20. DOMINGO DE PENTECOSTES – ANO B

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA (LECTIO DIVINA).

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

UM VENDAVAL SAGRADO

São Lucas, no seu estilo lúcido e ordenado, é quem conta o que aconteceu. Manhã de domingo. O dia de Pentecostes. Cinqüenta dias depois da Páscoa, que era agora a Páscoa da Ressurreição do Senhor e que iluminava para sempre o mundo com a luz de uma nova esperança de vida e de vitória. A pequena comunidade da Igreja nascente – eram cerca de cento e vinte pessoas – cumprindo ordens do Divino Mestre, não se dispersara; e estava reunida no Cenáculo, em oração. De repente ouviu-se um forte ruído, como se fosse de um grande vendaval e encheu toda a casa onde estavam reunidos.

E apareceram no ar umas como línguas de fogo, que se dispersaram, pousando sobre a cabeça de cada um deles. E ficaram todos cheios do Espírito Santo, e se puseram a falar em línguas diferentes, conforme o Espírito Ihes ia inspirando. A multidão que se reunira lá fora atraída pelo insólito rumor – eram judeus piedosos, que tinham vindo das mais diversas nações – ficaram intrigados e perguntavam como é que, sendo todos aqueles homens galileus, cada um os ouvia falar em sua própria I íngua. E nessas várias I ínguas os discípulos iam proclamando as maravilhas de Deus. Estava acontecendo o mistério da vinda do Espírito Santo, que Jesus havia prometido (Cfr At 2, 1 -11 ). Era o Pentecostes do Novo testamento.

A multiplicação das Línguas que acontecera na construção da Torre de Babei, nos confusos séculos da pré-história dos caminhos de Deus com seu povo, acontece de novo agora, mas em sentido contrário. Lá, as Iínguas se multiplicaram para confundir e dispersar; aqui se multiplicam para unir. Lá, se multiplicaram para abater a soberba dos homens í!11pios; aqui se multiplicam para premiar a humildade dos homens piedosos. Lá, a confusão das línguas provocou uma onda infinita de ira; aqui, a multiplicidade das línguas deu começo a um infinito canto de amor .

Na primeira página do Gênesis se narra que, quando o mundo era ainda a desordem do caos inicial, “o Espírito de Deus pairava sobre as águas” (Gn 1, 2). Não se falava propriamente do Espírito Santo. Era um vendaval cósmico que soprava na superfície do oceano primordial -“espírito” e “vento” é a mesma palavra hebraica “ruah” – indicando a ação de Deus que vinha promover a ordem e a vida nas obras da criação. Mas não é fora de propósito ver já aí uma alusão ao Espírito Santo, que é esse bem-aventurado sopro de Deus, que traz vida à Igreja e a cada cristão. Sem o Espírito Santo, a Igreja seria um corpo sem alma. Sem vida e sem amor. Sem a santidade da graça de Deus. Dentre os mil lugares, do Novo Testamento principalmente, em que aparece este tema, bastaria lembrarmos um: E o que aconteceu no próprio dia de Páscoa,na primeira aparição de Jesus aos discípulos reunidos.

Depois de os ter saudado com o desejo de paz e de Ihes ter dito que, assim como o Pai o enviara, Ele também agora os enviava, “soprou sobre eles e Ihes disse: Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-Ihes-ão perdoados; aqueles aos quais não perdoardes, ser-Ihes-ão retidos” (Jo 20, 22-23). É o Espírito Santo que traz a vida àquele que estiver morto pelo pecado. Traz a vida inicial no batismo e a faz recuperar a quem a tiver perdido de novo. E o Espírito Santo traz a vida em plenitude no sacramento da crisma, para que os crismados tenham a força de Deus para levarem por toda parte o testemunho do Evangelho. E está presente no sacerdócio dos Bispos e dos Padres da Igreja, para que sejam pastores do Povo de Deus. Está presente até no grande mistério da Eucaristia, onde vemos o sacerdote estender as mãos sobre o pão e sobre o vinho, invocando o Espírito Santo para que aconteça o milagre da presença real de Jesus Cristo. Como esteve presente em Nazaré para que acontecesse a concepção virginal de Maria, pela qual “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo1 , 14) .

“Sem o Espírito Santo – escreveu com muita beleza o Patriarca Atenágoras – Deus está distante, o Cristo permanece no passado, o Evangelho é uma letra morta, a Igreja uma simples organização, a autoridade um poder, a missão uma propaganda, o culto um arcaísmo, a ação moral um agir de escravos”.

Numa palavra, a religião seria sem vida. Tudo frio e convencional.

Ao passo que – como prossegue Atenágoras -“no Espírito Santo o cosmos é enobrecido pela geração de Verbo, o Cristo Ressuscitado se faz presente, o Evangelho se faz força do Reino, a Igreja realiza a comunhão trinitária, a autoridade se transforma em serviço, a liturgia é memorial e antecipação, a ação humana se deifica”,

LEITURAS da Solenidade de Pentecostes – Ano B:

1ª – Gn 11,1-9.

2ª – Rm 8,22-27.

3ª – Jo7, 37-39.