Lc 19,11 – 28 – A Parábola dos Talentos, Fazer render os dons
Lc 19,11 – 28 – O evangelho de hoje traz a Parábola dos Talentos, na qual Jesus fala dos dons que as pessoas recebem de Deus

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A Bíblia Explicada em Capítulos e Versículos –

O Amanhecer do Evangelho –

Reflexões e ilustrações de Pe. Lucas de Paula Almeida, CM-

Quarta-feira da 33ª Semana do Tempo Comum (17 de novembro de 2021)

1) Oração

Senhor nosso Deus, fazei que a nossa alegria consista em vos servir de todo o coração, pois só teremos felicidade completa, servindo a vós, o criador de todas as coisas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

2) Leitura do Evangelho (Lucas 19, 11-28)

Naquele tempo, 11Ouviam-no falar. E como estava perto de Jerusalém, alguns se persuadiam de que o Reino de Deus se havia de manifestar brevemente; ele acrescentou esta parábola: 12Um homem ilustre foi para um país distante, a fim de ser investido da realeza e depois regressar. 13Chamou dez dos seus servos e deu-lhes dez minas, dizendo-lhes: Negociai até eu voltar. 14Mas os homens daquela região odiavam-no e enviaram atrás dele embaixadores, para protestarem: Não queremos que ele reine sobre nós. 15Quando, investido da dignidade real, voltou, mandou chamar os servos a quem confiara o dinheiro, a fim de saber quanto cada um tinha lucrado. 16Veio o primeiro: Senhor, a tua mina rendeu dez outras minas. 17Ele lhe disse: Muito bem, servo bom; porque foste fiel nas coisas pequenas, receberás o governo de dez cidades. 18Veio o segundo: Senhor, a tua mina rendeu cinco outras minas. 19Disse a este: Sê também tu governador de cinco cidades. 20Veio também o outro: Senhor, aqui tens a tua mina, que guardei embrulhada num lenço; 21pois tive medo de ti, por seres homem rigoroso, que tiras o que não puseste e ceifas o que não semeaste. 22Replicou-lhe ele: Servo mau, pelas tuas palavras te julgo. Sabias que sou rigoroso, que tiro o que não depositei e ceifo o que não semeei… 23Por que, pois, não puseste o meu dinheiro num banco? Na minha volta, eu o teria retirado com juros. 24E disse aos que estavam presentes: Tirai-lhe a mina, e dai-a ao que tem dez minas. 25Replicaram-lhe: Senhor, este já tem dez minas!… 26Eu vos declaro: a todo aquele que tiver, dar-se-lhe-á; mas, ao que não tiver, ser-lhe-á tirado até o que tem. 27Quanto aos que me odeiam, e que não me quiseram por rei, trazei-os e massacrai-os na minha presença. 28Depois destas palavras, Jesus os foi precedendo no caminho que sobe a Jerusalém. – Palavra da salvação.

3) Reflexão Luca 19,11-28

* O evangelho de hoje traz a Parábola dos Talentos, na qual Jesus fala dos dons que as pessoas recebem de Deus. Toda pessoa tem alguma qualidade, recebe algum dom ou sabe alguma coisa que ela pode ensinar aos outros. Ninguém é só aluno, ninguém é só professor. Aprendemos uns dos outros.

* Lucas 19,11: A chave para entender a história da parábola

Para introduzir a parábola Lucas diz o seguinte: “Tendo eles ouvido isso, Jesus acrescentou uma parábola, porque estava perto de Jerusalém, e eles pensavam que o Reino de Deus ia chegar logo”. Nesta informação inicial, Lucas destaca três motivações que levaram Jesus a contar a parábola: (1) A acolhida a ser dada aos excluídos, pois, dizendo “tendo eles ouvido isso”, ele se refere ao episódio de Zaqueu, o excluído, que foi acolhido por Jesus. (2) A proximidade da paixão, morte e ressurreição, pois dizia que Jesus estava perto de Jerusalém onde seria preso e morto em breve. (3) A chegada iminente do Reino de Deus, pois as pessoas que acompanhavam Jesus pensavam que o Reino de Deus ia chegar logo.

* Lucas 19,12-14: O início da Parábola

“Um homem nobre partiu para um país distante a fim de ser coroado rei, e depois voltar. Chamou então dez dos seus empregados, entregou cem moedas de prata para cada um, e disse: ‘Negociem até que eu volte”. Seus concidadãos, porém, o odiavam, e enviaram uma embaixada atrás dele, dizendo: ‘Não queremos que esse homem reine sobre nós’. Alguns estudiosos acham que, nesta parábola, Jesus se refere a Herodes que, setenta anos antes (40 aC), tinha ido para Roma a fim de receber o título e o poder de Rei da Palestina. O povo não gostava de Herodes e não queria que ele se tornasse rei, pois a experiência que tiveram com ele como comandante para reprimir as rebeliões na Galiléia contra Roma foi trágica e dolorosa. Por isso diziam: “Não queremos que esse homem reine sobre nós” Ao este mesmo Herodes se aplicaria a frase final da parábola: “E quanto a esses inimigos, que não queriam que eu reinasse sobre eles, tragam aqui, e matem na minha frente”. De fato, Herodes matou muita gente.

* Lucas 19,15-19: Prestação de conta dos primeiros empregados que receberam cem moedas de prata

A história informa ainda que Herodes recebeu a realeza e voltou para a Palestina para assumir o poder. Na parábola, o rei chamou os empregados aos quais tinha dado cem moedas de prata, a fim de saber quanto haviam lucrado. O primeiro chegou, e disse: ‘Senhor, as cem moedas renderam dez vezes mais’. O homem disse: ‘Muito bem, empregado bom. Como você foi fiel em coisas pequenas, receba o governo de dez cidades’. O segundo chegou, e disse: ‘Senhor, as cem moedas renderam cinco vezes mais’. O homem disse também a este: ‘Receba também você o governo de cinco cidades”. De acordo com a história, tanto Herodes Magno como seu filho Herodes Antipas, ambos sabiam lidar com dinheiro e promover as pessoas que os ajudavam. Na parábola, o rei deu dez cidades ao empregado que multiplicou por dez as cem moedas que tinha recebido, e cinco cidades a quem as multiplicou por cinco.

* Lucas 19,20-23: Prestação de conta do empregado que não lucrou nada

O terceiro empregado chegou e disse: ‘Senhor, aqui estão as cem moedas que guardei num lenço. Pois eu tinha medo de ti, porque és um homem severo. Tomas o que não deste, e colhes o que não semeaste’. Nesta frase transparece uma idéia errada de Deus que é criticada por Jesus. O empregado vê Deus como um patrão severo. Diante de um Deus assim, o ser humano sente medo e se esconde atrás da observância exata e mesquinha da lei. Ele pensa que, agindo assim, não será castigado pela severidade do legislador. Na realidade, uma pessoa assim já não crê em Deus, mas crê apenas em si mesma, na sua própria observância da lei. Ela se fecha em si, desliga de Deus e já não consegue preocupar-se com os outros. Torna-se incapaz de crescer como pessoa livre. Esta imagem falsa de Deus isola o ser humano, mata a comunidade, acaba com a alegria e empobrece a vida. O rei responde: ‘Empregado mau, eu julgo você pela sua própria boca. Você sabia que eu sou um homem severo, que tomo o que não dei, e colho o que não semeei. Então, por que você não depositou meu dinheiro no banco? Ao chegar, eu o retiraria com juros’. O empregado não foi coerente com a imagem que tinha de Deus. Se ele imaginava Deus tão severo, deveria ao menos ter colocado o dinheiro no banco. Ele é condenado não por Deus, mas pela idéia errada que tinha de Deus e que o deixou mais medroso e mais imaturo do que devia ser. Uma das coisas que mais influi na vida da gente é a idéia que nos fazemos de Deus. Entre os judeus da linha dos fariseus, alguns imaginavam Deus como um Juiz severo que os tratava de acordo com o mérito conquistado pelas observâncias. Isto produzia medo e impedia as pessoas de crescer. Sobretudo, impedia que elas abrissem um espaço dentro de si para acolher a nova experiência de Deus que Jesus comunicava.

* Lucas 19,24-27: Conclusão para todos

“Depois disse aos que estavam aí presentes: Tirem dele as cem moedas, e dêem para aquele que tem mil. Os presentes disseram: Senhor, esse já tem mil moedas! Ele respondeu: Eu digo a vocês: a todo aquele que já possui, será dado mais ainda. Mas daquele que nada tem, será tirado até mesmo o que tem”. O senhor mandou tirar dele as cem moedas e dar àquele que já tinha mil, pois “a todo aquele que já possui, será dado mais ainda. Mas daquele que nada tem, será tirado até mesmo o que tem. Nesta frase final está a chave que esclarece a parábola. No simbolismo da parábola, as moedas de prata do rei são os bens do Reino de Deus, isto é, tudo aquilo que faz a pessoa crescer e revela a presença de Deus: amor, serviço, partilha. Quem se fecha em si com medo de perder o pouco que tem, este vai perder até o pouco que tem. A pessoa, porém, que não pensa em si mas se doa aos outros, esta vai crescer e receber de volta, de maneira inesperada, tudo que entregou e muito mais: “cem vezes mais, com perseguições” (Mc 10,30). “Perde a vida quem quer segurá-la, ganha a vida quem tem coragem de perdê-la” (Lc 9,24; 17,33; Mt 10,39;16,25;Mc 8,35). O terceiro empregado teve medo e não fez nada. Não quis perder nada e, por isso, não ganhou nada. Perdeu até o pouco que tinha. O Reino é risco. Quem não quer correr risco, perde o Reino!

* Lucas 19,28: Voltando à tríplice chave inicial

No fim, Lucas encerra o assunto com esta informação: Depois de dizer essas coisas, Jesus partiu na frente deles, subindo para Jerusalém. Esta informação final evoca a tríplice chave dada no início: acolhida a ser dada aos excluídos, proximidade da paixão, morte e ressurreição de Jesus em Jerusalém e a idéia da chegada iminente do Reino. Aos que pensavam que o Reino de Deus estivesse para chegar, a parábola manda mudar os olhos. O Reino de Deus chega sim, mas através da morte e ressurreição de Jesus que vai acontecer em breve em Jerusalém. E o motivo da morte foi a acolhida que ele, Jesus, dava aos excluídos como Zaqueu e tantos outros. Incomodou os grandes e eles o eliminaram condenando-o à morte de cruz,

4) Para um confronto pessoal

  1. Na nossa comunidade, procuramos conhecer e valorizar os dons de cada pessoa? Às vezes, os dons de uns geram inveja e competição nos outros. Como reagimos?
  2. Nossa comunidade é um espaço, onde as pessoas podem desenvolver seus dons?

 

5) Oração final

Louvai a Deus no seu santuário, louvai-o no firmamento do seu poder. Louvai-o por suas grandes obras, louvai-o pela sua imensa grandeza. (Sal 150, 1-2)

Lc 19,11 – 28 – O evangelho de hoje traz a Parábola dos Talentos, na qual Jesus fala dos dons que as pessoas recebem de Deus

A longa caminhada das comunidades do Antigo Testamento encontrou a sua confirmação em Jesus – 

A Bíblia Explicada em Capítulos e Versículos –

O Amanhecer do Evangelho –

Reflexões e ilustrações de Pe. Lucas de Paula Almeida, CM-

Quarta-feira da 33ª Semana do Tempo Comum (17 de novembro de 2021)


A longa caminhada das comunidades do Antigo Testamento encontrou a sua confirmação em Jesus, na sua maneira de viver a vida, de anunciar a Boa Nova e de reconstruir a convivência.Jesus refaz o relacionamento humano na base, na “Casa”

Numa época em que a religião oficial insistia no espaço sagrado do Templo, Jesus recupera a dimensão caseira da fé. O ambiente da casa exerce um papel central na vida de Jesus. Quando se fala em casa, não se trata só da casa de tijolos, nem só da pequena família, mas também e sobretudo do clã, da comunidade. Até à idade de trinta anos, Jesus viveu no ambiente caseiro e comunitário e lá em Naza­ré.Durante os três anos que andou pela Galiléia ele vivia nas casas do povo. Entrou na casa de Pedro (Mt 8,14), de Mateus (Mt 9,10), de Jairo (Mt 9,23), de Simão o fariseu (Lc 7,36), de Simão o leproso (Mc 14,3), de Zaqueu (Lc 19,5). O oficial reconhece: “Não sou digno de que entres em minha casa” (Mt 8,8). E o povo procurava Jesus na casa dele (Mt 9,28; Mc 1,33; 2,1; 3,20).Quando ia a Jerusalém, Jesus parava em Betânia na casa de Marta, Maria e Lázaro (Jo 11,3.5.45; 12,2). No envio dos discípulos e discípulas a missão deles é entrar nas casas do povo e levar a paz (Mt 10,12-14; Mc 6,10; Lc 10,5-7).Jesus reconstrói a vida comunitária nos povoados da Galiléia

No antigo Israel, o clã, a família ampliada, a comunidade, era a base da convivência social. Era a garantia das tradições que davam identidade às pessoas. Era a maneira concreta de encarnar o amor a Deus e ao próximo. Defender o clã, a comunidade, era o mesmo que defender a Aliança entre Deus e o povo. Mas na época de Jesus, devida à política dos romanos e ao sistema da religião oficial, a vida comu­nitária estava sendo desintegrada. Mais da metade do orçamento familiar ia para os impostos, taxas, tributos, dízimos. Tais políticas excludentes geravam doentes, famintos, marginalizados, viúvas, órfãos, possessos, pobres. Esta situação levava as famílias a se fecharem sobre si mesmas, impossibilitadas de exercerem seu dever de goêl, de ajuda desinteressada aos parentes do mesmo clã ou comunidade.A própria família de Jesus queria impedir que ele se preocupasse com os outros e queriam levá-lo de volta para Nazaré. Jesus reage: “Quem é minha mãe e meus irmãos? É todo aquele que faz a vontade do Pai que está nos céus” (Mc 3,33-35) Jesus alarga a família, reconstrói o clã, a comunidade. Ele quer evitar que as famílias se fechem sobre si mesmas e, assim, desintegrem a vida do clã, da comunidade. Por isso ele diz: “Se alguém vem a mim, e não odeia seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, irmãos, irmãs, e até mesmo à sua própria vida, esse não pode ser meu discípulo” (Lc 14,26).Ele manda que as pequenas famílias se abram para a vida em comunidade.Jesus cuida dos doentes e acolhe os excluídos

Jesus anuncia o Reino para todos! Não exclui ninguém. Mas o anuncia a partir dos excluídos. Ele oferece um lugar aos que não tinham lugar. Acolhe os que não eram acolhidos.Recebe como irmão e irmã os desprezados e excluídos: os imorais: prostitutas e pecadores (Mt 21,31-32; Mc 2,15; Lc 7,37-50; Jo 8,2-11); os hereges: pagãos e samaritanos (Lc 7,2-10; 17,16; Mc 7,24-30; Jo 4,7-42); os impuros: leprosos e possessos (Mt 8,2-4; Lc 11,14-22; 17,12-14; Mc 1,25-26); os marginalizados: mulheres, crian­ças e doentes (Mc 1,32; Mt 8,16-17; 19,13-15; Lc 8,2-3); os colaboradores: publicanos e soldados (Lc 18,9-14;19,1-10); os pobres: o povo da terra e os pobres sem poder (Mt 5,3; Lc 6,20-24; Mt 11,25-26).Jesus vai ao encontro das pessoas

Em vez de encerrar-se numa sinagoga e exercer o poder de um escriba, Jesus torna-se um pregador ambulante. Onde encontra gente para escutá-lo, ele fala e transmite a Boa Nova de Deus: Nas sinagogas durante a celebração nos sábados (Mc 1,21; 3,1; 6,2). Em reuniões informais nas casas de amigos (Mc 2,1.15; 7,17; 9,28; 10,10). Andando pelo caminho  (Mc 2,23).À beira da praia, sentado num barco (Mc 4,1). No deserto onde o povo o procura (Mc 6,32-34). Na montanha, de onde proclama as bem-aventuranças (Mt 5,1-2). Nas praças das cidades (Mc 6,55-56). Mesmo no Templo  de Jerusalém, nas romarias, diariamente (Mc 14,49)! Ele vai ao encontro das pessoas, estabelecendo com elas uma relação direta através do acolhimento. Antes de propor ou expor um conteúdo doutrinário, Jesus propõe um caminho de vida.

A resposta é seguir Jesus neste caminho: “Venham para mim todos vocês que estão cansados de carregar o peso do seu fardo, e eu lhes darei descanso” (Mt 11,28).Jesus recupera igualdade homem e mulher

Jesus acolhe a resistência das mulheres contra a sua exclusão. A moça prostituída é acolhida contra o fariseu (Lc 7,36-50). A mulher encurvada é acolhida como filha de Abraão contra o dirigente da sinagoga (Lc 13,10-17). A mulher adúltera, acusada pelos fariseus, não foi condenada (Jo 8,3-11). A mu­lher impura é acolhida e curada (Mc 5,25-34). No evangelho de João, a Samaritana, desprezada como herética, é a primeira pessoa a receber o segredo de que Jesus é o Messias (Jo 4,26). A mulher estran­geira de Tiro e Sidônia é atendida por ele (Mc 7, 24-30).As mães com filhos pequenos que enfrentam os discípulos são acolhidas e abençoadas (Mt 19,13-15; Mc 10,13-16). As mulheres, que ficaram perto da cruz de Jesus (Mt 27,55-56.61), foram as primeiras a experimentar a presença de Jesus ressuscitado (Mt 28,9-10). Maria Madalena, considerada possessa, mas curada por Jesus (Lc 8,2), recebeu a ordem de transmitir a Boa Nova da ressurreição aos apóstolos (Jo 20,16-18).

Muitas mulheres seguiam Jesus e faziam parte da comunidade de discípulos ao redor de Jesus (Lc 8,2-3; Mc 15,40-41).

  1. Jesus supera as barreiras de gênero, religião, raça e classe

Jesus supera as barreiras de gênero, de religião, de raça e de classe, e sabe reconhecer as coisas boas que existem nas pessoas de outra raça e religião. Ele acolhe lições da parte da Cananéia (Mt 15,27-28), da Samaritana (Jo 4,31-38) e até dos Romanos (Mt 8,5-13). Ele conversa com Nicodemos (Jo 3,1), um membro da classe alta, com assento no Sinédrio.Estabelece um diálogo construtivo com a samaritana, superando a difícil barreira da religião. Para a samaritana Jesus era um judeu (Jo 4,9), ou seja, um inimigo religioso, opressor dos samaritanos. Pacientemente, Jesus deixa transparecer que ser judeu, não é ser inimigo. Para estabelecer um diálogo com ela, Jesus começa a conversa revelando uma carência dizendo: “Dá-me de beber!” Revelar uma carência é uma boa maneira para iniciar uma conversa. O longo diálogo mostra o quanto Jesus estava aberto para a presença das mulheres em seu grupo.

Os próprios discípulos ficam surpresos com o diálogo de Jesus com a samaritana (cf. Jo 4,27).

  1. Jesus recupera a dimensão sagrada e festiva da Casa

Jesus, sua mãe e todos os discípulos participam da festa de casamento em Caná (Jo 2,1-2). Jesus aceita convite para almoçar e jantar nas casas do povo: de Simão o leproso (Mc 14,3), de Simão o fariseu (Lc 7,36), de Marta e Maria (Jo 12,2), de um outro fariseu (Lc 11,37; 14,12). É na sala superior da casa de um amigo que Jesus celebrou a última páscoa com seus amigos (Mt 26,18-19).

Envia os discípulos para reconstruir as quatro bases da vida comunitária: hospitalidade, partilha, comunhão de mesa e acolhida aos excluídos (Lc 10,1-9). Jesus entrou em casa com os discípulos em Emaús e foi reconhecido no gesto tão caseiro da fração do pão (Lc 24,29-30.35).

“Eis que estou fazendo uma coisa nova! Vocês não o percebem?”(Is 43,19)Foi esta a Boa Nova que Jesus viveu durante toda a sua vida e que ele irradiou durante os três anos que andou pela Galiléia anunciando o Reino de Deus. Os fariseus tinham perguntado a Jesus sobre o momento em que chegaria o Reino de Deus. Jesus respondeu: “O Reino de Deus não vem ostensiva­mente. Nem se poderá dizer: ‘Está aqui’ ou: ‘está ali’, porque o Reino de Deus está no meio de vocês” (Lc 17,20-21). Todo o trabalho de Jesus durante os três anos que andou pela Galileia tinha por objetivo ajudar o povo a perceber os sinais do Reino presente na vida. “Não estão vendo?”  (cf. Is 43,19)O povo o percebeu e acolheu a mensagem. Gostava de ouvir Jesus e o procurava para escutar a sua palavra. (cf. Mc 1,21.39; 2,2.11; etc). Mas muitos doutores e escribas não o acolheram. Pelo contrário! Como dissemos, a imagem de Deus, as experiências de religião e as verdades da fé, da maneira como eram vividas e ensinadas por eles, estavam tão arraigadas dentro deles, tão identificadas com o seu jeito de ser, que a Boa Nova de Deus, anunciada por Jesus, lhes parecia ateísmo que merecia a pena de morte.Para eles, Jesus era um samaritano (Jo 8,48), um homem blasfemo (Jo 10,33), enganador do povo (Jo 7,12), possesso do diabo (Jo 7,20; 8,48), um beberrão (Mt 11,19), um louco que delira (Jo 10,20), um sem Deus (Jo 9,16).