais eloqüente que mil palavras! (Jo 19,25-27).