EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

(LECTIO DIVINA)

EIN KAREM, LAR DE JOÃO BATISTA E DA VISITAÇÃO –

https://www.youtube.com/watch?v=srJSrxQfCCQ

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

              NASCIMENTO DE JOÃO BATISTA

Leitura do livro do profeta Isaías –Is 1,57;66-80. 1Ilhas, ouvi-me; povos de longe, prestai atenção! O Senhor chamou-me desde meu nascimento; ainda no seio de minha mãe, ele pronunciou meu nome. 2Tornou minha boca semelhante a uma espada afiada, cobriu-me com a sombra de sua mão. Fez de mim uma flecha penetrante, guardou-me na sua aljava. 3E disse-me: Tu és meu servo, (Israel), em quem me rejubilarei. 4E eu dizia a mim mesmo: Foi em vão que padeci, foi em vão que gastei minhas forças.

Todavia, meu direito estava nas mãos do Senhor, e no meu Deus estava depositada a minha recompensa. 5E agora o Senhor fala, ele, que me formou desde meu nascimento para ser seu Servo, para trazer-lhe de volta Jacó e reunir-lhe Israel, (porque o Senhor fez-me esta honra, e meu Deus tornou-se minha força). 6Disse-me: Não basta que sejas meu servo para restaurar as tribos de Jacó e reconduzir os fugitivos de Israel; vou fazer de ti a luz das nações, para propagar minha salvação até os confins do mundo. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial(138)

REFRÃO: Eu vos louvo e vos dou graças, ó Senhor, porque de modo admirável me formastes!

 

  1. Senhor, vós me sondais e conheceis, sabeis quando me sento ou me levanto; de longe penetrais meus pensamentos; percebeis quando me deito e quando eu ando, os meus caminhos vos são todos conhecidos.-R.

    2.
     Fostes vós que me formastes as entranhas, e no seio de minha mãe vós me tecestes. Eu vos louvo e vos dou graças, ó Senhor, porque de modo admirável me formastes! -R.

    3. 
    Até o mais íntimo, Senhor, me conheceis; nenhuma sequer de minhas fibras ignoráveis, quando eu era modelado ocultamente, era formado nas entranhas subterrâneas. -R.

Segunda Leitura: Atos dos Apóstolos 13, 22-26

Leitura dos Atos dos Apóstolos – Naqueles dias, 22Depois, Deus o rejeitou e mandou-lhes Davi como rei, de quem deu este testemunho: Achei Davi, filho de Jessé, homem segundo o meu coração, que fará todas as minhas vontades. 23De sua descendência, conforme a promessa, Deus fez sair para Israel o Salvador Jesus.

 24João tinha pregado, desde antes da sua vinda, o batismo do arrependimento a todo o povo de Israel. 25Terminando a sua carreira, dizia: Eu não sou aquele que vós pensais, mas após mim virá aquele de quem não sou digno de desatar o calçado. 26Irmãos, filhos de Abraão, e os que entre vós temem a Deus: a nós é que foi dirigida a mensagem de salvação. – Palavra do Senhor.

Evangelho: Lucas 1, 57-66.80

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Lucas –

Naquele tempo,57Completando-se para Isabel o tempo de dar à luz, teve um filho. 58Os seus vizinhos e parentes souberam que o Senhor lhe manifestara a sua misericórdia, e congratulavam-se com ela. 59No oitavo dia, foram circuncidar o menino e o queriam chamar pelo nome de seu pai, Zacarias. 60Mas sua mãe interveio: Não, disse ela, ele se chamará João.

61Replicaram-lhe: Não há ninguém na tua família que se chame por este nome. 62E perguntavam por acenos ao seu pai como queria que se chamasse. 63Ele, pedindo uma tabuinha, escreveu nela as palavras: João é o seu nome. Todos ficaram pasmados. 64E logo se lhe abriu a boca e soltou-se-lhe a língua e ele falou, bendizendo a Deus. 65O temor apoderou-se de todos os seus vizinhos; o fato divulgou-se por todas as montanhas da Judéia. 66Todos os que o ouviam conservavam-no no coração, dizendo: Que será este menino? Porque a mão do Senhor estava com ele. 80O menino foi crescendo e fortificava-se em espírito, e viveu nos desertos até o dia em que se apresentou diante de Israel. – Palavra da salvação.

                           

               PREPARAR OS CAMINHOS DO SENHOR

Na preparação para o Natal surge, ao lado do profeta Isaías, João Batista. Este não anuncia o nascimento de Jesus, mas sua missão foi a de ser o mestre que apontou como se deve organizar cada um para receber em plenitude as graças natalinas.  Ensinou como aprontar os caminhos do Senhor. A vida de João Batista foi um sermão vivo. Cumpre, em primeiro lugar, observar que a palavra de Deus se fez ouvir a João no deserto.

Diz a Jeremias que “é bom esperar em silêncio a salvação (que vem) de Deus” (Lm 3,26).

Eis aí a primeira grande lição do Batista. Para se achegar ao Presépio é preciso recolhimento interior e não se deixar levar pelas exterioridades com que envolveram o Natal do Senhor. A palavra de Deus é quase imperceptível, se assemelha a um suave murmúrio que não pode ser captado no tumulto. É preciso que se entre lá no interior de si mesmo para pode escutar o Interlocutor divino. Pascal já alertava que “estamos repletos de coisas que nos impelem para fora de nós”.  No deserto do coração é que se deparam as forças divinas para adequar a própria vida ao ideal de perfeição que Cristo veio pregar nesta terra.

João pregava, além disto, um batismo de conversão para a remissão dos pecados. Não era um sacramento, mas um ritual de apresto para se receber as mensagens salvíficas do Redentor. Trata-se de uma volta total para o Salvador que não cessa de nos arrebatar consigo no impulso de seu dom ao Pai. Isto, contudo, exige disponibilidade, maleabilidade completa. Então o Deus que se Encarnou purifica do egoísmo, impregnando cada daquela humildade que resplandeceu no Batista. Este dizia que não era digno de se abaixar para desamarrar as sandálias de Jesus. O cristão místico, renovado, a sós com Deus, em colóquios silenciosos se envolve numa emoção tal que a alma parece liquefeita na imensidade da perfeição divina. Nada obsta tanto as graças redentoras como a soberba, a empáfia. João era a humildade personificada e pôde então anunciar aquele que nasceu humildemente num Presépio e que, Cordeiro de Deus, se imolaria, um dia, no Calvário. Tal mentalidade é essencial na caminhada até Belém.

A Mãe de Jesus, antes do nascimento de seu divino Filho, asseverou a Isabel que o Todo-Poderoso havia olhado para a humildade de sua serva. Então, “o Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós”. Fortes estes apelos de João Batista e de Maria para esta imprescindível metanóia, ou seja, a transformação fundamental de pensamento e de todo o ser, numa radical  conversão espiritual, que caracteriza a penitência do Advento. Deste modo, todos os gestos de amor a Deus e ao próximo que o Natal inspira se tornam faustosa realidade. Trata-se de afastar a escuridão do pecado para que esplendorosa seja a vinda de Jesus. Então, sim, o coração se torna um aconchegante presépio, libertado das misérias humanas.

É que a Encarnação revelou um Deus que veio dar exemplos de vida, sem os quais é impossível se achegar dele. Cumpre compreender que os clamores do último profeta do Antigo Testamento são um apelo urgente para que se deixem os caminhos da morte e se escolham as vias da vida, acolhendo a ternura de um Deus que é amor. Apenas desta maneira é que o Natal, realmente, significará o triunfo sobre a perversidade, a vitória sobre o mundo e a garantia segura da beatitude eterna.

Nas almas há obstáculos que somente Jesus pode vencer, desde que haja cooperação de cada um. Sua presença, como aconteceu com João Batista, se faz dinâmica, purificadora, santificadora, redentora. Jesus quer que nos associemos à sua grande obra de espiritualização progressiva própria e  da humanidade.

O Natal deve conduzir cada uma a sentir a necessidade da vida interior intensa, profunda.  Cristo tem que se tornar, de fato, o Grande Amigo, o hóspede íntimo das consciências.

Não se coaduna uma fé tíbia com o amor tão delicado e misericordioso que se depara em Belém. João Batista está então bradando “Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas estradas”.

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

(LECTIO DIVINA)

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

JOÃO BATISTA , PRECURSOR DE JESUS –

https://www.youtube.com/watch?v=ufCxjwhy9GY&t=269s                                                                                            JOÃO BATISTA- O PRECURSOR DE JESUS CRISTO

No dia 24 de junho é a festa de São João Batista, primo segundo de Jesus por parte de mãe e destinado por Deus a preparar a chegada de Jesus como Messias. João significa Javé é favorável.
Os dois tinham somente seis meses de diferença de idade (Lc 1,36), mas o Evangelho deixa bem claro a grande diferença entre os dois: João era um profeta, o maior de todos (Lc 7,28), mas simplesmente profeta, isto é, aquele que fala da presença de Deus entre os homens; Jesus era mais que profeta, era a própria presença de Deus entre os homens, o Filho de Deus (Lc1, 34). O próprio Deus (João 10,20; 14,10) em carne humana.

O grande encontro entre Jesus e João se deu às margens do rio Jordão. Na hora do batismo de Jesus feito por João (Lc 3, 21-22) nesse momento os evangelistas não deixam dúvida sobre a diferença entre os dois.

JOÃO, A AURORA. CRISTO, O SOL

O nascimento de João é misterioso. Nasce de pais velhos já passados da idade de conceber, de procriar (Lc1,18). No entanto, seu nascimento é prenúncio de uma idade nova, de novos céus e nova terra (Ap 1,21,1).
De fato, João (Batista é apelido que lhe deram os evangelistas, porque usava o rito de batizar, isto é, de lavar com água ou mergulhar na água, como símbolo de purificação dos pecados e início de uma conversão) é o último dos grandes homens do antigo testamento e prepara o novo, como a aurora indica a chegada do sol.                                        João nasce de pais velhos, como se nascesse do fundo do velho testamento, e nasce para preparar o novo como se todo o antigo testamento fosse uma preparação para a missão de Jesus. Seu pai, Zacarias, estava mudo, símbolo da incapacidade do antigo testamento de cantar toda glória e o louvor de Deus. Volta a falar para marcar a missão de João: “Serás caminho para aquele que é nossa salvação”.(Lc 1, 76-77).No Novo Testamento, por Cristo, com Cristo e em Cristo, será dada a Deus Pai toda Honra e toda Glória.Celebrar João Batista, o primo segundo de Jesus, significa celebrar uma parte expressiva do mistério de Jesus de Nazaré, Filho de Deus que veio ao mundo para iluminar ,isto é, para salvar os que estavam envelhecidos e mudos na sombra da morte (Lc 1,78).

CAMINHARÁ À FRENTE DO SENHOR

João Batista é chamado de precursor de Jesus. Jesus mesmo reconhece esta missão específica (Lc 7,27). Precursor é aquele que caminha na frente.
O pai Zacarias já dissera dele: “Caminhará à frente do Senhor (Lc 1,76)”. Caminhar tem sentido de movimento. Jesus foi o Mestre itinerante que chegou a chamar-se a si mesmo de Caminho (João 14,6).

Há em toda vida e doutrina de Jesus um sentido dinâmico, um ainda por fazer, um ainda por chegar. Até mesmo na grande promessa feita sobre a perenidade da igreja, Jesus usa um verbo no futuro: Edificarei (MT 16,18) que significa que ele estará sempre em construção. A pessoa de João Batista nos poderia lembrar esse sentido dinâmico do cristianismo porque também nós devemos caminhar.
Talvez não na frente,mas com Ele. Mas não apenas na juventude,mas sobretudo na idade madura quando a tendência normal é ir parando, ir-se acomodando, ir-se contentando com o que se conquistou, ir-se fixando até à imortalidade do defunto em funeral. Não se trata de ser borboleta em jardim.
Mas de estar atento a todos os passos de Jesus e acompanhá-lo. O cristianismo não tem apenas a medida histórico-temporal dos Evangelhos e dos Atos dos Apóstolos. É vivo e, portanto, sempre em construção, sempre em transformação. Celebrar o precursor de Jesus, seu primo primeiro, significa lembrarmos desta força interna do cristianismo, que nos exige estar sempre a caminho.

O MAIOR E O MENOR AO MESMO TEMPO
João Batista jamais quis ser um mestre paralelo a Jesus. Jamais disputou o lugar neste âmbito. Apresenta-se como seu servo quando diz que não é digno de carregar-lhe ou calçar-lhe as sandálias (Mt3,11).
Por outro lado, Jesus lhe dá um elogio inaudito: De ventre de mulher não nasceu outro homem maior que João (Mt 11,11; Lc 7,28). Esta lição de humildade é outra grande lição de João Batista. No fundo do coração de cada homem, existe, menos ou mais forte, o desejo de ocupar o lugar de Jesus.

Não raro lermos o Evangelho apenas para ver o que me serve. Isso significa que eu quero fazer o meu caminho, quero ser o mestre de mim mesmo.

Esta atitude, no fundo, é expressão de orgulho.

No momento em que Jesus elogia João, acrescenta: O menor do Reino dos Céus é maior que João.

Isso quer dizer: quanto mais humildemente se recebe a pessoa e a doutrina de Jesus tanto mais perto se estará Dele.

Talvez fosse bom lembrar que humildade não é nem timidez, nem passividade. João foi corajoso e homem de iniciativa.