EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

(LECTIO DIVINA)

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA

1)Oração

Ó Deus, que preparastes morada digna do Espírito Santo no imaculado coração de Maria, concedei que, por sua intercessão, nos tornemos um templo da vossa glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

2)Leitura do Evangelho (Lucas 2,41-51)
Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém para a festa da Páscoa. Tendo ele atingido doze anos, subiram a Jerusalém, segundo o costume da festa. Acabados os dias da festa, quando voltavam, ficou o menino Jesus em Jerusalém, sem que os seus pais o percebessem. Pensando que ele estivesse com os seus companheiros de comitiva, andaram caminho de um dia e o buscaram entre os parentes e conhecidos. Mas não o encontrando, voltaram a Jerusalém, à procura dele. Três dias depois o acharam no templo, sentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os. Todos os que o ouviam estavam maravilhados da sabedoria de suas respostas. Quando eles o viram, ficaram admirados. E sua mãe disse-lhe: “Meu filho, que nos fizeste?! Eis que teu pai e eu andávamos à tua procura, cheios de aflição”. Respondeu-lhes ele: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?” Eles, porém, não compreenderam o que ele lhes dissera. Em seguida, desceu com eles a Nazaré e lhes era submisso. Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração.

3)Reflexão

* Os capítulos 1 e 2 do Evangelho de Lucas são muito conhecidos, mas pouco aprofundados. Lucas escreve imitando os escritos do AT. É como se os primeiros dois capítulos do seu evangelho fossem o último capítulo do AT que abre a porta para a chegada do Novo. Estes dois capítulos são a dobradiça entre o AT e o NT. Lucas quer mostrar como as profecias estão se realizando. João e Jesus cumprem o Antigo e iniciam o Novo.

* A Igreja, refletindo sobre a mãe de Jesus, foi entendendo, pouco a pouco, toda a verdade desta figura singular. Neste processo, a Igreja chegou a professar que o pecado original, tendo marcado para sempre a história da humanidade, mas não lançou raízes no ser de Maria. Vivendo num mundo de egoísmo, ela não foi contaminada pelo pecado.

* Esta graça e privilégio, conferidos por Deus à mãe do Salvador, aconteceram por causa de Jesus Cristo. Deus preparou para receber seu Filho, que seria imune da culpa original, um ventre não corrompido pelo pecado. Maria, de certo modo, experimentou, por antecipação, o fruto da ação de seu filho Jesus, que viria ao mundo para salvar a humanidade do pecado. A mãe foi a primeira a tirar partido da missão do Filho. A santidade do Filho Jesus santificou todo o ser da mãe Maria, desde que fora concebida.
*A proclamação do anjo “Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo” fundamenta a total santidade de Maria. Sendo cheia de graça, nela não podia haver espaço para o pecado e para a infidelidade a Deus. E sua existência, desde o início, só podia ser total comunhão com Deus. Por outro lado, toda a vida de Maria foi marcada pela pessoa de Jesus, a quem estaria ligada desde o momento do anúncio da encarnação. A concepção imaculada é, pois, mais uma maravilha da graça de Deus na vida de Maria.

* Nos primeiros dois capítulos de Lucas, tudo gira em torno do nascimento de duas crianças: João e Jesus. Os dois capítulos nos fazem sentir o perfume do Evangelho de Lucas. Neles, o ambiente é de ternura e de louvor. Do começo ao fim, se louva e se canta a misericórdia de Deus: os cânticos de Maria (Lc 1,46-55), de Zacarias (Lc 1,68-79), dos anjos (Lc 2,14), de Simeão (Lc 2,29-32). Finalmente, Deus chegou para cumprir suas promessas, e Ele as cumpre em favor dos pobres, dos anawim, dos que souberam perseverar e esperar pela sua vinda: Isabel, Zacarias, Maria, José, Simeão, Ana, os pastores.

* Os capítulos 1 e 2 do Evangelho de Lucas são muito conhecidos, mas pouco aprofundados. Lucas escreve imitando os escritos do AT. É como se os primeiros dois capítulos do seu evangelho fossem o último capítulo do AT que abre a porta para a chegada do Novo. Estes dois capítulos são a dobradiça entre o AT e o NT. Lucas quer mostrar como as profecias estão se realizando. João e Jesus cumprem o Antigo e iniciam o Novo.
ORDEM DO CARMO DE PORTUGAL

* Encontramo-nos nos versículos finais dos denominados “relatos da infância de Jesus” segundo Lucas (cap. 1-2). Um prólogo teológico e cristológico mais que histórico, no qual são apresentados os temas que serão mais frequentes na catequese de Lucas: o Templo, a ida a Jerusalém, a filiação divina, os pobres, o Pai misericordioso, etc. Através de uma leitura retrospectiva, na infância de Jesus já aparecem os sinais da sua vida futura. Maria e José conduzem Jesus a Jerusalém para participar numa das três peregrinações (Páscoa, Pentecostes e festa das Tendas) prescritas pela Lei (Dt 16, 16). Durante os sete dias legais de festa os peregrinos tomavam parte no culto e escutavam os Rabinos que falavam no pórtico do Templo.

* “O menino Jesus ficou em Jerusalém”, a cidade que o Senhor escolheu como sua sede (2Re 21, 4-7; Jer 3, 17; Zc 3, 2), onde se encontra o Templo (Sal 68, 30; 76, 3; 135, 21), único lugar de culto para o judaísmo (Jo 4, 2). Jerusalém é o lugar onde “tudo o que foi escrito pelos profetas se cumprirá” (Lc 18, 21), o lugar da sua “partida” (Lc 9, 31.51; 24, 18) e das aparições do ressuscitado (Lc 24, 33.36-49).

* Os pais “começaram a procurá-lo”, cheios de angústia e ansiedade. Como é possível perder um filho não se dando conta de que Jesus não vai na caravana? É Cristo que deve seguir os outros ou o contrário? “Depois de três dias” termina a “paixão” e encontram Jesus no Templo, entre os doutores, ensinando, perante o espanto geral. Começam a desvelar-se as características da sua missão, que encontram o seu compêndio nas primeiras palavras pronunciadas por Jesus no evangelho de Lucas: “Porque me procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?”.

* Mas quem era o seu pai? É o mesmo Pai das últimas palavras pronunciadas por Jesus no evangelho de Lucas: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23, 46) e na ascensão ao céu: “E Eu vou mandar sobre vós o que meu Pai prometeu” (Lc 24, 49). Ocorre, antes de tudo, que se deve obedecer a Deus, como bem entendeu Pedro depois do Pentecostes (Act 5, 29), procurar o Reino de Deus e a sua justiça (Mt 6, 33), procurar o Pai na oração (Mt 7, 7-8), procurar Jesus (Jo, 1, 38) para o seguir. Jesus declara a sua independência – “eu devo” – quando se refere ao Pai celestial. Dá-lo a conhecer na sua imensa bondade (Lc 15), contudo cria uma distância, uma ruptura, relativamente aos seus.

* Antes dos laços afetivos, da realização pessoal, dos negócios… está o projeto de Deus. “Pai, se quiseres, afasta de mim este cálice! Mas não se faça a minha vontade” (Lc 22, 42). Para a mãe de Jesus começa a realizar-se a profecia de Simeão (Lc 2, 34): “mas eles não compreenderam”. A incompreensão dos seus é também a dos discípulos quando do anúncio da Paixão (Lc 18, 34). Revoltar-se? Submeter-se? Ir? Jesus “ desceu com eles, voltou para Nazaré e era-lhes submisso”, diz Lucas.

* Maria conservava todas estas coisas no seu coração. O comportamento de Maria expressa o desenvolvimento da fé de uma pessoa que cresce e progride na inteligência do mistério. Jesus mostra que a obediência a Deus é a condição essencial de realização na vida, através de um caminho de participação na família e na comunidade. A obediência ao Pai é que faz de nós irmãos e irmãs, ensina-nos a obedecer uns aos outros, a reconhecer em cada um o projecto de Deus. Neste clima são criadas as condições para crescer “em sabedoria, em idade e em graça diante de Deus e dos homens” e caminhar juntos.

4) Para um confronto pessoal

1) Aprendo com Maria a guardar o Mistéirio em meu coração?

2) Aprendo com Maria a livrar-me do egoísmo?

5) Oração final

Cantai ao Senhor, bendizei o seu nome, anunciai dia após dia a sua salvação.Entre os povos narrai a sua glória, entre todas as nações dizei seus prodígios. (Sl 95, 2-3)