EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

O AMANHECER DO EVANGELHO

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA AOS CÉUS

UM GRANDIOSO SINAL NO CÉU

“Um grandioso sinal apareceu no céu: uma Mulher vestida de sol, tendo a lua como pedestal de seus pés, e na cabeça uma coroa de doze estrelas”(Ap12,1). Com essas palavras abre São João o capítulo doze do Apocalipse, que é o ponto central do livro e que se apresenta como um solene prefácio da sua última seção.

Essa Mulher majestosa é figura da própria Igreja, que sofreu as mais terríveis investidas do Dragão, isto é, do demônio, que em todos os tempos procurou perseguir os discípulos de Jesus. Porém, guiados pela Tradição e pela Liturgia, podemos e devemos ver nessa Mulher também uma figura da Virgem Maria, a triunfadora do pecado e do demônio pela sua Imaculada Conceição. E não é improvável que o próprio João tivesse esse pensamento.

A representação de Maria na Mulher gloriosa do Apocalipse se apresenta sobretudo muito oportuna ao celebrarmos a festa da Assunção de Nossa Senhora, ponto mais alto de todos os seus dons e privilégios. A missa da liturgia desta festa tem justamente como antífona de entrada essas palavras do Apocalipse. Os elementos com que o autor sagrado procura proclamar sua grandeza, todos eles de suave inspiração poética, são buscados nos dons da graça que revestiram a Santa Virgem – vestida de sol- e na nobreza de sua santidade – coroada de doze estrelas e tendo a lua sob seus pés.

Ela é a grande triunfadora sobre o pecado pela sua Conceição Imaculada, e seu triunfo se coroa e se eterniza na vitória sobre a morte, pela sua Assunção ao céu. Dela se pode dizer como foi dito a respeito de Jesus Ressuscitado: “Onde está, ó morte” a tua vitória?” Porque nela, como em Jesus, “a morte foi submergida na vitória”(1 Cor 15,54 e 55).

Deus que a enriqueceu com todos os dons e privilégios, em vista da maternidade divina para a qual a escolheu, preservou- a também da corrupção a que são destinados nossos. corpos mortais. Seu corpo foi glorificado como o corpo glorioso de Jesus. Aquilo que se disse dele nos salmos, segundo o Interpretou São Pedro no seu primeiro discurso depois de Pentecostes, vale também para a Virgem, Mãe do Senhor: “Não permitirás que o teu Santo experimente a corrupção” (SI15, 10: At 2,27).

No monumental capítulo oitavo da “Lumen Gentium”, em que o Concílio Vaticano II escreveu o mais autorizado tratado sobre a Mãe de Jesus, estão estas palavras límpidas e solenes: “A Imaculada Virgem, preservada imune de toda mancha da culpa original, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celeste” (LG 59/147). Essas palavras são um eco do que definiu o Papa Pio XII, na Constituição Apostólica “Munificentissimus Deus”, de 1 o de novembro de 1950. A Assunção é como que o divino corolário de tudo o que Deus concedeu a Maria. Se essa verdade não está escrita explicitamente na Sagrada Escritura, ela está incluída no conjunto de tudo o que Deus concedeu a sua Mãe Santíssima. E a Tradição da Igreja o proclama desde os tempos mais antigos. Pelo menos há quinze séculos a Igreja do Oriente e do Ocidente proclama essa verdade. E celebra a festa da Assunção.

Foi justamente numa época em que o mundo se via assolado por uma crise de desilusão e desesperança, que o Papa Pio XII proclamou o dogma da Assunção. Nesta verdade de nossa fé, brilha com particular esplendor um aceno de esperança.

Maria, a quem São Bernardo chamou de “razão total de nossa esperança”, mais uma vez sustenta a esperança da humanidade pelo mistério de sua entrada gloriosa – na totalidade de seu ser- na plena alegria da eternidade. É antiga, mas sempre oportuna a comparação da humanidade com uma frota que navega pelos mares da História, enfrentando a tempestade de todas as incertezas. Maria é a nau que já atravessou a barra e entrou no porto do céu. E de lá nos acena com um gesto de luminosa esperança. Com a graça de Deus e a proteção da Virgem lá chegaremos um dia: “Com minha Mãe estarei – na santa glória um dia”.

A celebração de sua festa, que alegra toda a Igreja, pondo- nos em contato com a grandeza de sua vida, há de ser para nós um estímulo para cultivarmos, na sua escola, a santidade.

Leituras para a Solenidade da Assunção – Ano B:
1a) Ap 11,19a; 12,1-6a, 10ab
2a) 1Cor 15,20-27
3a) Lc 1,39-56

 

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

(LECTIO DIVINA)

REFLEXÕES DE FREI CARLOS MESTERS, , O. CARM

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

Nossa Senhora Rainha

1) Oração

Ó Deus, que preparastes uma digna habitação para o vosso Filho pela Imaculada Conceição da Virgem Maria, preservando-a de todo pecado em previsão dos méritos de Cristo, concedei-nos chegar até vós, purificados também de toda culpa por sua materna intercessão. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

2) Leitura do Evangelho (Lucas 1,26-38)

Naquele tempo, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi e o nome da virgem era Maria.

Entrando, o anjo disse-lhe: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo. Perturbou-se ela com estas palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação. O anjo disse-lhe: Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus.

Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim. Maria perguntou ao anjo: Como se fará isso, pois não conheço homem? Respondeu-lhe o anjo: O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na sua velhice; e já está no sexto mês aquela que é tida por estéril, porque a Deus nenhuma coisa é impossível. Então disse Maria: Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo afastou-se dela.

3) Reflexão

* O texto que meditamos no evangelho descreve a visita do anjo a Maria (Lc 1,26-38). A Palavra de Deus chega a Maria não através de um texto bíblico, mas através de uma experiência profunda de Deus, manifestada na visita do anjo.

No AT, muitas vezes, o Anjo de Deus é o próprio Deus. Foi graças à ruminação da Palavra escrita de Deus na Bíblia, que Maria foi capaz de perceber a Palavra viva de Deus na visita do Anjo. Assim também acontece com a visita de Deus em nossas vidas. As visitas de Deus são frequentes. Mas por falta de ruminação da Palavra escrita de Deus na Bíblia, não percebemos a visita de Deus em nossas vidas. A visita de Deus é tão presente e tão contínua que, muitas vezes, já nem a percebemos e, por isso, perdemos uma grande oportunidade de viver na paz e na alegria.

* Lucas 1,26-27: A Palavra faz a sua entrada na vida. Lucas apresenta as pessoas e os lugares: uma virgem chamada Maria, prometida em casamento a um homem, chamado José, da casa de Davi. Nazaré, uma cidadezinha na Galiléia. Galiléia era periferia. O centro era Judéia e Jerusalém. O anjo Gabriel é o enviado de Deus para esta moça virgem que morava na periferia. O nome Gabriel significa Deus é forte. O nome Maria significa amada de Javé ou Javé é o meu Senhor. A história da visita de Deus a Maria começa com a expressão “No sexto mês”. Trata-se do “sexto mês” da gravidez de Isabel, parenta de Maria, uma senhora já de idade, precisando de ajuda. A necessidade concreta de Isabel é o pano de fundo de todo este episódio. Encontra-se no começo (Lc 1,26) e no fim (Lc 1,36.39).

* Lucas 1,28-29: A reação de Maria. Foi no Templo que o anjo apareceu a Zacarias. A Maria ele aparece na casa dela. A Palavra de Deus atinge Maria no ambiente da vida de cada dia.

O anjo diz: “Alegra-te! Cheia de graça! O Senhor está contigo!” Palavras semelhantes já tinham sido ditas a Moisés (Ex 3,12), a Jeremias (Jr 1,8), a Gedeão (Jz 6,12), a Rute (Rt 2,4) e a muitos outros.

Elas abrem o horizonte para a missão que estas pessoas do Antigo Testamento deviam realizar a serviço do povo de Deus. Intrigada com a saudação, Maria procura saber o significado. Ela é realista, usa a cabeça. Quer entender. Não aceita qualquer aparição ou inspiração.

* Lucas 1,30-33: A explicação do anjo. “Não tenha medo, Maria!” Esta é sempre a primeira saudação de Deus ao ser humano: não ter medo! Em seguida, o anjo recorda as grandes promessas do passado que vão ser realizadas através do filho que vai nascer de Maria. Este filho deve receber o nome de Jesus. Ele será chamado Filho do Altíssimo e nele se realizará, finalmente, o Reino de Deus prometido a Davi, que todos estavam esperando ansiosamente. Esta é a explicação que o anjo dá a Maria para ela não ficar assustada.

* Lucas 1,34: Nova pergunta de Maria. Maria tem consciência da missão importante que está recebendo, mas ela permanece realista. Não se deixa embalar pela grandeza da oferta e olha a sua condição: “Como é que vai ser isto, se eu não conheço homem algum?” Ela analisa a oferta a partir dos critérios que nós, seres humanos, temos à nossa disposição. Pois, humanamente falando, não era possível que aquela oferta da Palavra de Deus se realizasse naquele momento.

* Lucas 1,35-37: Nova explicação do anjo. “O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com sua sombra. Por isso, o Santo que vai nascer de você será chamado Filho de Deus”. O Espírito Santo, presente na Palavra de Deus desde o dia da Criação (Gênesis 1,2), consegue realizar coisas que parecem impossíveis. Por isso, o Santo que vai nascer de Maria será chamado Filho de Deus. Quando hoje a Palavra de Deus é acolhida pelos pobres sem estudo, algo novo acontece pela força do Espírito Santo! Algo tão novo e tão surpreendente como um filho nascer de uma virgem ou como um filho nascer de Isabel, uma senhora já de idade, da qual todo mundo dizia que ela não podia ter nenêm! E o anjo acrescenta: “E olhe, Maria! Isabel, tua prima, já está no sexto mês!”

* Lucas 1,38: A entrega de Maria. A resposta do anjo clareou tudo para Maria. Ela se entrega ao que Deus estava pedindo: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua Palavra”. Maria usa para si o título de Serva, empregada do Senhor.

O título vem de Isaías, que apresenta a missão do povo não como um privilégio, mas sim como um serviço aos outros povos (Is 42,1-9; 49,3-6). Mais tarde, Jesus, o filho que estava sendo gerado naquele momento, definirá sua missão: “Não vim para ser servido, mas para servir!” (Mt 20,28). Aprendeu da Mãe!

* Lucas 1,39: A forma que Maria encontra para servir. A Palavra de Deus chegou e fez com que Maria saísse de si para servir aos outros. Ela deixa o lugar onde estava e vai para a Judéia, a mais de quatro dias de viagem, para ajudar sua prima Isabel. Maria começa a servir e cumprir sua missão a favor do povo de Deus.

4) Para um confronto pessoal

  1. Como você percebe a visita de Deus em sua vida? Você já foi visitada ou visitado? Você já foi uma visita de Deus na vida dos outros, sobretudo dos pobres? Como este texto nos ajuda a descobrir as visitas de Deus em nossa vida?
  2. A Palavra de Deus se encarnou em Maria. Como a Palavra de Deus está tomando carne na minha vida pessoal e na vida da comunidade?

5) Oração final

Cantai ao Senhor um cântico novo, porque ele operou maravilhas. Sua mão e seu santo braço lhe deram a vitória. (Sl 97)