29. Terça-Feira da VIII Semana do Tempo Comum

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA (LECTIO DIVINA).

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

1) Oração

Fazei, ó Deus, que os acontecimentos deste mundo decorram na paz que desejais, e a vossa Igreja vos possa servir, alegre e tranquila. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

1ª Leitura Eclo 35,1-15

Eclo 35, 1 Aquele que observa a lei faz numerosas oferendas. 2 É um sacrifício salutar guardar os preceitos, e apartar-se de todo pecado. 3 Afastar-se da injustiça é oferecer um sacrifício de propiciação, que consegue o perdão dos pecados.

4 Aquele que oferece a flor da farinha dá graças, e o que usa de misericórdia oferece um sacrifício. 5 Abster-se do mal é coisa agradável ao Senhor; o fugir da injustiça alcança o perdão dos pecados. 6 Não te apresentarás diante do Senhor com as mãos vazias, 7 pois todos (esses ritos) se fazem para obedecer aos preceitos divinos. 8 A oblação do justo enriquece o altar; é um suave odor na presença do Senhor. 9 O sacrifício do justo é aceito (por Deus). O Senhor não se esquecerá dele. 10 Dá glória a Deus de bom coração e nada suprimas das primícias (do produto) de tuas mãos. 11Faze todas as tuas oferendas com um rosto alegre, consagra os dízimos com alegria. 12Dá ao Altíssimo conforme te foi dado por ele, dá de bom coração de acordo com o que tuas mãos ganharam, 13 pois o Senhor retribui a dádiva, e recompensar-te-á tudo sete vezes mais. 14 Não lhe ofereças dádivas perversas, pois ele não as aceitará. 15 Nada esperes de um sacrifício injusto, porque o Senhor é teu juiz, e ele não faz distinção de pessoas.

2) Leitura do Evangelho (Marcos 10,28-31)

Naquele tempo, 28Começou Pedro a dizer a Jesus: “Eis que deixamos tudo e te seguimos.”29Respondeu-lhe Jesus. “Em verdade vos digo: ninguém há que tenha deixado casa ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras por causa de mim e por causa do Evangelho 30que não receba, já neste século, cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, com perseguições e no século vindouro a vida eterna. 31Muitos dos primeiros serão os últimos, e dos últimos serão os primeiros.”

3) Reflexão Mc 10,28-31

* No evangelho de ontem, Jesus falava da conversão que deve ocorrer no relacionamento dos discípulos com os bens materiais: desapegar-se das coisas, vender tudo, dar para os pobres e seguir Jesus. Ou seja, como Jesus, devem viver na total gratuidade, entregando sua vida na mão de Deus e servindo aos irmãos e irmãs (Mc 10,17-27). No evangelho de hoje Jesus explica melhor como deve ser esta vida de gratuidade e de serviço dos que abandonam tudo por causa dele, Jesus, e do Evangelho (Mc 10,28-31).

Marcos 10,28-31Cem vezes mais desde agora, mas com perseguições

Pedro observa: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos”. É como se dissesse: “Fizemos o que o senhor pediu ao jovem rico. Deixamos tudo e te seguimos. Explica para nós como deve ser esta nossa vida?” Pedro quer que Jesus explicite um pouco mais o novo modo de viver no serviço e na gratuidade. A resposta de Jesus é bonita, profunda e simbólica: “Eu garanto a vocês: quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, vai receber cem vezes mais. Agora, durante esta vida, vai receber casas, irmãos, irmãs, mãe, filhos e campos, junto com perseguições. E, no mundo futuro, vai receber a vida eterna”. O tipo de vida que resulta da entrega de tudo é a amostra do Reino que Jesus quer realizar: (1) Alarga a família e cria comunidade, pois aumenta cem vezes o número de irmãos e irmãs. (2) Provoca a partilha dos bens, pois todos terão cem vezes mais casas e campos. A providência divina se encarna e passa pela organização fraterna, onde tudo é de todos e já não haverá mais necessitados. Eles realizam a lei de Deus que pede “entre vocês não pode haver pobres” (Dt 15,4-11). Foi o que fizeram os primeiros cristãos (At 2,42-45). É a vivência perfeita do serviço e da gratuidade. (3) Não devem esperar nenhuma vantagem em troca, nem segurança, nem promoção de nada. Pelo contrário, nesta vida terão tudo isto, mas com perseguições. Pois os que, neste nosso mundo organizado a partir do egoísmo e dos interesses de grupos e pessoas, vivem a partir do amor gratuito e da entrega de si, estes, como Jesus, serão crucificados. (4) Serão perseguidos neste mundo, mas, no mundo futuro terão a vida eterna de que falava o jovem rico.

Jesus e a opção pelos pobres

Um duplo cativeiro marcava a situação do povo na época de Jesus: o cativeiro da política de Herodes, apoiada pelo Império Romano e mantida por todo um sistema bem organizado de exploração e de repressão, e o cativeiro da religião oficial, mantida pelas autoridades religiosas da época. Por causa disso, o clã, a família, a comunidade, estava sendo desintegrada e uma grande parte do povo vivia excluída, marginalizada, sem lugar, nem na religião, nem na sociedade.

Por isso, havia vários movimentos que, como Jesus, procuravam uma nova maneira de viver e conviver em comunidade: essênios, fariseus e, mais tarde, os zelotes. Dentro da comunidade de Jesus, porém, havia algo novo que a diferenciava dos outros grupos. Era a atitude frente aos pobres e excluídos. As comunidades dos fariseus viviam separadas. A palavra “fariseu” quer dizer “separado”. Viviam separadas do povo impuro. Muitos dos fariseus consideravam o povo como ignorante e maldito (Jo 7,49), cheio de pecado (Jo 9,34). Jesus e a sua comunidade, ao contrário, viviam misturados com as pessoas excluídas, consideradas impuras: publicanos, pecadores, prostitutas, leprosos (Mc 2,16; 1,41; Lc 7,37).

Jesus reconhece a riqueza e o valor que os pobres possuem (Mt 11,25-26; Lc 21,1-4). Proclama-os felizes, porque o Reino é deles, dos pobres (Lc 6,20; Mt 5,3). Define sua própria missão como “anunciar a Boa Nova aos pobres” (Lc 4, 18). Ele mesmo vive como pobre. Não possui nada para si, nem mesmo uma pedra para reclinar a cabeça (Lc 9,58). E a quem quer segui-lo para conviver com ele, manda escolher: ou Deus, ou o dinheiro! (Mt 6,24).

Manda fazer opção pelos pobres! (Mc 10,21) A pobreza, que caracterizava a vida de Jesus e dos discípulos, caracterizava também a missão. Ao contrário dos outros missionários (Mt 23,15), os discípulos e as discípulas de Jesus não podiam levar nada, nem ouro, nem prata, nem duas túnicas, nem sacola, nem sandálias (Mt 10,9-10). Deviam confiar é na hospitalidade (Lc 9,4; 10,5-6). E caso fossem acolhidos pelo povo, deviam trabalhar como todo mundo e viver do que receberiam em troca (Lc 10,7-8). Além disso, deviam tratar dos doentes e necessitados (Lc 10,9; Mt 10,8). Então podiam dizer ao povo: “O Reino chegou!” (Lc 10,9).

4) Para um confronto pessoal

1) Como você, na sua vida, realiza a proposta de Pedro: “Deixamos tudo e te seguimos”?

2) Partilha, gratuidade, serviço, acolhida aos excluídos são sinais do Reino. Como as vivo hoje?

5) Oração final

Todos os confins da terra puderam ver a salvação do nosso Deus. Aclamai ao Senhor, terra inteira gritai e exultai cantando hinos. (Sl 97, 3-4)