EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

                                  O AMANHECER DO EVANGELHO                                 

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

                     XXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM -ANO B

“EFFATA”, ISTO É, ABRE- TE!

No ritual atualizado do batismo, já entre os gestos finais da celebração, o celebrante toca de leve os ouvidos e os lábios do batizando, e diz estas palavras: “0 Senhor Jesus, que fez os surdos ouvir e os mudos falar, te conceda que possas logo ouvir a sua palavra e professar a fé, para louvor e glória de Deus Pai”.Não é inverossímil que uma forma semelhante já fizesse parte do ritual. mais primitivo do batismo.E esse rito tem o nome de “effata”, que é a palavra aramaica usada por Jesus, quando curou o surdo- mudo: “Abre-te” – disse Ele – tocando os ouvidos do surdo-mudo e tocando-Ihe a língua com os dedos umedecidos na própria saliva. Quase parece um rito sacramental! (cfr Mc 7, 32-35).   Esse poder de Jesus, de abrir os olhos aos cegos, de abrir os ouvidos dos surdos e desatar a língua dos mudos já estava explicitamente anunciado por Isaías, quando fala dos poderes do Messias. Eram sinais que serviram para identificar Jesus como aquele que o povo esperava. Basta lembrar a embaixada dos discípulos de João Batista, que vieram perguntar se Jesus era “o que devia vir” – 0 Esperado, o Messias – ou deveriam esperar outro.A resposta de Jesus foi que olhassem em redor o que estava acontecendo: “os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem…” (Mt 11, 5). Era o sinal. Eram os “sinais” que anunciavam a certeza da presença do Messias. Essas curas materiais significavam a grande renovação do mundo que Ele ia realizar. Elas estavam anunciadas por Isaías. E o povo bem o sabia (cfr Is 35, 5-6).Jesus queria que não contassem a ninguém a cura que tinha acontecido. Era sua habitual prudência para evitar manifestações intempestivas de um entusiasmo messiânico mal interpretado. Mas o povo não podia calar-se. E proclamava; “Ele fez tudo bem. Fez os surdos ouvir e os mudos falar” (Mc 7, 37).Esse deve ser o nosso entusiasmo permanente. Proclamar a grandeza da obra de Jesus. Ele não somente restitui a fala aos mudos e o ouvido aos surdos. Ele abre os ouvidos da humanidade para escutar a voz de Deus através da fé. Ele nos abre a boca, para cantarmos os louvores de Deus, para proclamarmos sua grandeza, para anunciarmos a justiça e darmos testemunho da verdade, para sermos por toda parte mensageiros da paz.Creio, até, não ser fora de propósito considerar que a escolha da passagem evangélica da cura do surdo-mudo para figurar no ritual do batismo contém uma sugestão implícita sobre a atitude da Igreja e de cada cristão no escutar a palavra de Deus e no transmiti-Ia.A Igreja é um povo que deve estar permanentemente na escuta da palavra de Deus. E é bom acrescentá-Io logo aqui: ela deve empenhar-se para colocar o mundo inteiro na escuta da palavra de Deus. Lembrando a palavra de Jesus: “Bem-aventurado aquele que ouve a palavra de Deus e a põe em prática” ( Lc 11, 28). Essa palavra tem que ser a luz do caminho dos homens, para iluminá-los no meio das sombras do erro e da mentira que envolvem o mundo.

E a Igreja tem que ser a fiel mensageira da palavra de Deus para os homens. E por meio dessa palavra que se congrega o povo de Deus. Por isso mesmo, a ordem final de Cristo ao se despedir da terra foi esta: “Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda a criatura” (Mc 16, 15). É a missão da Igreja estar a serviço da palavra de Deus. Ela tem que ser a fiel servidora do Evangelho. Para isso Cristo nela deixou todo o poder de sua autoridade.E não só a Igreja deve falar a palavra de Deus. Cada cristão também, no âmbito de sua responsabilidade, deve falar essa palavra. Não só ensinando, no lar, na escola, nos grupos de catequese. Mas fazendo de cada uma de suas palavras um eco fiel da verdade de Deus.“Se alguém fala – escreveu São Pedro -faça-o como se pronunciasse oráculos de Deus” (I Pd 4, 11 ). O que quer dizer que nenhuma de nossas palavras deve discordar da palavra de Deus: de sua verdade, de sua justiça, de sua sabedoria, de seu amor .

LEITURAS do XXIII Domingo do Tempo Comum – Ano B:

1ª – Is 35, 4-7a.

2ª – Tg 2, 1 -5.

3ª – Mc 7, 31-37.

 

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

O AMANHECER DO EVANGELHO

ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

VIGÉSIMO TERCEIRO DOMINGO COMUM (09.09.12)Mc 7, 31-37

Jesus faz bem todas as coisas

Os eventos relatados no texto de hoje situam-se no território pagão de Tiro e Sidônia (hoje, Líbano). Marcos faz questão de sublinhar o contexto geográfico – talvez uma referência à missão aos gentios (pagãos) que marcava a sua Igreja. Mais uma vez estamos diante de um milagre de Jesus que manifesta o poder de Deus que age n’Ele, que causa espanto e alegria entre as testemunhas, e que leva Jesus a proibir que a notícia se espalhe no território.

Em si, o relato segue o roteiro de tantos outros – uma pessoa sofrendo (neste caso de surdez e incapacidade de falar corretamente), a compaixão da parte de Jesus que o leva a atender o pedido de uma cura, a cura em si, a proibição de espalhar a notícia (o chamado Segredo Messiânico) e a incapacidade das testemunhas de guardar o segredo.       A violação da proibição por parte da multidão traz à tona a questão da verdadeira identidade de Jesus, dando a impressão de que Ele é muito mais do que um simples curador! As palavras que expressam o entusiasmo da multidão diante d’Ele (7, 37) são tiradas de uma seção apocalíptica de Isaías, sugerindo que, nas atividades de Jesus, o Reino de Deus se faz presente.Mais uma vez o Segredo Messiânico em Marcos nos faz perguntar sobe o seu sentido. Provavelmente faz parte da insistência de Marcos de que Jesus é mais do que um taumaturgo ou milagreiro, e que a sua verdadeira identidade só se revelará na sua Cruz e Ressurreição. Pois é somente lá, e não diante dos milagres, que Jesus é proclamado Filho de Deus” por uma pessoa humana – o oficial que exclamou ao pé da Cruz, vendo como Jesus havia expirado: De fato, esse homem era mesmo Filho de Deus” (Mc 15, 39). Para Marcos, uma fé baseada nos milagres é sempre ambígua, pois pode levar ao seguimento de Jesus por motivos errôneos e duvidosos.Para corrigir essa tendência na sua comunidade, ele insiste que só se pode proclamar Jesus com o título messiânico Filho de Deus” ao pé da Cruz, onde não há lugar para dúvidas, pois só se pode crer na fraqueza de Deus, como diria Paulo, que é mais forte do que a força humana (1Cor 1, 25).

A proclamação das testemunhas que Jesus fez os surdos ouvir e os mudos falar” alude a Is 35, 5-6, que faz parte da visão apocalíptica do futuro glorioso de Israel (Is 34-35, relacionado com Is 40-66). O uso aqui deste texto vétero-testamentário indica que o futuro glorioso do novo Israel já está presente no ministério de Jesus.Podemos ver um sentido mais simbólico, para os nossos dias, na cura relatada – o de abrir os ouvidos e soltar as línguas.Pois, o sistema hegemônico de hoje, e os meios de comunicação, frequentemente atrelados e coniventes, procuram em geral tapar os ouvidos do povo diante dos gritos dos sofridos; pois, fazem questão de camuflar a realidade sofrida de milhões, escondendo a realidade ou banalizando-a, como fica claro na maioria dos noticiários de televisão.Também as forças dominantes deixam cada vez mais os excluídos sem voz – só pode ter voz ativa quem produz e consome, na nossa sociedade materialista e consumista. Diante da surdez e mudez físicas, Jesus cura!O evangelho e a atividade evangelizadora das igrejas devem ajudar as pessoas para que ouçam o grito dos oprimidos e para que ajudem a devolver a voz àqueles a quem lhes foi tirada. Dia 7 de setembro é o dia do Grito dos Excluídos – uma maneira de as Igrejas e todas as pessoas de boa vontade assinalarem que a nossa luta está em favor dos excluídos e menos favorecidos, e que essa atividade não se limita a um passeata neste dia somente, mas que é a tônica da nossa ação evangelizadora, retomada com muita força no Documento de Aparecida e em tantos outros documentos do Magistério e da CNBB.

       Jesus fez bem todas as coisas – fez os surdos ouvir e os mudos falar!”Que se possa dizer isso de todas as Igrejas e pastorais – que ajudamos a devolver a capacidade de ouvir os gemidos dos sofredores a tantas pessoas ensurdecidas pela ideologia dominante, e que ajudamos os sem-voz a recuperar a voz ativa, nas decisões das Igrejas e da sociedade em geral.LEITURAS do XXIII Domingo do Tempo Comum – Ano B:

1ª – Is 35, 4-7a.

2ª – Tg 2, 1 -5.

3ª – Mc 7, 31-37.