O AMANHECER DO EVANGELHO

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CMXXV DOMINGO DO TEMPO COMUM -ANO B

FAZER-SE PEQUENO

E impressionante a longa e árdua paciência que Jesus teve de empregar para formar seus doze apóstolos e torná-los aptos para serem os mensageiros que iam ser para implantar o Evangelho no mundo. Não só a notícia do Evangelho, mas sobretudo o seu espírito. Eles eram homens muito simples e rudes. E isso não era um mal, pois era o bom terreno da humildade, que oferecia a base para, se erguer o edifício da santidade. O pior era que tinham grosseiros ciúmes e ambições a respeito dos lugares que iriam ocupar no Reino que Jesus anunciava. Aliás desse Reino tinham idéias muito confusas. Um dia a mãe de João e Tiago pediu ao Mestre que Ihes desse um lugar de honra no seu reino, fazendo-os sentar um à sua direita e outro à sua esquerda. Traduzindo isso em termos de hoje, queria mais ou menos que um fosse o ministro da justiça e outro o ministro da economia.Essas preocupações e discussões sobre lugar no reino aparecem muitas vezes entre eles. Até na última ceia aparece ainda o problema, quando Jesus Ihes dá uma belíssima lição doutrinal ( Lc 22, 25-27), acompanhada da sublime lição prática, que foi a de lavar-lhes os pés: “Ele o Mestre e Senhor” (Jo 13,4-20). Pois bem, certa vez que Jesus atravessava a Galiléia, numa viagem muito discreta, já a caminho de Jerusalém, abriu-lhes mais uma vez o coração para falar-lhes de sua paixão que se aproximava: O Filho do homem será entregue nas mãos dos homens, e lhe darão a morte, e, depois de morto, ressuscitará ao terceiro dia” (Mc 9, 31 ).Eles, porém, não queriam entender dessas coisas. E discutiam entre si pelo caminho. Quando chegaram a Cafarnaum, Jesus lhes perguntou sobre que discutiam pelo caminho. Emudeceram diante da grandeza de Jesus. Como iria ter coragem de lhe declarar o assunto sobre o qual tinham discutido?Jesus os toma à parte e lhes dá uma rica lição de espírito de humildade e de serviço, que ilumina para sempre os caminhos dos seguidores do Evangelho: ” Aquele que quiser ser o primeiro, seja o último e o servidor de todos” (Mc 9, 35). E completou com um gesto simbólico – uma parábola em ação: Tomou uma criança, colocou-a no meio da roda, e disse: “Quem receber a um destes pequeninos em meu nome, é a mim que recebe; e quem recebe a mim, não é a mim que recebe, mas àquele que me enviou” (v v 36 e 37). E bom lembrar que, mesmo que não se tratasse de uma criança desvalida – o que não era improvável – no mundo de Israel não se dava nenhuma atenção às crianças. Estavam longe da atenção que em nosso século XX se dá a elas. Elas eram naquele tempo – como alguém comentou numa comparação muito caseira – pouco mais que a criação que crescia no quintal.Aí está a filosofia do Evangelho. Não procurar os primeiros lugares,não alimentar a ambição do prestígio, do dinheiro, da fama, da dominação dos outros. E pôr-se a serviço de todos, sobretudo dos mais pequeninos. Bem diferente dessa sociedade em que vivemos mergulhados! Mal se encontra alguém que, ao escolher uma profissão, esteja pensando em servir à comunidade.A lei que impera é a ambição do dinheiro, dos cargos honrosos, do prestígio e do fazer carreira. Dificilmente se encontrará um político que, ao disputar eleições, tenha em mira o bem público, o serviço do país. O que se encontra é quase sempre o jogo das ambições em benefício pessoal. Donde nascem com freqüência as eleições maculadas pelo peso do dinheiro. Tudo isso está infinitamente longe do Evangelho!É preciso olhar o exemplo de nosso divino Salvador, que fundou a Igreja com sua palavra e com seu sangue. Ele, que era Deus verdadeiro, não se apegou ciosamente a sua dignidade divina. Esvaziou-se de sua grandeza, e se fez servo, obediente até à morte. E pôde deixar para nós sua grande lição da noite da última ceia. Depois de lavar humildemente os pés a seus apóstolos, disse-Ihes: “Eu vos dei o exemplo, para que, assim como eu fiz, vós também façais” (Jo 13, 15).Mesmo fora do cristianismo, os que são sábios descobrem o valor do serviço. Como disse elegantemente o poeta hindu Tagore: “Dormi e sonhei que a vida era alegria. Acordei e vi que a vida era serviço. Servi’ e descobri que o serviço era alegria”.LEITURAS do XXV Domingo do Tempo Comum – Ano B :

1a – Sb2, 17-20.

2ª – Tg 3, 16-4, 3.

3a- Mc 9, 29-36.