
O trecho é belíssimo, e oferece alimento espiritual para uma frutuosa meditação. Aqui, no entanto, vamos contentar-nos com as duas afirmações mais solenes. A primeira é a que diz: “Se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, ficará sozinho; mas, se morrer, produzirá muito fruto” (lbid 24). Está aí toda uma impor¬tante lição sobre o valor da renúncia e da mortificação. A vida dos egoístas é uma vida estéril! Só quem sabe sacrificar-se é capaz de fazer grandes coisas. Mas o que Jesus está dizendo, nessa pequena parábola de tão encantadora beleza, é principalmente o anúncio de sua morte e ressurreição. E ele esse divino grão de trigo, que vai cair no solo da morte, mas vai ressuscitar e dar vida a um infinito número de fiéis. A terra se vai transformar num imenso trigal – a seara da fé – a perder de vista, tudo brotado do sacrifício daquele que no Calvário deu sua vida para a salvação do mundo.
A segunda grande afirmação, que podemos dizer que confir¬ma a primeira, é quando Jesus diz: “Quando eu for elevado da terra, atrairei todos a mim”. “E Ele estava falando – comenta o Evangelista – de que tipo de morte iria morrer” (lbid., 32-33). Do alto da cruz, erguido perante o mundo e a História, Ele faz sua convocação universal. Seus braços não estão abertos apenas porque os cravos os prendem ao patíbulo. Eles querem fazer o gesto de um grande convite. Judeus e gregos podem agora sentir o calor de seu convite e entender o valor da graça da Redenção: “Eles verão – cabe aqui a palavra de Zacarias – aquele a quem transpassaram” (Zc 13, 10).
E agradável pensar que em qualquer ponto da terra em que se erga a imagem do Crucificado, aí está sendo repetido o convite de Jesus. Não podemos negar que há um empenho de marcar o mundo com esse sinal sagrado da Redenção. Não só nos pináculos das igrejas, nas salas dos tribunais e das escolas, no recinto dos lares cristãos e sobre os túmulos dos que adormeceram marcados com o sinal da fé; mas também em lugares típicos da paisagem, como certas alturas dos Alpes e dos Andes. Como há também o louvável costume de trazer sobre o peito uma pequena imagem da cruz. Que não se reduza apenas ao sentido de um adereço, sobre¬tudo quando é de matéria preciosa… Deveria ser sempre um apelo silencioso a relembrar o grande mistério do sacrifício de Cristo. E então teríamos aquele pequeno grupo de gregos, que Felipe e André apresentaram a Jesus, multiplicado em multidões de jovens, velhos e crianças de todo o mundo, que caminham para “ver Jesus” .
E o Divino Salvador está sempre aí para que nos encontre¬mos com Ele. Na sua palavra pregada em toda a terra. No culto celebrado em todas as Igrejas da cidade e do campo. Sobretudo na missa, celebrada “desde o nascer até o pôr-do-sol” ( M11, 11 ).
Como, aliás, podemos encontrar-nos com Ele no exemplo humilde e sincero do cristão que viver a sua fé.
Leituras do V domingo da Quaresma – Ano B:
1º – Jr 31. 31-34.
2º – HB 6. 7-9.
3º – Jo 12. 20-33