04. III Domingo da Quaresma

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA (LECTIO DIVINA).

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

Era particularmente notável entre os antigos israelitas o sentimento de profundo temor diante da majestade de Deus. Ao passo que nós, da geração do Novo Testamento, preferimos aproxi¬mar-nos de Deus em atitude de confiança e de amor. Os Santos Padres notam, por exemplo, a evidente diferença entre a promul¬gação da Lei de Moisés no monte Sinai, onde Deus se manifesta num quadro de relâmpagos e trovões e toques de trombeta, e no meio dos novelos da fumaça de uma densa nuvem, e a proclamação da lei de Jesus, na tranqüila paz do Monte das Bem-aventuranças, no meio de discípulos cheios de uma atenção toda feita de amor. Estamos lendo neste domingo como primeira leitura – preparando o evangelho da expulsão dos vendilhões do Templo – a cena da promulgação do Decálogo no Sinai: bom ler a narração completa no livro do Êxodo, para ver como é empolgante a descrição feita pelo escritor sagrado. Dá bem uma noção do imenso temor de Que se sentia possuído o povo, diante da manifestação de Deus no alto da montanha.
E aí se elencam os dez mandamentos, com ênfase especialíssima em tudo o que se refere à adoração de Javé, ao repúdio da idolatria e à reverência devida ao nome do Senhor. Não seria fora de propósito notar que o modo de dividir os mandamentos em dez é diferente nos diversos autores antigos, como Fílon, Flávio Josefo ou Orígenes. A seqüência adotada pela Igreja é a de Santo Agos¬tinho.

No conjunto formam essa lei fundamental que está na consciência de toda a humanidade e que, se faltasse, tornar-se-ia impossível uma convivência pacífica e honesta entre os homens. Mas no Sinai ela é transmitida pela autoridade pessoal de Deus, Senhor da História. Esse Deus que se apresenta como aquele que livrou o povo da escravidão do Egito e que, portanto, tem direito à sua obediência e vem fazer com ele um pacto. Esse pacto – a “aliança” – se consagrou com um soleníssimo sacrifício, oferecido sobre um altar rodeado de doze estrelas, representando as doze tribos de Israel. No fim da exposição da Lei, feita por Moisés, o povo se comprometeu a cumpri-Ia e foram todos aspergidos com o sangue dos novilhos imolados. Era a promulgação da carta nacional e religiosa de um novo povo. E foi gravada em duas tábuas de pedra, que se conservaram na Arca, chamada, por isso mesmo, a “Arca da Aliança”. Ela permanecerá para sempre, elevada e santificada pela Lei nova do Evangelho, onde, aliás, Jesus sintetiza tudo na lei do amor: “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. A Lei e os profetas, tudo está aí compendiado.

A página do evangelho de São João, que se vai ler em segui¬da, focaliza um grave desrespeito ao segundo mandamento. E a cena da profanação do Templo, onde circulavam mercadores de bois, de ovelhas e de pombos, e onde os cambistas faziam as trocas de moedas. Jesus repudiou tudo aquilo energicamente, fazendo até um chicote de cordas para expulsar todos aqueles profanadores, dizendo-Ihes: Tirem tudo isso daqui! Não façam da casa de meu Pai uma praça de comércio. Pois, na verdade, tinham transformado a casa de oração num antro de negócios, nem sempre honestos. E o Divino Mestre não poderia mesmo tolerá-Io.

Mas no gesto de Jesus havia algo de mais profundo. Antes de tudo, é preciso notar que os judeus reclamaram contra Jesus. Só um profeta de grandes poderes teria autoridade para fazer gestos assim. E perguntaram que sinal Jesus poderia dar de que tinha tal poder. Jesus prometeu um sinal solene: “Destruí este templo e em três dias eu o reerguerei”. E eles reclamaram de novo: “Quarenta anos foram necessários para construir este Templo, e tu em três dias serias capaz de reerguê-Io?” Mas Jesus falava do templo de seu corpo. Os discípulos bem o reconheceram depois da Ressurreição e creram no que Ele havia dito (cfr Jo 2, 13-22).

Pois justamente aí está a grande lição que os comentaristas da Escritura nos ajudam a descobrir. Com a vinda de Jesus, o Templo de Jerusalém ia perder seu sentido. Vem a hora – irá dizer Jesus à Samaritana – e já chegou, em que os verdadeiros adora¬dores não mais adorarão no Templo de Jerusalém, nem no monte Garizim, na Samaria. Adorarão o Pai em espírito e verdade, isto é, em tudo aquilo que Jesus nos comunica (cfr Jo 4, 21-24). O verda¬deiro lugar da adoração de Deus é agora o próprio corpo glorifi¬cado de Jesus, “0 templo reconstruído em três dias”. Ele é o centro do culto em espírito e verdade. Ele é o lugar da presença divina (Jo 1, 14). Ele é o verdadeiro “sagrado”, que substituiu o antigo lugar sagrado do povo de Israel.

¬ LEITURAS do III domingo da Quaresma – Ano B:
– Ex 20,1-17; (ou breve: Ex 20, 1-3, 7-8,12-17).
– 2º – 1 Cor 1, 22-25.
– 3ª – Jo 2, 13-25.

EVANGELHO DO DIA E HOMILIA
(LECTIO DIVINA)
REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM
III DOMINGO DA QUARESMA – ANO B
CAMINHANDO JUNTOS, NÓS VAMOS CONSTRUINDO O TEMPLO DE DEUS, QUE É A COMUNIDADE
Pe. Lucas de Paula Almeida, CM

Irmãos. O Evangelho de hoje vai falar sobre o Templo. E Jesus chama o seu corpo de Templo. Por isso mesmo, no Novo Testamento, a Igreja de Cristo é chamada também de Templo Santo. Esta idéia vai nos ajudar a refletir hoje em nossa vida de comunidade.

ATO PENITENCIAL

– Sabemos que a fraternidade é o melhor. Mas ficamos escravos do dinheiro, do egoísmo e dos nossos interesses.(Pausa) Perdão, Senhor !
Todos: Perdão, Senhor, porque ainda não caminhamos juntos, como comunidade.
– Dizemos que somos cristãos e templos de Deus, mas aceitamos entre nós a inveja, a desunião e a injustiça. (Pausa)Perdão, Senhor !
Todos: Perdão, Senhor, porque ainda não caminhamos juntos, como comunidade.
– Temos por missão construir uma comunidade aqui, construir a igreja viva de Cristo. E estamos cruzando os braços, quando não destruímos o que os outros fizeram. (Pausa)Perdão, Senhor !
Todos: Perdão, Senhor, porque ainda não caminhamos juntos, como comunidade.

1ª ORAÇÃO

Senhor, hoje queremos ouvir melhor a sua palavra, para caminhar juntos. Abra o nosso coração. Temos boa vontade, mas não sabemos ainda tomar as decisões na hora certa. Queremos fazer tudo direito, mas na hora a gente fracassa.
Conceda-nos a sua graça, para sabermos ainda perdoar, compreender e esclarecer os nossos irmãos. E todos juntos trabalharmos na construção da igreja viva de Jesus Cristo. Ele que vive e reina com o Senhor, na unidade do Espírito Santo.

REFLEXÕES SOBRE A 1ª LEITURA DO LIVRO DO EXODO 20,1-17; (ou breve: Ex 20, 1-3, 7-8,12-17).

Na Bíblia, Deus está sempre mostrando para a gente o que devemos fazer, para construirmos a Igreja viva de Jesus Cristo, a nossa comunidade. Os mandamentos de Deus são luzes, que clareiam o nosso caminho e nos fazem caminhar juntos.

REFLEXÕES SOBRE A 2ª LEITURA: 1 Cor 1, 22-25
Há muita gente que vive atrás de milagres para terem fé. E vivem fazendo promessas, comerciando com Deus. Outros fazem da religião apenas um passa-tempo.
Cristo crucificado nos ensina que o sofrimento é o caminho para construirmos a sua Igreja viva, caminhando juntos em comunidade.

MENSAGEM/ REFLEXÕES SOBRE O EVANGELHO

Irmãos. A Igreja de Cristo é Comparada com um grande Templo que está sendo construído. E que vai ficar pronto apenas no fim dos tempos. Meditemos um pouco mais a respeito dessa construção.

1.SOMOS O TEMPLO DE DEUS EM CONSTRUÇÃO.
A Igreja universal, ou mesmo cada comunidade de base é como que um templo. O alicerce é Cristo.
Todos os cristãos são convidados para nessa construção. Cada um com o seu jeito. Há serviço para todo mundo que quiser trabalhar. Sempre há vagas.
Muita gente já trabalhou antes de nós. E não é a gente que vai deixar tudo pronto. Nossa missão é levantar as paredes. Se pegamos lá em baixo, ou em bem no alto, tanto faz.
O importante é a gente usar um material bom, que não estrague depressa. É uma massa bem resistente.
Para a construção da comunidade, o material usado tem de ter a liga do amor, da fraternidade, da caridade. Sem isso, nada feito. Pode ficar até uma parede bonita, mas cai logo.

2.RECONSTRUIR AS PARTES ESTRAGADAS DO TEMPLO
O Evangelho de hoje nos mostrou Jesus derrubando as coisas. E ele disse que tinha poder de fazer aquilo, porque tinha também poder de reconstruir o templo do seu corpo, em três dias.
Na Igreja de Cristo, tudo o que é feito com outros interesses se não é por amor, não fica de pé.
Às vezes, são interesses de ganhar dinheiro, como os vendilhões do templo. Estavam no templo, não para rezar, nem para fazer seus sacrifícios a Deus. Foram lá só para negociar.
É importante a gente renovar os verdadeiros motivos de sermos Igreja e estarmos freqüentando a Igreja. Não pode ser para negócios, nem para vaidade, nem para ganhar a política. Seria hipocrisia e fingimento. Isso não é construir o templo de Deus. É estragar tudo.
Caminhar juntos, como irmãos em comunidade, com toda sinceridade, é o jeito de reconstruirmos o que estiver estragado. Na nossa vida e na vida do irmão. Caminhando juntos estaremos sempre levantando a comunidade, a Igreja viva de Cristo.

3. O VERDA¬DEIRO LUGAR DA ADORAÇÃO DE DEUS É AGORA O PRÓPRIO CORPO GLORIFI¬CADO DE JESUS
A página do evangelho de São João, que se vai ler em segui¬da, focaliza um grave desrespeito ao segundo mandamento. E a cena da profanação do Templo, onde circulavam mercadores de bois, de ovelhas e de pombos, e onde os cambistas faziam as trocas de moedas. Jesus repudiou tudo aquilo energicamente, fazendo até um chicote de cordas para expulsar todos aqueles profanadores, dizendo-Ihes: Tirem tudo isso daqui! Não façam da casa de meu Pai uma praça de comércio. Pois, na verdade, tinham transformado a casa de oração num antro de negócios, nem sempre honestos. E o Divino Mestre não poderia mesmo tolerá-Io.

Mas no gesto de Jesus havia algo de mais profundo. Antes de tudo, é preciso notar que os judeus reclamaram contra Jesus. Só um profeta de grandes poderes teria autoridade para fazer gestos assim.

E perguntaram que sinal Jesus poderia dar de que tinha tal poder. Jesus prometeu um sinal solene: “Destruí este templo e em três dias eu o reerguerei”.
E eles reclamaram de novo: “Quarenta anos foram necessários para construir este Templo, e tu em três dias serias capaz de reerguê-Io?”
Mas Jesus falava do templo de seu corpo. Os discípulos bem o reconheceram depois da Ressurreição e creram no que Ele havia dito (cfr Jo 2, 13-22).
Pois justamente aí está a grande lição que os comentaristas da Escritura nos ajudam a descobrir.
Com a vinda de Jesus, o Templo de Jerusalém ia perder seu sentido. Vem a hora – irá dizer Jesus à Samaritana – e já chegou, em que os verdadeiros adora¬dores não mais adorarão no Templo de Jerusalém, nem no monte Garizim, na Samaria.
Adorarão o Pai em espírito e verdade, isto é, em tudo aquilo que Jesus nos comunica (cfr Jo 4, 21-24). O verda¬deiro lugar da adoração de Deus é agora o próprio corpo glorifi-cado de Jesus, “0 templo reconstruído em três dias”.
Ele é o centro do culto em espírito e verdade.
Ele é o lugar da presença divina (Jo 1, 14).
Ele é o verdadeiro “sagrado”, que substituiu o antigo lugar sagrado do povo de Israel.

¬ LEITURAS do 11I domingo da Quaresma – Ano B: H

– Ex 20,1-17; (ou breve: Ex 20, 1-3, 7-8,12-17).
– 2º – 1 Cor 1, 22-25.
– 3ª – Jo 2, 13-25.

REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
TERCEIRO DOMINGO DA QUARESMA

João 2, 13-25: “Mas Ele falava do templo do seu corpo”

Na cena do texto, Jesus vai a Jerusalém para a primeira das três Páscoas mencionadas em João (nos Sinóticos – Mt, Mc, Lc – a vida pública de Jesus só durou um ano e eles só mencionam uma Páscoa). No Templo, que deveria ser o lugar do culto ao Deus verdadeiro da Bíblia, o Deus de libertação, o Deus dos pobres e sofridos, ele encontra um verdadeiro mercado, onde, no pátio externo, era possível comprar os animais para os sacrifícios e trocar a moeda, uma vez que a moeda corrente do país não era aceita no Templo. Quando atacava esse comércio, Jesus estava indo além da mera condenação de um abuso. Pois os animais e o câmbio eram necessários para o funcionamento do Templo. Como Jesus substituiu a purificação dos judeus no sinal das bodas de Caná, aqui ele demonstra que o centro do culto judaico perdeu o seu sentido. Pois, a presença de Deus, antes achada no Templo, agora deturpado pela elite religiosa e política, doravante reside em Jesus, o Filho de Deus encarnado. Ele cumpre as profecias de Jeremias e Zacarias que predisseram uma religião sem templo nacionalista, explorador econômico do povo (Jr 7, 11-14; Zc 14, 20-21).

João entende que o templo é o corpo de Jesus, que será ressuscitado em três dias – ele usa de propósito o verbo “reerguer” em lugar do “reconstruir” dos Sinóticos (Mt 26, 61). As autoridades judaicas destruíram o sentido do Templo, abusando do povo economicamente, como vão destruir o corpo de Jesus, matando-o; mas Jesus tem o poder de reerguer o verdadeiro Templo onde habita Deus, na ressurreição, depois de três dias.
Mais uma vez Jesus, através de uma ação profética, desmascara a deturpação da religião por parte das autoridades de Jerusalém. Embora o templo fosse muito bonito e imponente, com liturgias pomposas bem frequentadas, a sua religião era vazia, pois escondia o rosto verdadeiro de Deus. As igrejas correm este mesmo risco nos dias de hoje. Além da descarada exploração financeira dos seus fiéis por parte de algumas seitas (cuidemos para não generalizarmos aqui e evitemos que a mesma coisa aconteça na nossa Igreja!), aos poucos muitas comunidades cristãs perderam a sua dimensão profética de denúncia e anúncio, configurando-se ao mundo neo-liberal de consumismo e gratificação emocional imediata, tornando o Evangelho uma mercadoria a ser vendida através de um marketing, que jamais pode questionar os valores da sociedade vigente. Como escreveu uma vez o Frei Beto, a religião assim “brilha sob as luzes da ribalta, trocando o silêncio pela histeria pública, a meditação pela emoção, a liturgia pela dança aeróbica. Na esfera católica, torna o produto mais palatável, destituindo-o de três fatores fundamentais na constituição da Igreja, mas inadequados ao mercado: a inserção dos fiéis em comunidades, a reflexão bíblico-teológica e o compromisso pastoral no serviço à justiça. As homilias se reduzem a breves exortações que não incomodam as consciências” (Estadão 03.11.99).

Assim, o texto de hoje nos traz um alerta – Jesus não veio compactuar com uma religião exploradora, alienadora e aliada ao poder, mas para encarnar as opções do Deus Javé, libertador dos males e de toda exploração; ele veio “para que todos tenham a vida e a vida em abundância” (Jo 10, 10). Uma religião que abandona a sua função profética é tão traidora como a religião decadente das elites do Templo.

Nos últimos anos, diante da arrogância despótica de George W. Bush e seus aliados, verdadeiros criminosos de guerra, diante do massacre em Gaza, diante da tragédia de Darfur e do Congo, as vozes de Bento XVI, do Arcebispo Desmond Tutu, do Dalai Lama e de outros líderes religiosos soaram profeticamente ao redor do mundo, lembrando-nos que a religião não se confina à sacristia, mas tem que levar à prática dos princípios do Reino, que recusa a legitimar o derramamento de sangue em troca de petróleo ou minérios. A Campanha da Fraternidade 2009 convoca todos os cristãos para que recuperem essa dimensão profética na luta em favor da verdadeira segurança com o lema “A Paz é Fruto da Justiça” (Is 32, 17), e não das armas, dos bombardeios ou da repressão policial. Aproveitemos do “tempo oportuno” que é a Quaresma para reavaliar a nossa prática religiosa, para que não caia na desgraça do Templo – de ser bonita, atraente e emocionante, mas vazia de sentido.
¬ LEITURAS do III domingo da Quaresma – Ano B:
– Ex 20,1-17; (ou breve: Ex 20, 1-3, 7-8,12-17).
– 2º – 1 Cor 1, 22-25. – 3ª – Jo 2, 13-25.