EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

O AMANHECER DO EVANGELHO

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

1) Oração

Olhai, ó Deus, a vossa família e fazei crescer no vosso amor aqueles que agora se mortificam pela penitência corporal. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

2) Leitura do Evangelho (Mateus 6, 7-15) (Lc 11,1-4)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Mateus – Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 7Nas vossas orações, não multipliqueis as palavras, como fazem os pagãos que julgam que serão ouvidos à força de palavras. 8Não os imiteis, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós lho peçais. 9Eis como deveis rezar: PAI NOSSO, que estais no céu, santificado seja o vosso nome; 10venha a nós o vosso Reino; seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. 11O pão nosso de cada dia nos dai hoje; 12perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam; 13e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. 14Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará. 15Mas se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará. – Palavra da salvação.

3) Reflexão

*  Há duas redações do Pai Nosso: Lucas (Lc 11,1-4) e Mateus (Mt 6,7-13). Em Lucas, o Pai Nosso é mais curto. Lucas escreve para comunidades que vieram do paganismo. Ele busca ajudar pessoas que estão se iniciando no caminho da oração. Em Mateus, o Pai Nosso está situado no Sermão da Montanha, naquela parte onde Jesus orienta os discípulos na prática das três obras de piedade: esmola (Mt 6,1-4), oração (Mt 6,5-15) e jejum (Mt 6,16-18). O Pai Nosso faz parte de uma catequese para judeus convertidos. Eles já estavam habituados a rezar, mas tinham certos vícios que Mateus tenta corrigir.

*  Mateus 6,7-8: Os vícios a serem corrigidos. Jesus critica as pessoas para as quais a oração era uma repetição de fórmulas mágicas, de palavras fortes, dirigidas a Deus para obrigá-lo a atender às nossas necessidades. A acolhida da oração por parte de Deus não depende da repetição de palavras, mas sim da bondade de Deus que é Amor e Misericórdia. Ele quer o nosso bem e conhece as nossas necessidades antes mesmo das nossas preces.

*  Mateus 6,9a: As primeiras palavras: “Pai Nosso”  Abbá, Pai, é o nome que Jesus usa para dirigir-se a Deus. Revela a nova relação com Deus que deve caracterizar a vida das comunidades (Gl 4,6; Rm 8,15). Dizemos “Pai nosso” e não “Pai meu”. O adjetivo “nosso” acentua a consciência de pertencermos todos à grande família humana de todas as raças e credos. Rezar ao Pai e entrar na intimidade com ele, é também colocar-se em sintonia com os gritos de todos os irmãos e irmãs pelo pão de cada dia. É buscar o Reino de Deus em primeiro lugar. A experiência de Deus como nosso Pai é o fundamento da fraternidade universal.

*  Mateus 6,9b-10: Três pedidos pela causa de Deus: o Nome, o Reino, a Vontade Na primeira parte do Pai-nosso, pedimos para que seja restaurado o nosso relacionamento com Deus. Santificar o Nome: O nome JAVÉ significa Estou com você! Deus conosco. Neste NOME Deus se deu a conhecer (Ex 3,11-15). O Nome de Deus é santificado quando é usado com fé e não com magia; quando é usado conforme o seu verdadeiro objetivo, i.é, não para a opressão, mas sim para a libertação do povo e para a construção do Reino. A Vinda do Reino: O único Dono e Rei da vida humana é Deus (Is 45,21; 46,9). A vinda do Reino é a realização de todas as esperanças e promessas. É a vida plena, a superação das frustrações sofridas com os reis e os governos humanos. Este Reino acontecerá, quando a vontade de Deus for plenamente realizada. Fazer a Vontade: A vontade de Deus se expressa na sua Lei. Que a sua vontade se faça assim na terra como no céu. No céu, o sol e as estrelas obedecem às leis de suas órbitas e criam a ordem do universo (Is 48,12-13). A observância da lei Deus será fonte de ordem e de bem-estar para a vida humana.

*  Mateus 6,11-13: Quatro pedidos pela causa dos irmãos: Pão, Perdão, Vitória, Liberdade.  Na segunda parte do Pai-nosso pedimos para que seja restaurado o relacionamento entre as pessoas. Os quatro pedidos mostram como devem ser transformadas as estruturas da comunidade e da sociedade para que todos os filhos e filhas de Deus vivam com igual dignidade. Pão de cada dia: No êxodo, cada dia, o povo recebia o maná no deserto (Ex 16,35). A Providência Divina passava pela organização fraterna, pela partilha. Jesus nos convida para realizar um novo êxodo, uma nova maneira de convivência fraterna que garante o pão para todos (Mt 6,34-44; Jo 6,48-51). Perdão das dívidas: Cada 50 anos, o Ano Jubilar obrigava todos a perdoar as dívidas. Era um novo começo (Lv 25,8-55). Jesus anuncia um novo Ano Jubilar, “um ano da graça da parte do Senhor” (Lc 4,19). O Evangelho quer recomeçar tudo de novo! Não cair na Tentação: No êxodo, o povo foi tentado e caiu (Dt 9,6-12). Murmurou e quis voltar atrás (Ex 16,3; 17,3). No novo êxodo, a tentação será superada pela força que o povo recebe de Deus (1Cor 10,12-13). Libertação do Maligno:  O Maligno é o Satanás, que afasta de Deus e é motivo de escândalo. Ele chegou a entrar em Pedro (Mt 16,23) e tentou Jesus no deserto. Jesus o venceu (Mt 4,1-11). Ele nos diz: “Coragem! Eu venci o mundo!” (Jo 16,33).

*  Mateus 6,14-15: Quem não perdoa não será perdoado. Rezando o Pai-nosso, pronunciamos a sentença que nos condena ou absolve. Rezamos: “Perdoa as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores” (Mt 6,12). Oferecemos a Deus a medida do perdão que queremos. Se perdoamos muito, Ele perdoará muito. Se perdoamos pouco, ele perdoará pouco. Se não perdoamos, ele também não poderá perdoar.

4) Para um confronto pessoal

  1. Jesus falou “perdoai as nossas dívidas“. Em alguns países se traduz “perdoai as nossas ofensas“. O que é mais fácil: perdoar ofensas ou perdoar dívidas?
  2. As nações cristãs do hemisfério norte (Europa e USA) rezam todos os dias: “Perdoai as nossas dívidas assim como também nós perdoamos aos nossos devedores”. Mas elas não perdoam a dívida externa dos países pobres do Terceiro Mundo. Como explicar esta terrível contradição, fonte de empobrecimento de milhões de pessoas?

5) Oração final

Glorificai comigo ao Senhor, juntos exaltemos o seu nome. Procurei o Senhor e ele me atendeu, livrou-me de todos os temores. (Sl 33, 4-5)

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

O AMANHECER DO EVANGELHO

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

O MESTRE ENSINA A REZAR

O PAI NOSSO EM ARAMAICO, O MESTRE NOS ENSINA A REZAR

João Batista ensinou seus discípulos a rezar. Os apóstolos pediram também a Jesus que fizesse o mesmo com eles. E Jesus ensinou o “Pai Nosso”.É a mais bela de todas as orações, e é rezada milhões de vezes por dia pelos cristãos, em toda a face da terra, às vezes até de maneira muito espontânea, em certos momentos de dor ou de alegria coletiva.A redação do Pai-nosso em São Mateus é mais longa e mais completa. Em São Lucas, mais abreviada. Jesus a terá ensinado mais uma vez, e as redações diferentes se devem, sem dúvida, ao uso de catequese. Mas o pensamento substancial é o mesmo.A oração se abre com um louvor a Deus. É aquilo que na arte da oratória se chama “captatio benevolentiae” a conquista da benevolência.Queremos atrair para nós a boa vontade de Deus. Mas essa “captatio benevolentiae” no Pai-nosso não se estende em muitos louvores, como acontece em certas orações muçulmanas. É muito concisa. Mas também muito expressiva: “Pai nosso, que estais no céus”. E tem o dom de elevar nosso pensamento para o alto, e de desprender-nos da materialidade das coisas do tempo, que muitas vezes podem impedir-nos de rezar bem.Seguem-se, então, os pedidos. Primeiro para a glória de Deus: que seu nome seja santificado (o nome de Deus significa o próprio Deus), que venha o seu reino; que se faça a sua vontade “assim na terra como no céu”. Depois os pedidos em nosso benefício: o pão de cada dia, o perdão dos pecados, a libertação das tentações e de todo o mal. Quando pedimos o perdão dos pecados, comprometemo-nos a perdoar também a quem nos ofendeu. Essa atitude é tão essencial no Evangelho, que São Marcos a menciona, mesmo sem trazer a inteira oração do Pai-nosso (cfr Mc 11 I 25-26). E fácil observar que o Pai-nosso, eminentemente evangélico e cristão, p ,ode ser rezado por qualquer pessoa que tenha fé em Deus. E uma oração universal.E importante rezar. E rezar com freqüência. E insistir na oração, quando queremos obter de Deus algum favor. Não porque Deus precise de ouvir muitas vezes nosso pedido, mas para que nós demonstremos nosso interesse e nossa confiança. “Pedi e vos será dado; buscai e achareis; batei e se vos abrirá. Pois todo aquele que pede, recebe; o que busca, acha; e ao que bate, se abrirá (Lc 11′ 9-10).E Jesus o confirma com uma comparação oriental muito viva. Lembra que, se alguém vai bater à porta de um amigo, alta noite, porque lhe chegou um hóspede inesperado, e precisa de três pães para lhe oferecer, a princípio q amigo reclamará, porque já está deitado e não são horas de ser incomodado. Mas, se continuar a bater e a chamar, o amigo acaba atendendo ( cfr. v v 5 a 8).E nessa mesma linha de atendimento à oração, faz ainda três bonitas comparações: Se um filho pede ao pai um pão, o pai não lhe dará uma pedra (ver Mt 7, 9); se pede um peixe, não lhe dará uma serpente; se pede um OVO, não lhe dará um escorpião. “Pois, se vós que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do céu dará o espírito Santo aos que lho pedirem?” (Lc 11, 11-13). É claro que o Espírito Santo é o maior dom que se possa pedir a Deus.Talvez se pudesse comentar que um pai aqui na terra nunca daria uma pedra a um filho que lhe pedisse um pão. Mas o Pai do céu vai mais longe ainda: daria um pão, mesmo que o filho desencaminhado pedisse uma pedra. Ele corrige nossos estouvamentos.Para usarmos uma comparação muito singela, se alguém pedisse a Deus a “graça” de tirar a sorte grande na loteria, Deus poderia dar-Ihe em vez disso a graça – essa sim verdadeira graça – do amor ao trabalho e do bom êxito nesse trabalho. Ele pediria uma “serpente”, e Deus lhe daria um peixe, para nos valermos da palavra do Divino Mestre.O Evangelho está cheio de lições muito valiosas sobre a oração. Sobre tudo no Sermão da Montanha. Não há religião sem oração. E o progresso espiritual de alguém se mede pela qualidade da sua oração. De acordo, aliás, com uma sapientíssima palavra de Santo Agostinho: “Recte novit vivere, qui recte novit orare”, Isto é, aquele que rezar bem, sabe viver dignamente.
LEITURAS do XVII Domingo do Tempo Comum -Ano C:1a) Gn 18, 20-322a) Cl I2,12-143a) Lc 11, 1-13