EVANGELHO DO DIA E HOMILIA

O AMANHECER DO EVANGELHO

REFLEXÕES E ILUSTRAÇÕES DE PE. LUCAS DE PAULA ALMEIDA, CM

XXII DOMINGO DO TEMPO COMUM -ANO B

LEI E TRADIÇÕES

A Lei que Deus deu ao povo israelita é uma lei de pureza e de verdade. E uma estrada luminosa e segura por onde a liberdade humana pode caminhar jubilosamente ao encontro de Deus e no convívio harmonioso dos irmãos.

Quando Moisés entregou os mandamentos ao povo, disse estas belas palavras: “Observai-os e cumpri-os; pois constituem a vossa sabedoria e a vossa prudência diante dos povos; os quais, ao ouvirem falar de todos esses estatutos, dirão:

‘Realmente é um povo sábio e sensato esta grande nação!’ De fato, que nação existe tão grande, que tenha a divindade tão perto de si, como está o Senhor nosso Deus, toda vez que o invocamos?” (Dt 4, 6- 7).

A Lei é bela, perfeita, portadora de paz. Há até um salmo – o 118 (no texto hebraico, 119) – onde o salmista, com muita arte, distribui pelas vinte e duas letras do alfabeto – oito versículos para cada letra – uma verdadeira antologia dos elogios da Lei. E, por exemplo, muito bonito este louvor da Lei, que está no versículo- 105: “Tua palavra é lâmpada para os meus pés, e luz para o meu caminho”.

Nada mais justo, portanto, do que imaginar o povo amando a Lei e feliz em observá-la. Mas, no correr da História, os mestres e doutores foram acrescentando à Lei uma verdadeira multidão de explicações e de interpretações, que muitas vezes tornaram a prática dos deveres para com Deus pesada e odiosa.

Eram as famosas “tradições dos antigos”, que se acumulavam e se multiplicavam numa detestável casuística.

Entre elas, as complicadíssimas abluções rituais das mãos antes da comida. Não se trata de um lavar as mãos por motivo higiênico. Trata-se de todo um ritual muito complexo, que marcava a posição em que devia ficar a mão, a direção em que devia ser derramada a água, e até onde ela devia atingir. Tudo tão longe da verdade e da simplicidade das coisas de Deus! E os rabinos eram rigorosíssimos em exigir essas abluções,chegando um deles a sentenciar que havia demônios encarregados de fazer mal aos que não as praticassem.

Pois bem, esse problema apareceu certa vez, nessa atitude de vigilância odiosa dos escribas e fariseus sempre prontos a acusar Jesus de rebeldia à Lei de Moisés. Reclamaram porque os discípulos de Jesus comiam sem ter feito as abluções das mãos prescritas pela tradição dos antigos.

A resposta de Jesus é marcada por uma enérgica franqueza, que parece querer cortar o mal pela raiz. E Jamais permitir que os seguidores do Evangelho aceitem essas regras escravizantes que a imperícia humana tinha introduzido na interpretação da Lei de Deus. Disse Jesus: “Bem profetizou Isaías de vós, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo honra-me com os lábios, enquanto o seu coração está bem longe de mim. Em vão, porém, me prestam culto, ensinando doutrinas que são preceitos humanos’ De fato, desprezando os mandamentos de Deus, vos apegais à tradição dos homens” (Mc 7, 6-8).

Sempre houve de tais aberrações. Não só no rigorismo de tantas escolas rabínicas do Antigo Testamento, mas também no meio da comunidade do cristianismo.

Os rigoristas, os apegados a fórmulas mais do que ao espírito da Lei de Deus. Sempre houve os grupos extremistas, os tradicionalistas ferrenhos, que criam, inclusive, divisões dentro da Igreja. Tudo isso está muito longe da limpidez e da serenidade do Evangelho. Bem soube o Concílio Vaticano II repudiar esses erros e fazer soprar na Igreja uma aragem de sinceridade. A própria celebração litúrgica foi simplificada e aliviada de certas fórmulas pesadas que a vinham sobrecarregando. E em tudo o mais o Concílio fez viver esse clima. O que se quer é o amor de Deus, o amor à verdade, o respeito à dignidade do homem e à liberdade dos filhos de Deus.

Mas Jesus completou ainda, dizendo que o que mancha o homem não é o que entra nele, vindo de fora. É o que sai dele, do seu interior, do seu coração. Do coração é que procede a violência, a mentira, a soberba, a impudicícia. Isso é que mancha o homem (cfr Mc 7, 14-22)! Felizes os que sabem saborear a limpidez e a sinceridade dos ensinamentos do Evangelho!

LEITURAS do XXII Domingo do Tempo Comum – Ano B:

1ª – Dt 4,1-2,6-8. –

2ª – Tg1,17-18,21b-22,27. –

3ª – Mc 7, 1-8a, 14-15, 21-23.