Mt 5,13-16 – O SAL E A LUZ – 

A Bíblia explicada em capítulos e versículos-

O Amanhecer do Evangelho-

Reflexões e ilustrações de Padre Lucas de Paula Almeida, CM

O SAL E A LUZ

Já foi dito com muita razão que as coisas mais pequeninas e mais humildes adquirem uma especial grandeza, quando usadas por Jesus em suas parábolas. É ocaso da rede de pesca, da ovelha, das florinhas do campo, dos pássaros, das moedinhas usadas pelo povo. Hoje estamos relendo na Liturgia as duas belas imagens com que Jesus comparou seus discípulos: o sal e a luz. Fazem parte do sermão da montanha, e estão sempre presentes na pregação da 19reja, tão preciosas e tão ricas de oportunidade elas se apresentam (cfr Mt 5,13-16). São comparações que se completam. Sal parece significar uma influência mais íntima, que penetra no interior das pessoas. Enquanto a luz – embora mais bela e mais brilhante – parece prestar-se mais para indicar uma influência externa. Uma e outra, porém, chamam a atenção dos discípulos sobre sua responsabilidade de influir beneficamente na comunidade. Valem como duas pequenas parábolas.

O sal é feito para dar gosto aos alimentos. Tanto que a palavra “Insulso” ou “insosso” quer dizer justamente “sem sal”. Donde dizer “sal insosso” é o mesmo que dizer “sai sem sal”. Um paradoxo, como quis exatamente dizer Jesus aos seus ouvintes: “Se o sal perder o gosto …’! O discípulo de Cristo que pelo mau exemplo de sua vida fosse a negação do espírito do Evangelho, e não transmitisse à comunidade o sabor dos ensinamentos do Divino Mestre, seria um sal sem sal”. Não prestaria para mais nada, senão para ser jogado fora e ser pisado por todos.

Mas há uma consideração mais profunda, que não podemos deixar de fazer sobre o sal. É ele que tempera os alimentos. “Temperar” quer dizer dar gosto justo; nem sal demais, em sal de menos. Elevem a significar, então, que o discípulo de Cristo deve representar na comunidade o equilíbrio, o bom senso, a prudência própria do homem sábio. Não pode ser o homem dos excessos, dos radicalismos da esquerda ou da direita; mas o homem da harmonia e da tranqüilidade da paz. E a Igreja como um todo, com esse tempero espiritual, concorrerá, para o equilíbrio do mundo, para que não haja guerras nem conflitos de qualquer natureza, e para que reine a justiça em todas as modalidades do relacionamento humano: na política, na economia, no bem-estar da comunidade.

E Jesus disse também: “Vós sois a luz do mundo”. Naturalmente, um reflexo da grande luz da verdade e da santidade, que é o próprio Cristo. Acende-se uma luz para que ilumine. Ninguém acende uma lâmpada para escondê-la debaixo de uma vasilha, mas para colocá-la em lugar alto, a fim de que brilhe para todos os que estão na casa. Ninguém deve fazer o bem com a finalidade de ser visto. Seria vaidade e ostentação que Jesus reprova em outro lugar do Evangelho. Mas, por outro lado, sua vida deve sertão digna e tão pura, que possa servir de luz para o caminho dos outros. E Jesus acompanhou sua lição com um exemplo, que se diria inspirado na hora, observador sensível como Ele era. Do lugar presumível em que Ele falava, viam-se ao longe pequenos povoados, situados no alto da montanha e iluminados pela luz do sol que neles se refletia. Um gentil espetáculo de beleza! E Ele disse: “Não pode ficar escondida uma cidade que está no alto de um monte”. Assim brilhará a luz dos cristãos no meio do mundo. E todos glorificarão o Pai que está no céu.

E aqui nós podemos pensar não apenas na beleza do comportamento exemplar de cada cristão, mas no esplendor que ( é a visão da Igreja inteira, pela multiplicação da claridade das luzes que brilham em cada um. Ela se torna no coração da História essa grande montanha iluminada da visão dos profetas. Como de Isaías, quando disse: “Surge e resplandece, Jerusalém, porque chegou a tua luz, e a glória do Senhor se levantou sobre ti” (Is 60, 1 )! Na verdade, a beleza da Igreja não consiste em primeiro lugar no esplendor de seus templos e na esplêndida riqueza da arte sacra que os enobrece. Nem mesmo na beleza do ritmo de sua liturgia em que trabalhou a sabedoria dos séculos ao longo de todo o desenvolvimento do cristianismo. A verdadeira beleza da Igreja é feita do coração de seus filhos, onde se cultiva a fidelidade ao Evangelho e o compromisso total com a pessoa de Jesus Cristo. Esse Cristo que é de ontem, de hoje e de sempre!

Leituras do V Domingo do Tempo Comum

1a) ls58,7-10

2a) 1Cor2,1-5

3a) Mt 5,13-16