Mt 4,1-11- I Domingo da QUARESMA – NO MONTE DA TENTAÇÃO

Reflexões e ilustrações de Padre Lucas de Paula Almeida, CM

 I Domingo da Quaresma

No primeiro domingo da Quaresma, aparece na Liturgia o tema da tentação.

E logo na primeira leitura da missa, somos reconduzidos à aurora da humanidade, onde aconteceu- segundo a narração do terceiro capítulo do Gênesis- a tentação e a queda do homem, que deu origem ao pecado e a todo o mal de que está entretecida a história da humanidade. A narração de como o demônio tentou nossos primeiros pais é um primor de sabedoria psicológica. O tentador começa procurando despertar em Eva a má vontade para com o Criador, exagerando a ordem de Deus, para apresentá-lo como demasiado exigente e autoritário:

“E verdade que Deus vos proibiu comer de qualquer árvore do jardim?”  Eva – já começando a ficar abalada em sua confiança em Deus – ainda procurou  defendê-lo: “Não é bem assim.

Podemos comer de todos os frutos das árvores do jardim. Só não podemos comer do fruto da árvore que está bem no centro. Se dela comermos, morreremos”. Ela fizera mal em não cortar o diálogo antes que começasse. Veio daí toda a catástrofe. O tentador lhe fez ver que o fruto era belo e apetitoso.

E ela comeu e deu-o ao marido. E desmoronou toda a felicidade de que se gozava na paz da inocência daquele alvorecer do mundo (Cfr Gn 3,1-7). Veio o remorso, a antevisão da morte, a vida marcada pela dor e pelo sofrimento, embora já se prenunciando para um dia a vitória, do Salvador, que iria esmagar a cabeça da serpente infernal. E o proto-evangelho.

Jesus quis ser tentado. Não que pudesse cair na tentação, mas para nos ensinar como devemos vencê-Ia: pela força da Palavra de Deus. À tentação da comida, quando o demônio lhe insinuava que transformasse as pedras em pães, Ele respondeu: “Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”. Que era como está escrito no Deuteronômio (Dt 8,3). Quando o demônio o tentou pela vaidade e a exibição, convidando-o a atirar-se do pináculo do Templo, pois Deus mandaria seus anjos para ampará-Io, a fim de que nada de mal lhe acontecesse, Ele responde com uma palavra ainda do Deuteronômio: “Não tentarás ao Senhor teu Deus” (Ibid. 6, 16). E, quando finalmente lhe oferece todos os reinos da terra em troca de um ato de adoração – a tentação da ambição, ainda hoje tão presente no mundo, transformando tantos homens em adoradores do demônio – é ainda no mesmo livro da Escritura que Jesus vai buscar sua resposta: “Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a Ele servirás” (Ibid. 6, 13). E é uma beleza o final do episódio, quando o demônio, vencido, se retira, e os anjos de Deus vêm servir a Jesus.

Nós também teremos as forças do céu a nosso serviço, se soubermos, na escola de Jesus, vencer as tentações. Elas estão aí presentes em toda parte e a cada momento de nossa vida. Como lá no deserto, onde Jesus passou seus quarenta dias de jejum e oração, temos que saber santificar nossa vida pela oração e pela mortificação, para que nunca nos falte a força de Deus.

É muito nítida, na seqüência das tentações a que o demônio submeteu Jesus, a semelhança com as tentações a que somos submetidos na terra. Somos também nós submetidos à tentação dos prazeres materiais, à tentação da ambição, e à tentação do orgulho. Já foi observado por mais de um escritor de coisas do espírito que seria impossível encontrar um resumo mais inteligente das tentações que tentam o homem, do que essas tentações que Jesus enfrentou no deserto. São, afinal, aquelas três paixões desregradas que São João enumera em sua primeira carta: concupiscência da carne, concupiscência dos olhos, e soberba da vida; ou, em outras palavras, sensualidade, orgulho, sede do dinheiro (1 Jo, 2,16).

Devemos estar preparados para resistir aos ataques do adversário- e a Quaresma está aí para nos lembrar isso- através da oração, do jejum e da penitência em geral, da força da Palavra de Deus. Nessas forças do céu, de que nos devemos valer sempre, teremos a energia necessária para a luta. Vale bem aqui a famosa palavra do grande Doutor da Igreja, Santo Afonso de Ligório: “Quem reza, se salva; quem não reza, se condena”. Além do mais, sabendo que Deus é fiel, e não permite que sejamos tentados acima de nossas forças. Pelo contrário, faz surgir da própria tentação algum bom resultado ( cfr 1 Cr 10,13).

Leituras do I Domingo da Quaresma -Ano A:

1a) Gên 2,7-9.3,1-7

2a) Rom 5,12-19 – Rom 5, 12-17.19

3a) Mt 4,1-11