Mt 22,1-14 – Convidados para o Grande Banquete-

A Bíblia Explicada em Capítulos e Versículos

O Amanhecer do Evangelho

Entre as imagens preferidas pelos profetas do Antigo Testamento para anunciar os tempos messiânicos e a alegria da salvação que o Messias iria trazer, está a imagem de um grande banquete festivo, sobretudo a ideia de um banquete nupcial.

E, como resulta de todo o contexto da História da Salvação, trata-se das núpcias de Deus com seu povo – também isso tão decantado pelos profetas – e, mais concretamente ainda, das núpcias do Filho de Deus com a Igreja, sua mística Esposa.Isso aparece, por exemplo, no texto de Isaías que lemos como primeira leitura da missa deste domingo, preparando nosso espírito para acolher o Evangelho. E um texto de alto Lirismo, que começa com esta proclamação: “Naquele dia, sobre este monte, o Senhor dos exércitos preparará para todos os povos um banquete de seletos manjares, um festim de vinhos generosos, de carnes gordas e tenras, de vinhos velhos purificados. E neste monte tirará o véu de luto que encobre os povos todos, e a mortalha que se estende sobre todas as gentes” (Is 25,6-7). Por onde já se pode ver que os planos de Deus são sempre planos de felicidade para o homem; e que essa felicidade só não acontece porque o homem se afasta de Deus. E como está no livro de Jó: “Quem é que resistiu a Ele e pôde ter paz (Jó,9,4)?”Não se pode desconhecer a semelhança entre a parábola do evangelho deste domingo sobre os convidados do banquete, e a que lemos domingo passado sobre os vinhateiros desonestos. Num caso e no outro há a rejeição de um primeiro grupo e a convocação de um segundo grupo. Embora rejeitado por alguns, o Evangelho terá sempre novos destinatários, e cumprirá sua missão de fazer felizes os homens, fazendo-os filhos de Deus.Na parábola de hoje, um rei prepara uma grande festa e um suntuoso banquete para celebrar o casamento de seu filho. Para o mundo oriental, o tema é sumamente fascinante. A parábola conta que, quando chegou a data da festa, o rei mandou prevenir os convidados para que ninguém faltasse. Porém cada um arranjou uma desculpa – negócios de última hora que era preciso resolver- e desmanchou o compromisso. Alguns, sem se contentar com a grosseria de recusar o convite, chegaram a maltratar e até matar alguns servos. Está aí, mais do que evidente, a atitude dos filhos de Israel- sobretudo os grandes do povo -que recusaram os planos de Deus e rejeitaram a pregação dos profetas e os mataram.Deus manda então outros servos para convidar a todos os que encontrassem e chamá-Ios para o banquete. São os pregadores do Evangelho, que se dirigem a todos os povos da terra, convidando-os a atender ao convite de Jesus. Como não pensar em todo o crescimento missionário da Igreja, que, numa caminhada avassaladora, vai transpondo todas as fronteiras das. nações e das culturas, “enchendo de convidados a sala do banquete?”Há quem veja nos convidados que arranjaram mil desculpas para não comparecerão banquete essas pessoas que, em vez de santificar o Dia do Senhor, transformam o domingo num dia de puro lazer. Em vez da missa e da Palavra de Deus, os divertimentos, nem sempre isentos de excessos e de pecado. A aplicação é justa. Mas a lição é mais vasta e mais profunda. Ela quer se referir a todos quantos preferem seguir seu egoísmo, sua cobiça, seu orgulho e sua vaidade, e deixar de lado a lei de Deus. Não só o decálogo, mas sobretudo o Evangelho, o Sermão da Montanha e, acima de tudo, o “mandamento novo” promulgado na Última Ceia: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13,34). Religião não é apenas realizar atos de culto.É impregnar a própria vida com a essência da vida de Deus, da qual a graça trazida por Cristo nos faz participar. Ninguém irá deixar de participar dos atos do culto. Mas tratará de fazê-Io de maneira cada vez mais autêntica, não recusando a Deus nenhum momento de sua vida.O final da parábola – que tem toda a aparência de um acréscimo posterior – poderá ajudar-n9s nessa reflexão: Viver sempre revestidos da marca de Deus. E o que ficou simbolizado pela “veste branca” que o ritual do batismo vem conservando desde os primeiros tempos da Igreja.Leituras do XXVIII Domingo do Tempo Comum – Ano A:

1a) Is 25,6-10a

2a) Flp 4, 12-14.10-20

3a) Mt 22, 1-14

Mateus 22,1-14 – O Reino dos Céus é semelhante a um rei que celebrou as bodas de seu filho e convidou a muitos.

O AMANHECER DO EVANGELHO

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

                                       Quinta-feira da 20ª Semana do Tempo Comum1) Oração

Ó Deus, que preparastes para quem vos ama bens que nossos olhos não podem ver; acendei em nossos corações a chama da caridade para que, amando-vos em tudo e acima de tudo, corramos ao encontro das vossas promessas que superam todo desejo. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.2) Leitura do Evangelho (Mateus 22,1-14)

Jesus tornou a falar-lhes por meio de parábolas: O Reino dos céus é comparado a um rei que celebrava as bodas do seu filho. Enviou seus servos para chamar os convidados, mas eles não quiseram vir. Enviou outros ainda, dizendo-lhes: Dizei aos convidados que já está preparado o meu banquete; meus bois e meus animais cevados estão mortos, tudo está preparado. Vinde às bodas! Mas, sem se importarem com aquele convite, foram-se, um a seu campo e outro para seu negócio.Outros lançaram mãos de seus servos, insultaram-nos e os mataram. O rei soube e indignou-se em extremo. Enviou suas tropas, matou aqueles assassinos e incendiou-lhes a cidade. Disse depois a seus servos: O festim está pronto, mas os convidados não foram dignos. Ide às encruzilhadas e convidai para as bodas todos quantos achardes. Espalharam-se eles pelos caminhos e reuniram todos quantos acharam, maus e bons, de modo que a sala do banquete ficou repleta de convidados. O rei entrou para vê-los e viu ali um homem que não trazia a veste nupcial.

Perguntou-lhe: Meu amigo, como entraste aqui, sem a veste nupcial? O homem não proferiu palavra alguma. Disse então o rei aos servos: Amarrai-lhe os pés e as mãos e lançai-o nas trevas exteriores. Ali haverá choro e ranger de dentes. Porque muitos são os chamados, e poucos os escolhidos.3) Reflexão Mateus 22,1-14

* O evangelho de hoje traz a parábola do banquete que se encontra em Mateus e em Lucas, mas com diferenças significativas, provenientes da perspectiva de cada evangelista. O pano de fundo, porém, que levou os dois evangelistas a conservar esta parábola é o mesmo. Nas comunidades dos primeiros cristãos, tanto de Mateus como de Lucas, continuava bem vivo o problema da convivência entre judeus convertidos e pagãos convertidos. Os judeus tinham normas antigas que os impediam de comer com os pagãos. Mesmo depois de terem entrado na comunidade cristã, muitos judeus mantinham o costume antigo de não sentar à mesma mesa com um pagão. Assim, Pedro teve conflitos na comunidade de Jerusalém, por ter entrado na casa de Cornélio, um pagão, e ter comido com ele (At 11,3). Este mesmo problema, porém, era vivido de maneira diferente nas comunidades de Lucas e nas de Mateus.Nas comunidades de Lucas, apesar das diferenças de raça, classe e gênero, eles tinham um grande ideal de partilha e de comunhão (At 2,42; 4,32; 5,12). Por isso, no evangelho de Lucas (Lc 14,15-24), a parábola insiste no convite feito a todos. O dono da festa, indignado com a desistência dos primeiros convidados, mandou chamar os pobres, os aleijados, os cegos, os mancos para virem participar do banquete. Mesmo assim sobrava lugar. Então, o dono da festa mandou convidar todo mundo, até que a casa ficasse cheia. No evangelho de Mateus, a primeira parte da parábola (Mt 22,1-10) tem o mesmo objetivo de Lucas. Ele chega a dizer que o dono da festa mandou entrar “bons e maus” (Mt 22,10). Mas no fim ele acrescenta uma outra parábola (Mt 22,11-14) sobre o traje de festa, que insiste no que é específico dos judeus, a saber, a necessidade da pureza para poder comparecer diante de Deus.* Mateus 22,1-2: O convite para todos.

Alguns manuscritos dizem que a parábola foi contada para os chefes dos sacerdotes e aos anciãos do povo. Esta afirmação pode até servir como chave de leitura, pois ajuda a compreender alguns pontos estranhos que aparecem na história que Jesus conta. A parábola começa assim: “O Reino do Céu é como um rei que preparou a festa de casamento do seu filho”. Esta afirmação inicial evoca a esperança mais profunda: o desejo do povo de estar com Deus para sempre. Várias vezes nos evangelhos se alude a esta esperança, sugerindo que Jesus, o filho do Rei, é o noivo que veio preparar o casamento (Mc 2,19; Apc 21,2; 19,9).* Mateus 22,3-6: Os convidados não quiseram vir. O rei fez dois convites muita insistentes, mas os convidados não quiseram vir. “Um foi para o seu campo, outro foi fazer os seus negócios, e outros agarraram os empregados, bateram neles, e os mataram”.

Em Lucas são os deveres da vida cotidiana que impedem os convidados de aceitar o convite. O primeiro diz: “Comprei um terreno. Preciso vê-lo!” O segundo: “Comprei cinco juntas de bois! Vou experimentá-las!” O terceiro: “Casei. Não posso ir!” (cf. Lc 14,18-20). Dentro das normas e costumes da época, aquelas pessoas tinham o direito e até o dever de recusar o convite que lhes foi feito (cf Dt 20,5-7).* Mateus 22,7: Uma guerra incompreensível. A reação do rei diante da recusa surpreende. “Indignado, o rei mandou suas tropas, que mataram aqueles assassinos, e puseram fogo na cidade deles. Como entender esta reação tão violenta? A parábola foi contada para os chefes dos sacerdotes e aos anciãos do povo (Mt 22,1), os responsáveis pelos da nação.

Muitas vezes, Jesus tinha falado a eles sobre a necessidade da conversão. Ele chegou a chorar sobre a cidade de Jerusalém e dizer: “Se também você compreendesse hoje o caminho da paz! Agora, porém, isso está escondido aos seus olhos! Vão chegar dias em que os inimigos farão trincheiras contra você, a cercarão e apertarão de todos os lados.

Eles esmagarão você e seus filhos, e não deixarão em você pedra sobre pedra. Porque você não reconheceu o tempo em que Deus veio para visitá-la.” (Lc 14,41-44). A reação violenta do rei na parábola refere-se provavelmente ao que aconteceu de fato de acordo com a previsão de Jesus. Quarenta anos depois, Jerusalém foi destruída (Lc 19,41-44; 21,6;).* Mateus 22,8-10: O convite permanece de pé. Pela terceira vez, o rei convida o povo. Ele disse aos empregados: “A festa de casamento está pronta, mas os convidados não a mereceram.

Portanto, vão até as encruzilhadas dos caminhos, e convidem para a festa todos os que vocês encontrarem. Então os empregados saíram pelos caminhos, e reuniram todos os que encontraram, maus e bons. E a sala da festa ficou cheia de convidados“. Os maus que eram excluídos como impuros da participação no culto dos judeus, agora são convidados, especificamente, pelo rei para participar da festa. No contexto da época, os maus eram os pagãos. Eles também são convidados para participar da festa de casamento.* Mateus 22,11-14: O traje de festa. Estes versos contam como o rei entrou na sala da festa e viu alguém sem o traje da festa. O rei perguntou: ‘Amigo, como foi que você entrou aqui sem o traje de festa?’ Mas o homem nada respondeu. A história conta que o homem foi amarrado e jogado fora na escuridão. E conclui: “Muitos são chamados, e poucos são escolhidos”. Alguns estudiosos acham que aqui se trata de uma segunda parábola que foi acrescentada para abrandar a impressão que ficou da primeira parábola onde se disse que “maus e bons” entraram para a festa (Mt 22,10). Mesmo admitindo que já não é a observância da lei que nos traz a salvação, mas sim a fé no amor gratuito de Deus, isto em nada diminui a necessidade da pureza do coração como condição para poder comparecer diante de Deus.4) Para um confronto pessoal

  1. Quais as pessoas que normalmente são convidadas para as nossas festas? Por que?  Quais as pessoas que não são convidadas para as nossas festas? Por que?
  1. Quais os motivos que hoje limitam a participação de muitas pessoas na sociedade e na igreja? Quais os motivos que certas pessoas alegam para se excluir do dever de participar na comunidade? Será que são motivos justos?

5) Oração final

Ó meu Deus, criai em mim um coração puro, e renovai-me o espírito de firmeza. De vossa face não me rejeiteis, e nem me priveis de vosso santo Espírito. (Sl 50, 12-13)